SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,57%, a R$ 5,58, nesta segunda-feira (14), em meio a informações de que o governo federal prepara medidas de contenção de gastos após o segundo turno das eleições municipais.
Já a Bolsa terminou em alta de 0,78%, aos 131.005 pontos.
Os investidores repercutiram uma proposta de corte de despesas, ainda em processo de elaboração no Ministério da Fazenda. A notícia foi dada primeiro pela agência Reuters, com duas fontes internas com conhecimento no assunto.
Uma das pessoas ouvidas pela reportagem disse que o governo prepara um primeiro pacote visando gastos específicos e pontuais, seguido por outro com propostas mais estruturais e “mais duras”.
Ela pontuou que, embora o tema da isenção do IR tenha ganhado os holofotes na semana passada, a equipe econômica vê com mais urgência o encaminhamento de iniciativas de controle de despesas.
Uma segunda fonte da pasta afirmou que a contenção de gastos obrigatórios virá para dar sustentação “por dentro” ao arcabouço fiscal, abrindo margem para as despesas discricionárias, que incluem investimentos. Como as obrigatórias avançam a um ritmo acelerado, elas acabam roubando espaço de outros gastos sob o teto de despesas imposto pelo arcabouço.
As medidas devem ser apresentadas depois do segundo turno das eleições, marcado para 27 de outubro
Segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, o mercado aguardava com expectativa alguma sinalização nesse sentido diante de um contexto “desafiador” para a percepção fiscal.
“Hoje tivemos um bom desempenho nos mercados americano, europeu e asiático. Isso se refletiu de forma muito positiva nos ativos brasileiros. Um dos gatilhos que impulsionou essa valorização foi justamente a notícia de possíveis medidas para contenção de gastos”, afirma.
Para Spiess, muita coisa pode ocorrer até a eleição. “Se as medidas do governo federal serão ou não de fato materializadas, só os próximos dias dirão”.
Ainda hoje no cenário doméstico, os investidores também repercutiram os últimos dados do IBC-Br, considerado uma “prévia” do PIB (Produto Interno Bruto).
A atividade econômica brasileira superou as expectativas e voltou a crescer em agosto, com alta de 0,2% na comparação com o mês anterior. Em relação ao mesmo período de 2023, subiu 3,1%.
“O IBC-Br veio forte e acima da previsão do mercado. Isso tem um impacto direto nas decisões de política monetária”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Em evento nesta segunda, Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC (Banco Central) e futuro presidente da autarquia a partir do próximo ano, afirmou que os dados de crescimento da economia são “tema central” para a autoridade monetária.
Segundo ele, as previsões de PIB mais altas podem estar entre as razões para a desancoragem das expectativas de inflação, já que o crescimento da atividade tende a gerar pressões inflacionárias.
Em primeira fala pública após ter tido a indicação para a presidência do BC aprovada pelo Senado, Galípolo reiterou que cabe à autarquia perseguir o centro da meta de inflação de 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
“A taxa de juros básica aqui está se movendo basicamente observando o que está acontecendo do ponto de vista da atividade e olhando para as projeções da inflação dentro do horizonte relevante”, disse ele. A Selic, atualmente em 10,75% ao ano, é o principal instrumento do BC para controle dos preços.
Galípolo ainda reafirmou que cabe à autoridade colocar a taxa de juros em patamar restritivo suficiente pelo tempo necessário para levar a inflação à meta, sendo mais cauteloso na política monetária em meio a um ambiente com mercado de trabalho mais apertado.
“Dada a volatilidade, a gente está bastante dependente de dados e mais reativo”, disse.
Ainda durante o evento, Galípolo disse que o câmbio no Brasil é flutuante e que o Banco Central só interfere quando há situações extremas, como falta de dinheiro disponível (liquidez) no mercado ou mudanças bruscas nos preços das moedas, sem tentar definir um valor específico para o real. Ele afirmou que essa política não mudou.
Segundo Bergallo, não houve “surpresas” na fala de Galípolo. “Ele destacou uma posição conservadora do Banco Central. É nesse ponto que o mercado viu algum indício sobre as próximas decisões do Copom”, afirmou.
O possível aumento na Selic é, em tese, positivo para o real, uma vez que amplia o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, em meio à expectativa de mais cortes na taxa pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) este ano.
No cenário externo, os investidores repercutiram a entrevista coletiva de autoridades chinesas no sábado (12), que anteciparam parte das medidas de incentivo à economia.
O ministro das Finanças, Lan Fo’an, tinha dito que a China irá emitir mais dívidas para impulsionar o mercado imobiliário, recapitalizar bancos e ajudar governos locais com dificuldades financeiras.
Ele, no entanto, deu poucos números sobre o montante de financiamento, ainda que tenha sugerido que o governo planeja mais medidas de estímulo para sustentar o crescimento econômico.
Os mercados aguardam sinais de que Pequim aumentará gastos fiscais para apoiar os planos de estímulo monetário, em meio a dúvidas persistentes sobre a força da segunda maior economia do mundo.
No domingo, dados de inflação ao consumidor abaixo do esperado pintaram mais claramente o cenário da China. O índice de preços subiu 0,4% em setembro em relação ao ano anterior, aquém das expectativas de 0,6% de analistas consultados pela Bloomberg. O número também indica uma desaceleração em relação aos 0,6% de agosto.
As leituras desinflacionárias mostram os efeitos da profunda crise imobiliária que afetou a demanda das famílias. É esse o setor que terá a preferência por estímulos mais substanciais, segundo Fo’an.
“Apesar das recentes medidas políticas anunciadas pelas autoridades chinesas para estimular a economia, os indicadores de atividade econômica devem permanecer moderados no curto prazo. É improvável que a confiança melhore significativamente até que o setor imobiliário se estabilize”, disseram analistas do BTG Pactual em relatório.
Redação / Folhapress