SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um homem entrou em confronto na noite de terça-feira (7) com manifestantes de um acampamento pró-Palestina na Universidade de São Paulo (USP) e foi expulso do local. Em imagens de um vídeo divulgado nas redes sociais pelo site judaico Pletz, ele troca empurrões com uma pessoa enquanto é acuado aos gritos por uma multidão. Depois, chuta um manifestante, que revida.
O episódio teria acontecido por volta das 18h30 no local em que o acampamento foi montado, o vão do prédio de Geografia e História, na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). A reportagem esteve no acampamento, mas chegou depois desse horário.
O Pletz identifica o homem expulso como um estudante judeu da USP chamado Daniel. A reportagem entrou em contato com o site para checar a veracidade da informação, mas não obteve retorno. A FFLCH também não esclareceu se a pessoa é ou não aluna da instituição. Encaminhou, no entanto, um comunicado em que diz que o “respeito a livre manifestação é uma característica” da USP e que, por isso, a diretoria “vê com normalidade o exercício do direito de livre manifestação de seus professores, estudantes e funcionários”.
O Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP), grupo à frente da mobilização, tampouco sabe a identidade do homem. A entidade nega que a expulsão tenha sido um ato antissemita, afirmando, em nota, que a “pessoa foi colocada para fora da atividade” depois de fazer “uma provocação intencional que foi repudiada por todos os presentes”.
André Kohan, 24, estudante de psicologia, participava de uma mesa de debate na hora em que ocorreu o incidente. Segundo ele que é membro do coletivo Vozes Judaicas por Libertação, formado por jovens judeus críticos à condução de Israel na guerra em Gaza, o homem tentou impedir que os integrantes da discussão fossem ouvidos pelos presentes, xingando-os e gritando “é mentira, é mentira”. O vídeo disponível nas redes não registra este momento.
Pouco depois, os manifestantes teriam reagido à abordagem do homem. Nas imagens, é possível ouvi-los entoando os gritos: “Justiça para a luta do povo palestino” e “O Estado de Israel é um Estado assassino”.
O protesto na USP é o primeiro em apoio à causa palestina e contra os ataques de Israel na Faixa de Gaza em uma grande instituição de ensino no Brasil. A mobilização, que deve continuar pelo menos até esta quinta-feira (9), ocorre após iniciativas semelhantes nos Estados Unidos se espalharem por vários países.
Organizações judaicas no Brasil manifestaram preocupação com o movimento. Questionada sobre o incidente da noite de terça, a entidade pró-Israel StandWithUs afirmou em nota ser “a favor da livre manifestação nos campi universitários”, mas ressaltou que “é preciso diferenciar pautas legítimas de atitudes ilegais”. “Cercear a presença de alunos judeus, israelenses ou apoiadores de Israel no campus é inconstitucional.”
CLARA BALBI / Folhapress