Dólar fecha em alta e Bolsa cai, apesar de IPCA-15 abaixo das expectativas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,29% nesta quarta-feira (25), a R$ 5,476, no embalo dos números de inflação medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15).

Considerado uma prévia da inflação oficial do país, o indicador surpreendeu analistas ao perder força e registrar um avanço de 0,13% em setembro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Apesar de positivo, o dado não foi capaz de conter os efeitos do avanço global da moeda, que recuperou parte das fortes perdas na véspera em relação a uma série de divisas.

Já a Bolsa perdeu 0,43%, aos 131.586 pontos, mesmo com o avanço das pesos-pesados Vale e Petrobras.

A alta do IPCA-15 ficou bem abaixo da mediana das expectativas do mercado financeiro, que era de 0,28%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das projeções ia de 0,18% a 0,33%.

Com o resultado de setembro, o índice desacelerou a 4,12% no acumulado de 12 meses. O patamar era de 4,35% na divulgação anterior.

O dado, no entanto, não foi o suficiente para afastar as perspectivas de alta de juros pelo BC (Banco Central) nas próximas reuniões.

“O número foi benigno, abaixo inclusive do piso das expectativas da Bloomberg, mas os fundamentos da inflação não apontam para uma desinflação contínua, especialmente nas leituras de serviços e indústria”, diz Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos.

“O mercado de trabalho segue aquecido, os salários seguem em alta, e esses fundamentos não revertem as previsões para os juros. Seguimos projetando um BC cauteloso, à espera de mais dados.”

Os operadores financeiros dão como certo que a taxa Selic voltará a subir nos próximos encontros do Copom (Comitê de Política Monetária). Nas curvas de juros futuros, as chances de um novo aperto de 0,50 ponto percentual no encontro de novembro são de 77%, enquanto os 23% restantes vêem alta de 0,25 ponto.

Para o câmbio, a falta de definições pesou em um ambiente já pouco favorável ao risco nos mercados globais.

“Será que a queda da inflação foi sazonal ou vai se sustentar nas próximas divulgações? Com o aumento da Selic e os dados abaixo do esperado, o BC vai ter coragem de subir as taxas de novo? Essas dúvidas fizeram o dólar subir hoje”, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.

Já no Ibovespa, mais da metade da carteira fechou no negativo diante da perspectiva de juros mais altos. Nem os avanços da Vale (0,44%) e da Petrobras (0,73%), as empresas de maior peso no índice, contiveram as perdas das demais companhias.

Ao decidir elevar a Selic de forma unânime em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, o Copom optou por não dar indicações sobre os próximos passos da política monetária do país diante de um conjunto de incertezas no horizonte.

Na ata da reunião de quarta-feira passada, divulgada ontem o colegiado disse considerar que o aumento das projeções de inflação de médio prazo tornou o cenário à frente mais desafiador e que o forte ritmo de crescimento da atividade econômica torna mais difícil o processo de convergência da inflação à meta.

O alvo perseguido pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Na análise da equipe macroeconômica do Itaú, a ata do comitê “deixou clara a mensagem de coesão entre os membros em relação ao início gradual do ciclo de aperto e outros aspectos do cenário” e que a meta de inflação em 3% será integralmente perseguida, “indicando que não há inclinação para utilizar as bandas de tolerância”.

A comunicação clara da ata, na terça-feira, coroou um ambiente já muito favorável ao risco, instalado pelo maior pacote de estímulos econômicos anunciado na China desde a pandemia.

O governo chinês anunciou um conjunto de medidas para tirar a economia do atual estado deflacionário e voltar a atingir a meta de crescimento.

O presidente do Banco Central do país, Pan Gongsheng, disse que irá reduzir a quantia de dinheiro que os bancos mantêm de reserva, cortar algumas taxas de juros para injetar mais liquidez na economia e abaixar os custos de empréstimos. Também foram anunciadas medidas voltadas para impulsionar a compra de ações e o setor imobiliário.

Ainda que o governo não tenha divulgado quando as medidas vão entrar em vigor, o movimento marca a mais recente tentativa das autoridades de restaurar a confiança na segunda maior economia do mundo, depois que uma série de dados decepcionantes levantou preocupações sobre uma desaceleração estrutural prolongada.

O pacote provocou uma melhora na percepção global sobre o consumo na China, maior importador de matérias-primas do planeta, impulsionando ativos em diversos mercados, incluindo ações e moedas de países com relações comerciais profundas com o gigante asiático -caso do Brasil e outros emergentes exportadores de commodities.

“O pacote da China surpreendeu todo o mercado. O país é um grande consumidor de commodities, e o Brasil tem, entre os principais produtos exportados, justamente as commodities, como minério de ferro e petróleo”, diz Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

O anúncio chinês derrubou as cotações do dólar ao redor do mundo na terça, e a moeda recuperou parte das perdas neste pregão. No índice DXY, que mede a força da divisa americana em relação a uma cesta de outras moedas fortes, a valorização foi de 0,51%, a 100,97.

Redação / Folhapress

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