SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os jornais de Porto Alegre e de outras regiões do Rio Grande do Sul atingidas pelas enchentes vivem um duplo desafio: seguir produzindo e distribuindo informações enquanto enfrentam, eles mesmos, as consequências das enchentes.
O desafio se tornou mais urgente e necessário por causa da enxurrada de informações falsas que estão circulando. Muitas delas por descuido na produção e outras tantas com o objetivo de prejudicar e perseguir inimigos políticos, como explica o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech. Ele próprio é integrante do conselho editorial da RBS, grupo responsável pela publicação dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho.
O Grupo RBS, cuja sede fica a cerca de um quilômetro do lago Guaíba, precisou fazer uma mudança temporária das redações dos jornais e da Rádio Gaúcha para o morro Santa Tereza, onde fica a antena da TV do grupo. Apesar dos desafios, o jornal impresso não circulou na última segunda-feira. Foi a primeira vez que a circulação foi interrompida em 60 anos de história do diário. Aniversário cuja comemoração estava marcada para o último sábado e precisou ser adiada por conta das enchentes.
A impressão foi retomada no dia seguinte, graças ao apoio dado pelo Grupo Sinos, de Novo Hamburgo, que cedeu seu parque gráfico para rodar alguns milhares de exemplares do jornal da capital gaúcha. Rech conta que a distribuição também tem sido um desafio para os jornais gaúchos, afinal, as estradas pavimentadas do estado estão com 150 pontos de bloqueio.
O centenário Correio do Povo, do grupo Record, também teve sua redação e seu parque gráfico atingidos pelas enchentes. Desde sábado, o veículo deixou de circular sua versão impressa, mantendo apenas as versões diárias digitais -com conteúdos abertos ao público.
Além dos prejuízos causados para a produção e circulação dos veículos, as empresas depois terão de investir na recuperação de suas gráficas, com máquinas de alta tecnologia e estoques que ficaram dias debaixo d’água.
Entre os principais jornais de Porto Alegre, o único que não teve sua sede atingida foi o Jornal do Comércio. “Todos os jornais foram atingidos direta ou indiretamente pela enchente, porque os profissionais que estão trabalhando direto também foram atingidos e têm familiares que estão sofrendo os impactos do problema”, diz Rech.
Mesmo com a alta produção de noticiário distribuído pela internet, o acesso a estas informações também está difícil nas áreas atingidas pelas cheias. “Muitos lugares da região metropolitana de Porto Alegre estão sem energia elétrica e há antenas de transmissão de sinal de internet com problemas também”, afirma. “A situação é de uma área conflagrada”.
LEONARDO FUHRMANN / Folhapress