RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), inicia o ano em que busca a reeleição acenando com bandeiras da direita, apostando em dirigentes nacionais para ampliar sua aliança, mas evitando a nacionalização da campanha.
Paes busca evitar ter como principal aliado apenas o PT e tenta atrair siglas do centrão para aumentar seu tempo de TV e arco de alianças. A vaga de vice na chapa, cobiçada em razão da possível saída para a disputa do governo estadual em 2026, será decidida na última hora sob influência do cenário eleitoral.
Desde a definição do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), Paes tem buscado acenar ao eleitorado com bandeiras envolvendo segurança pública e ordem pública, ligadas à direita.
Sem um contexto claro, determinou publicamente no fim de novembro o retorno da internação involuntária de usuários de drogas.
“Não é mais admissível que diferentes áreas de nossa cidade fiquem com pessoas nas ruas que não aceitam qualquer tipo de acolhimento e que mesmo abordadas em diferentes oportunidades pelas equipes da prefeitura e autoridades policiais, acabem cometendo crimes”, escreveu o prefeito no X, antigo Twitter.
No último dia 15, criticou a decisão da Justiça que impediu a apreensão de menores de idade sem um delito flagrante ou ordem judicial durante a Operação Verão, de reforço do policiamento na orla da cidade.
O governador Cláudio Castro (PL-RJ) se queixou publicamente da medida e foi acompanhado por Paes.
“Esse é um trabalho preventivo em que a Secretaria de Ordem Pública e a Secretaria de Assistência Social, sob o comando dessa última, auxiliam as forças policiais na prevenção a crimes que ameaçam a sociedade. Trabalho em conjunto e responsável”, escreveu ele.
“Fica difícil cumprir com nossas obrigações sem que se possa agir. Resultado são as cenas que assustam a sociedade e cerceiam nosso direito de ir e vir. Vamos recorrer”, completou.
A escolha de Ramagem como pré-candidato bolsonarista no Rio de Janeiro também ameaçou as alianças políticas regionais que Paes vinha construindo ao longo de sua gestão.
O prefeito abriu espaço para a União Brasil na prefeitura a fim de aproximar o partido de seu projeto. A sigla, porém, deve mudar de comando no Rio de Janeiro para as mãos do presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, que deixou o PL.
Bacellar foi um dos convidados do almoço em que o Cláudio Castro cobrou fidelidade aos aliados em torno da pré-candidatura de Ramagem.
O presidente da Assembleia tem garantido que os filiados à União Brasil deixarão a estrutura da prefeitura após o Carnaval. A interlocutores tem dito almejar encontrar um nome próprio do partido para a disputa, mas não exclui o apoio ao escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Bacellar descarta, porém, um apoio a Paes. O deputado também almeja se candidatar a governador em 2026 e vê o prefeito como um potencial adversário.
O prefeito aposta na boa relação que tem com o vice-presidente nacional da União Brasil, Antonio Rueda, e o secretário-geral da sigla, ACM Neto, para garantir o partido formalmente em sua coligação, ainda que sem o apoio das lideranças locais.
Paes também se escora na boa relação com o presidente Lula para não ceder a vice para o PT. Dirigentes do Rio de Janeiro da sigla têm pressionado o prefeito a entregar a vaga a um membro do partido. Uma ala minoritária ameaça embarcar na pré-candidatura do deputado Tarcísio Motta (PSOL). O prefeito, porém, resiste para que sua candidatura não seja lida como do campo da esquerda.
A preocupação de Paes se deve ao eleitorado com perfil bolsonarista na cidade. A capital fluminense deu 52,7% dos votos válidos a Bolsonaro contra 47,3% a Lula no segundo turno da eleição em 2022.
O desejo do prefeito é colocar alguém de seu grupo político na vice, já que não descarta a possibilidade de deixar o cargo em 2026 para disputar o governo estadual.
O preferido é o deputado Pedro Paulo (PSD), mas também são opções os secretários Eduardo Caveliere, Daniel Soranz, Guilherme Schleder e Felipe Santa Cruz, e o presidente da Câmara Municipal, Carlo Caiado, todos também do PSD.
Contudo, Paes tem deixado o posto como última cartada para atrair uma sigla atualmente mais distante de seu projeto, caso o cenário eleitoral lhe pareça mais adverso.
Apesar da nacionalização da negociação, o prefeito não pretende replicar no Rio de Janeiro o embate ideológico nacional. Além de prejudicial, em razão da maioria bolsonarista do eleitorado, a intenção é que o pleito se torne um debate sobre a gestão municipal.
A aposta é a de que Ramagem ficará fragilizado em razão de sua inexperiência no Executivo e na política, em que estreou em 2022 ao se candidatar pela primeira vez.
O prefeito também usará como “espantalho eleitoral” a gestão rejeitada pelos cariocas de Marcelo Crivella (Republicanos), que também não tinha experiência no comando de uma cidade. A referência, porém, deverá ser sutil e indireta, já que o partido do ex-prefeito deve fazer parte de sua coligação.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress