CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A equipe do filme “A Flor do Buriti”, em competição na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, protestou contra o marco temporal no tapete vermelho do evento na tarde desta quarta-feira. “O futuro das terras indígenas no Brasil está sob ameaça, não ao marco temporal”, dizia a faixa levantada por atores do filme, como Francisco Hyjnõ e Ilda Patpro, do povo krahô, e os diretores Renée Nader Messora e João Salaviza.
O marco temporal é uma tese não prevista na Constituição e que, na prática, trava demarcações. Cria-se um novo critério: os indígenas que não estivessem em suas terras na data da promulgação da Constituição de 1988 não teriam direito de reivindicar a demarcação da área –o que ignoraria o histórico de expulsões e violência contra os diferentes povos.
A tese tem apoio de ruralistas e é rechaçado por indígenas. A falta de conclusão no julgamento do STF sobre o caso aumenta a tensão e a possibilidade de conflitos.
“A Flor do Buriti” estreou no festival nesta terça-feira. O filme encara as consequências do bolsonarismo nas vidas dos indígenas krahô, em Tocantins, conciliando o registro de uma aldeia e discursos políticos diretos, com Sônia Guajajara, hoje ministra dos Povos Indígenas, culminando nos protestos de diversos povos em Brasília, em abril de 2022.
Ao explorar as fronteiras entre documentário e encenação, o longa avalia a linha que separa os protagonistas dos “cupe”, os não indígenas.
Redação / Folhapress