BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Com quase 300 requerimentos na pauta, a CPI do 8 de janeiro se reúne nesta terça-feira (13) de olho em dois dos principais auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): o ex-ministro Anderson Torres e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal durante a invasão à sede dos três Poderes e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Torres já era alvo dado como certo, inclusive pela oposição, e deve ser um dos primeiros a ser convocado.
Já a convocação de Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, ganhou força depois que a Polícia Federal localizou no celular dele conversas e estudos para a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que permite ao presidente da República convocar as Forças Armadas.
Aliados do governo querem reconstituir o que se passou no entorno de Bolsonaro desde a vitória de Lula (PT), em outubro do ano passado, para comprovar a tese de que estava em curso uma tentativa de golpe de Estado.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG), um dos principais integrantes da tropa de choque do petista na comissão, afirma que as descobertas da PF têm colocado o tenente-coronel no centro das investigações.
“Nós não podemos é começar de trás para frente, que é o que eles [oposicionistas] querem. A tese nossa é outra. A nossa tese é de que houve uma tentativa de golpe. Bolsonaro é investigado, Flávio Dino [ministro da Justiça] não é”, afirma Correia sobre o atual ministro da Justiça.
Mauro Cid é alvo de sete pedidos de convocação ou convite pela CPI do 8 de janeiro. Ele foi convocado pela CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal no mês passado, mas ainda não foi ouvido. Dino, por outro lado, deve ser convidado a prestar depoimento condição em que não é obrigado a comparecer.
A convocação de Cid e o convite à Dino contam com o apoio do presidente da CPI, deputado federal Arthur Maia (União Brasil-BA). Desde semana passada, o deputado também tem defendido a convocação do coronel da Polícia Militar Jorge Naime.
Naime era chefe do Departamento Operacional da PM em 8 de janeiro, mas havia tirado licença. Ele está preso desde fevereiro, quando foi deflagrada a quinta fase da Operação Lesa Pátria.
O presidente da CPI também quer priorizar o depoimento do então diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha e do ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Gonçalves Dias.
A convocação dos dois é parte da estratégia da oposição de apontar falhas do governo Lula e reforçar que o presidente e seus auxiliares, avisados da tentativa de invasão, poderiam ter evitado a depredação das sedes dos Três Poderes.
A existência de alertas da Abin foram revelados pela Folha em janeiro. Um compilado de informes disparados pela agência entre 2 e 8 de janeiro pelo WhatsApp foi publicado em abril.
“[Tem] figuras centrais que eu acho que tem que ser convocadas logo no começo. É o caso do GDias [como o ex-ministro do GSI é chamado], do Anderson [Torres]. O próprio Ministro Flávio Dino. Não é nem ser convocado, é ser convidado para vir aqui prestar esclarecimento”, disse Maia à Folha.
“Os generais que estavam aqui no dia. Os militares de uma forma geral que estavam aqui na Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. Essas pessoas têm que ser ouvidas. O chefe da Abin [Saulo Moura da Cunha] tem que ser ouvido.”
Além de ouvir Torres e Cid, a relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), pretende seguir parte do caminho trilhado pela CPI da Câmara do DF e convocar a coronel Cíntia Queiroz e o delegado Fernando de Souza Oliveira.
Subsecretária de Operações Integradas do Distrito Federal em 8 de janeiro, a coronel prestou depoimento à CPI local em abril. Na ocasião, ela disse que a Polícia Militar não seguiu o planejamento que havia sido definido e afirmou que o Exército impediu a retirada de manifestantes em frente ao Quartel-General.
Já Fernando de Souza Oliveira era o número dois da Secretaria de Segurança Pública do DF. Ele chefiava a pasta interinamente em 8 de janeiro, já que o titular, Anderson Torres, tinha viajado de férias para os Estados Unidos.
Em depoimento à CPI da Câmara Legislativa no início de março, o delegado disse que houve “erro de execução” da Polícia Militar e “certa passividade de alguns”.
Oliveira afirmou ainda que nem sequer conhecia pessoalmente o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e que estava se reportando a Torres no dia 8 porque só assumiria o cargo de forma interina a partir do dia seguinte.
THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress