Salão do Móvel de Milão abusa de materiais orgânicos na busca pelo essencial

MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Após um período de ensaios, a relevância do processo sobre a forma parece ter extrapolado o universo dos designers independentes e instituições de ensino para finalmente ocupar o centro do discurso de marcas presentes no Salão do Móvel de Milão. Com cerca de 2.000 expositores, a feira é a maior e mais importante do segmento.

Se antes eram iniciativas isoladas ou embrionárias, com certo abuso da palavra sustentabilidade, a preocupação com o uso de recursos ganhou importância. Além da emergência climática, que força a transição para materiais renováveis, a Europa passou os últimos meses tendo de contornar uma crise energética, agravada pela guerra na Ucrânia, a escassez do gás russo e os altos preços.

Na Artemide, grande fabricante de iluminação da Itália, o movimento é simbolizado pela nova coleção, em que a busca pelo essencial foi descrita como prioridade.

Nas palavras do designer industrial do escritório Foster+Partners, as linhas finas da coleção de luminárias Ixa foram uma solução para consumir menos material e menos energia na produção.

Em estandes como Kartell e Arper, o uso de plástico reciclado, como no vaso Okra, de Patricia Urquiola, e na cadeira Aava, aparecia como destaque. Na Magis, a Air-Chair, de Jasper Morrison, foi reapresentada em versão realizada com plástico pós-consumo, incluindo embalagens de alimentação.

Outras soluções, como a possibilidade de modulação contínua de sofás e estantes, integram o discurso de que, assim, os ambientes podem mudar ao longo do tempo, acompanhando as necessidades.

Se for preciso um sofá menor ou maior ou mudá-lo de lugar, basta eliminar ou acrescentar uma peça, como na linha Ralik, de Ichiro Iwasaki para a Arper.

Na área dedicada aos jovens designers, chamada de Salone Satellite, a experimentação aparece com força. O projeto vencedor deste ano é o Tatami ReFab, do grupo japonês Honoka, que desenvolveu um material feito a partir da palha de arroz de tatames descartados, misturado com plástico biodegradável. Com ele, mesas, luminárias e objetos foram realizados com impressão 3D.

A coleção Pulp Mold, do japonês Yugo Fukasawa, usa papel reciclado para embalagens em banco e estantes. A venezuelana María-Elena Pombo, por sua vez, mostrou sua pesquisa com sementes descartadas de abacate para o desenvolvimento de tijolos.

MICHELE OLIVEIRA / Folhapress

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