SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Muita gente já se sentou embaixo do toldo verde e branco do imóvel de número 42 na praça Dom José Gaspar, na República, no centro de São Paulo, desde que um espaço chamado Paribar abriu as portas ali pela primeira vez, em 1949.
Aquele fim da década de 1940 daria início a uma trajetória de sete outras dezenas de anos –a segunda e última versão do local fechou as portas no ano passado– que se confundem com a história da própria cidade. Pela proximidade com a Biblioteca Mário de Andrade, por exemplo, o bar recebeu nomes como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Paulo Mendes da Rocha em suas pioneiras mesinhas na calçada.
Anos mais tarde, o Paribar atiçaria um movimento de abertura de casas nas proximidades do Copan retomando a reputação boêmia da área. Agora, no próximo dia 6, o espaço ganha vida novamente, dessa vez chamado Gaspar Bar & Praça –o toldo ficou no passado. A intenção é escrever novas histórias a partir do local que inspirou seu nome.
Comandado por Felipe Giacon, João Branco e Gilberto Malva Filho, o novo bar nasceu de uma antiga vontade de criar um ponto de encontro. E também da ideia de retomar a agitação que a área viu em outros tempos para transformá-la novamente em um polo criativo e cultural, movimento que já vem acontecendo na vizinha Galeria Metrópole.
“Por muito tempo a gente procurou um espaço pelo centros, e um dia vimos a notícia triste que o Paribar iria fechar. Na hora falamos ‘putz, é isso’. Tem dez anos que a gente frequenta esse lugar, somos apaixonados por ele e é exatamente o tipo de espaço que a gente queria para o nosso projeto”, diz Giacon. “E aí vimos que tínhamos um desafio grande de criar alguma coisa nova.”
Em conversas com amigos, a trinca de sócios entendeu que o trunfo daquele espaço era a praça Dom José Gaspar em si, e decidiram tratá-la como protagonista. A partir dessa ideia vieram o nome, o projeto do ambiente, o cardápio e a programação musical.
“Espaços abertos em São Paulo são muito ricos porque não são comuns e não poderíamos perder isso”, diz Giacon. “Fizemos algumas mudanças arquitetônicas para que o espaço convivesse mais com o exterior. Trouxemos o [balcão do] bar para a entrada e montamos atrás dele uma parede que reflete a praça, como se fossem uma única coisa.”
Outra aposta do Gaspar, os dez coquetéis autorais foram pensados por Adriana Pino, que assina as receitas do bar Flora, nos Jardins. “Usamos frutas encontradas em praças e elementos como o manjericão. Os próprios nomes são pequenas brincadeiras com coisas que aconteceram na praça e em seu entorno”, diz o sócio.
Exemplos da carta são o Bicudo, feito com vodca, néctar de cambuci, limão e manjericão, vendido a R$ 34, e o Comprido (R$ 30), com cachaça, calda de amora e xarope de mel com canela e limão.
O ex-Casa Híbrida Benício Freitas, que comanda o balcão do bar, ainda incrementa o cardápio com clássicos como Fitzgerald (R$ 37). A carta ainda oferece opções mais rápidas, como gim-tônica, Aperol spritz e negroni, que sairão de uma “bica de drinques”.
Para a parte gastronômica, a chef Francine Orlovicin, que já passou por casas como o Fasano e o Drosophyla, fez um misto de opções para se comer sentado, como o curry de frango apimentado (R$ 42), e comer em pé, caso dos bolinhos de cupim com queijo Canastra (R$ 33) –mais uma estratégia para incentivar a circulação dos clientes pela praça. O cardápio ainda inclui geladinhos de frutas, que custarão R$ 8, e opções de brunch.
Para resgatar o espírito do antigo espaço, o Gaspar se propõe a levar música para a praça com uma programação que pode ir do chorinho à eletrônica. A curadoria de DJs ficará a cargo de Yuri Zero e Millos Kaiser, um dos donos do Caracol e criador da Selvagem –festa que teve sua primeira edição no Paribar, em 2012.
A cabine de onde sairão os sets foi apelidada de coreto –local que costuma concentrar o som das praças– e, abaixo dela, os sócios vão reativar um salão que chegou a funcionar por um período no então Paribar como o speakeasy Downtown. “A gente brincou que debaixo do coreto podemos fazer qualquer coisa”, afirma Giacon. “É um espaço coringa, que vamos usar para festas, aniversários, o que for.”
O Gaspar vai operar de quarta a domingo. Durante a semana funciona mais no esquema barzinho, com mesinhas. Na sexta, a ideia é trazer DJs e, no sábado, durante o almoço, os sócios querem que seja mais tranquilo, com audições de piano ou chorinho. “Mais tarde, a ideia é tirar algumas mesas e fazer uma pistinha com DJs até fechar. E aí, em alguns domingos, a nossa ideia é fazer festa o dia inteiro, o que já era uma tradição da praça”, diz o sócio João Branco.
A diversidade foi uma preocupação dos sócios para a área musical e na montagem do bar. “A gente quer que a curadoria musical tenha mulheres, pessoas pretas e outros nomes que não têm espaço para tocar em lugares do tamanho do Gaspar”, diz Giacon.
Outro ponto que eles dizem ter discutido foi a insegurança na região central da cidade –um dos motivos pelo qual o antigo bar fechou as portas e a região viu seu movimento reduzir nos últimos anos.
Giacon diz que há uma articulação de espaços do centro para manter o diálogo com os órgãos públicos sobre segurança e ações como o aumento da iluminação.
Mais do que isso, a relação com locais como a própria Galeria Metrópole, a Mário de Andrade e o Cineclube Cortina fortalece o movimento de deixar a região ativa novamente.
“A cidade inteira está perigosa, mas acreditamos que ocupar os espaços também é uma forma de deixá-los mais seguros”, diz o sócio.
GASPAR BAR & PRAÇA
Quando: Qua. e qui., das 17h às 24h. Sex., das 17h às 2h. Sáb., das 12h às 2h. Dom., das 12h às 20h
Onde: pça. Dom José Gaspar, 42, República, região central, Instagram @gaspar.sp
LAURA LEWER / Folhapress