Estatal turbinada por Nunes vira peça de pré-campanha de aliado em reduto petista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O maior programa de manutenção, reforma e construção de escolas da América Latina está alcançando resultados incríveis”, escreveu Taka Yamauchi, presidente da estatal paulistana SP Obras, em sua rede social, incluindo logo abaixo as hashtags #antipetista e #movimentodobem.

As duas menções do aliado do prefeito Ricardo Nunes (MDB) são uma referência a bandeiras de sua pré-campanha à Prefeitura de Diadema, onde disputará contra José de Filippi Jr, do PT.

Se o petista comanda uma cidade com orçamento de mais de R$ 2 bilhões, a estatal da Prefeitura de São Paulo também é dona de contratos bilionários –capitalizados politicamente por Taka– para obras como recuperação de pontes e reformas de escolas.

Segundo a prefeitura, a SP Obras tem R$ 7 bilhões entre investimentos já contratados, em processo de licitação e a serem realizados ao longo de todo o período da gestão. Entre os contratos estão dispensas de licitação para obras em escolas com indícios de cartas marcadas e concentração entre empresas de parentes, conforme a Folha de S.Paulo revelou –a gestão Nunes nega irregularidades.

À frente da estrutura da estatal recém-turbinada está o político que se apresenta nas redes como engenheiro, empresário, presidente da SP Obras, presidente do MDB de Diadema e pré-candidato a prefeito daquela cidade. Suas postagens na internet acabam misturando um pouco de cada faceta.

Em meio a conteúdo com críticas à gestão petista em Diadema e quadros como “cozinhando com Taka”, também surgem posts relativos a obras da Prefeitura de São Paulo. As imagens mostram o político em serviço, com direito ao clássico capacete usado em obras, e são temperadas com hashtags que remetem à pré-campanha em Diadema.

A gestão afirma que as redes de Taka “são administradas de forma independente, sem utilização de recursos públicos ou envolvimento de funcionários da empresa”.

Na diretoria da SP Obras estão mais dois quadros do MDB cotados para eleições no Legislativo da região do ABC, Diego Cabral e Bruno Gabriel de Mesquita.

Taka assumiu a empresa pública em 2023, após tentativas frustradas de virar prefeito de Diadema e deputado federal, a convite do prefeito.

“Eu e o Ricardo somos aliados de longa data. Estamos construindo uma aliança muito forte desde as eleições de 2018, junto com o presidente nacional do nosso partido [Baleia Rossi]. Fico feliz por assumir esse compromisso e ajudar na gestão do Ricardo na nossa capital”, disse ao jornal Diário do Grande ABC.

Naquela altura, a SP Obras vinha crescendo em importância na gestão de Nunes. Um dos fatos que ajudou a vitaminar a estatal foi o recebimento de verba bilionária para obras em escolas da cidade, em uma estratégia para atingir o percentual obrigatório de 25% no ano de 2021.

Na esteira da “contratação” da empresa pública pela prefeitura, houve um aumento de 5.700% nos pagamentos a empresas desde 2021.

Segundo dados da prefeitura, os valores de pagamentos feitos pela estatal passaram de R$ 9,5 milhões, em 2021, para R$ 546 milhões no ano passado -88% são para obras da educação.

Só os contratos firmados em 2023 somam R$ 1,4 bilhão. Embora tenha havido a proliferação de dispensas sob suspeita, o grosso do dinheiro se refere mesmo às concorrências tradicionais para obras em escolas e outras como de pontes e viadutos.

Parte das empresas vencedoras dos certames coincide com aquelas contratadas pela Siurb (Secretaria de Obras) em contratos emergenciais para obras de saneamento.

No âmbito da secretaria, o tema é investigado pelo Ministério Público por suspeita de conluio entre as empresas, revelado em reportagem do UOL. As empresas e a prefeitura negam ilegalidades.

A SP Obras afirma que não realiza contratações emergenciais, atendo-se às modalidades de licitação tradicional, dispensas e inexigibilidade.

A demanda para a realização de bilhões de reais em obras em escala inédita gerou necessidade de aumento da estrutura da SP Obras.

Isso incluiu maior gasto com comissionados e funcionários temporários. Entre o início de 2022 e fevereiro deste ano a folha de pagamento da empresa passou de 196 para 283 pessoas, segundo dados do portal da transparência –os comissionados aumentaram de 53 para 69.

O assunto gerou questionamentos internos na SP Obras sobre terceirização de funções que deveriam ser feitas por concursados.

Questionada sobre a mudança no perfil da empresa, a gestão Nunes afirmou que ela segue critérios técnicos “respaldada pela expertise de seu corpo técnico multidisciplinar e altamente qualificado”. “Essa medida confere maior agilidade e eficiência para o cumprimento do plano de metas da gestão”, afirmou, em nota.

Sob o comando de Taka, a SP Obras tem sido alvo de críticas da oposição, que já acusou a empresa, entre outros assuntos, por um suposto fracionamento ilegal de contratos, o que a estatal nega.

Já Nunes tem elogiado o aliado, que disputará a eleição em um terreno fértil para o PT. O partido domina a política em Diadema desde que Gilson Luiz Correia de Menezes assumiu o cargo, em 1983, tendo sido o primeiro prefeito eleito pelo partido. Desde então, só perdeu três eleições, sendo uma delas para o próprio Gilson, quando este estava no PSB.

ARTUR RODRIGUES / Folhapress

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