Usina nuclear de Angra 3 é prioridade nos planos do governo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O MME (Ministério de Minas e Energia) confirmou o interesse do governo em concluir as obras da usina nuclear de Angra 3. A medida foi anunciada nesta quarta-feira (3), durante audiência na CME (Comissão de Minas e Energia) na Câmara, que contou com a presença do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e de sua equipe.

O interesse em reforçar a pauta nuclear já foi sinalizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que abordou o tema com o chanceler russo, Serguei Lavrov, durante sua passagem por Brasília, em meados de abril deste ano.

Segundo o secretário de Energia Elétrica, Gentil Nogueira de Sa Junior, a obra está orçada em R$ 27, 8 bilhões, sendo que R$ 7,8 bilhões já foram investidos. A estruturação do investimento restante de R$ 20 bilhões, segundo o secretário, está sendo analisada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Pelo cronograma inicial, há condições de o projeto ser concluído em 2029.

Por se tratar de uma térmica, usinas nucleares também são usadas para poupar água nos reservatórios de hidrelétricas em períodos de poucas chuvas. No entanto, o valor de sua energia é elevado.

Pelas projeções, o custo da energia de Angra 3 ficaria na casa de R$ 720 por MWh (megawatt-hora) nos primeiros 16 anos, caindo para R$ 240 na sequência. A título de comparação, com os reservatórios das hidrelétricas cheios neste momento de chuvas abundantes, a energia no mercado à vista está em R$ 55.

“Angra 3 é um debate que ainda não foi concluído pelo governo”, afirmou o ministro Silveira, ao explicar a retomada do projeto. “Toda uma modelagem está sendo construída pelo BNDES, porque essa usina terá geração constante, e temos que alcançar o equilíbrio entre segurança energética e modicidade tarifária.”

O MME explicou que avalia o investimento porque a energia nuclear é uma alternativa dentro da transição energética, uma vez que não gera emissões de gases de efeito estufa. A pasta também entende que há benefícios adicionais, como a geração de emprego e renda no entorno do projeto, bem como na extração mineral para lhe dar suporte.

Atualmente, o Brasil é importador de urânio para manter as usinas de Angra 1 e 2. A retomada de Angra 3 demanda o aumento da extração das reservas brasileiras.

A principal fonte do recurso em análise há alguns anos é a reserva localizada em Santa Quitéria, no Ceará. O projeto, no entanto, enfrenta resistência das comunidades locais, especialmente de indígenas que estão na área de abrangência do projeto.

O secretário Vitor Saback, de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, dedicou parte da apresentação na comissão para destacar vantagens socioeconômicas para a comunidade de Santa Quitéria com a extração do urânio.

As obras de Angra 3 foram paralisadas após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, que levou à prisão executivos da Eletronuclear, responsável pelos projetos. O governo bolsonarista criou um grupo de trabalho para avaliar o projeto e a Eletronuclear retomou as obras no final do ano passado, iniciando a concretagem do edifício do reator. O ex-ministro Bento Albuquerque era um defensor de projetos na área nuclear e a iniciativa foi mantida após sua saída.

Em abril, no entanto, a construção chegou a ser embargada pela Prefeitura de Angra dos Reis. A administração municipal alegou que haviam sido feitas alterações no projeto original que feriam o acordo urbanístico.

O temor em relação aos riscos desse tipo de energia foi reforçado em março deste ano, após a Eletronuclear demorar 21 dias para informar o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) de que havia ocorrido um vazamento de material radioativo na usina de Angra 1.

O derramamento no mar aconteceu em setembro do ano passado e o atraso na notificação foi alvo de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal no Rio.

A Justiça Federal determinou que a companhia realizasse uma avaliação completa dos danos causados pelo acidente, que lançou água contaminada por radiação na baía de Itaorna, em Angra dos Reis (a cerca de 160 km da capital fluminense).

Na audiência na comissão nesta quarta, a pasta fez um extenso relato sobre seus projetos em diferentes áreas, incluindo transmissão, distribuição, óleo e gás, bem como mineração, e como a equipe inclui todos os investimentos na transição energética.

ALEXA SALOMÃO / Folhapress

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