RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal afirma ter indícios de que o ex-vereador Marcello Siciliano, citado nas investigações do assassinato de Marielle Franco (PSOL), foi o responsável por concretizar o pedido de coronel Mauro Cid de inserir dados fraudulentos no cartão de vacinação de sua mulher.
A suspeita parte de diálogos entre o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) com o advogado e ex-militar Ailton Barros, apontado como o responsável por intermediar o contato com Siciliano.
Cid e Barros foram presos nesta quarta-feira (3) na Operação Venire, que investiga a inserção de dados falsos sobre vacinação da Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. Siciliano foi alvo de busca e apreensão.
Ailton Barros foi candidato a deputado estadual pelo PL-RJ e se apresentava como “01 de Bolsonaro”. Ele sempre tinha acesso ao ex-presidente em eventos no Rio de Janeiro, tendo inclusive participado de uma live do então presidente, em julho de 2022.
De acordo com as mensagens apresentadas na representação da PF, Barros afirmou a Cid em 30 de novembro de 2021 ter aberto três frentes para concluir “aquela missão”.
“Porque realmente o negócio é pica e ninguém pode ficar exposto, não é, particularmente, particularmente, quem você sabe, né? Não pode ficar. Mais tá caminhando bem”, afirmou Barros em áudio, segundo a PF.
Ao sinalizar que conseguiu um caminho para, na análise da polícia, fraudar o cartão de vacinação da mulher do coronel, Barros afirma a Cid que o responsável por auxiliá-lo é o ex-vereador Marcello Siciliano.
“Ele é um político, né, vereador aqui do Rio de Janeiro, sabe como resolve, né? Ele é a minha opção mais forte de resolver essa questão da, do, da, da nossa amiga, entendeu? E ele não resolveu, o irmão… Aí fodeu. Mas, eu acredito piamente que ele vai dar bingo para a gente.”
Siciliano foi citado pelo policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, como o mandate do assassinato de Marielle em ação que também levou à morte de Anderson Gomes, motorista da vereadora.
O depoimento do PM, porém, foi posteriormente apontado pela PF como uma trama para atrapalhar a apuração do caso. Contudo, desde então o nome do ex-vereador permanece no radar dos investigadores.
Ao apontar Siciliano como o responsável pela solução do pedido, Barros pede para que Cid viabilize um encontro entre o ex-vereador e o cônsul norte-americano no Rio de Janeiro.
Segundo o advogado afirma na mensagem usada pela PF, Siciliano vem encontrando dificuldades em renovar seu visto norte-americano em razão da menção ao seu nome no caso Marielle.
Cid pede para que o militar reformado lhe envie o contato de Siciliano e responde: “Deixa comigo coronel. Eu vou dar, Vou dar uma olhada e tentar resolver isso aí.”
Barros responde: “Te passo. Mas é bom que já vai botar pressão para resolver o meu problema. Eu resolvo dele, ele resolve o meu.”
Procuradas, a Embaixada dos Estados Unidos e o Consulado no Rio de Janeiro não responderam se houve algum contato de Cid para atender a Siciliano.
Na conversa, Barros afirma ainda saber quem mandou matar a vereadora.
A representação da PF não detalha em que momento Barros foi acionado por Cid para supostamente fraudar o cartão de vacinação de sua mulher. Três dias antes, o advogado esteve em evento de Bolsonaro na Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress