Toda a mulher sabe que o corpo passa por mudanças importantes durante o período da menstruação. Tanto antes, no período de ovulação conhecido como tensão pré-menstrual (TPM), como após. São alterações cíclicas que ocorrem mensalmente, trazendo sintomas físicos e psicológicos. Em alguns casos, os sintomas são tão graves que afetam o trabalho, as atividades sociais e até relacionamentos. Para entender o que acontece no cérebro da mulher, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, realizaram um estudo para entender a relação entre a menstruação e o cérebro.
O estudo comprovou o que toda a mulher já sabia. Essas alterações influenciam diretamente no sistema nervoso central, responsável por mudanças importantes no comportamento das mulheres. O ginecologista Rui Ferriani, professor de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP USP) e especialista em reprodução humana, explica a importância do estudo e diz que a alteração ocorre também em homens, mas de forma menos evidente.
“Então os efeitos de todos os esteroides do sistema nervoso central são de longa data conhecidos Esse trabalho mostra que isso se reflete em alterações portanto anatômicas, com alteração das zonas cinzenta ou da zona clara e é nada mais do que um reflexo dessa atividade neuronal cíclica característica, principalmente das mulheres. Os homens não têm esse aspecto cíclico exatamente porque eles não têm uma ovulação mensal, que é o que caracteriza essa simplicidade. A mulher tem uma ovulação antes da ovulação, tem nível estrogênico, depois da ovulação tem mais nível de progesterona e, portanto, isso se reflete na secreção vaginal, por exemplo, um muco que parece clara de ovo é um sinal de alto nível estrogênico e se reflete na espessura do endométrio, que é a parte interna do útero, para no final das contas fazer um mecanismo fisiológico de recepção de um embrião, que é a consequência natural de uma ovulação, ter uma gravidez. Essas são as características cíclicas das mulheres”.
Mudanças anatômicas
Pela primeira vez na história, os cientistas conseguiram encontrar mudanças na anatomia, ou melhor, no volume do cérebro. Com o uso de equipamentos de alta tecnologia, eles foram mais além do que apenas o diagnóstico de doenças do sistema nervoso central. “O cérebro é uma caixa preta e existem poucos instrumentos de avaliação, diferente de outros órgãos”. Normalmente os médicos usam as imagens para identificar doenças invasivas como tumores, por exemplo, ao invés de questões funcionais”, explica o especialista. É importante explicar que isso acontece porque o corpo se divide em duas fases cíclicas: estrogênica e progesterônica.
Apesar do estudo ter ocorrido na fase fértil da mulher, o modelo pode ser aplicado também na fase da menopausa, durante a qual a menstruação já não existe mais, porém, o cérebro continua tendo mudanças. O especialista em reprodução humana da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto diz que a ciência consegue encontrar formas de tratar a mulher para evitar esses períodos cíclicos quando o corpo passa por alterações importantes que refletem no bem estar do dia a dia.
**Por Jornal da USP