Osesp mira em diversidade sonora para 2025, com mais franceses e Tchaikóvski

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Nós somos músicos escutando uns aos outros, trabalhando para essa beleza imperceptível, que somente acontece na experiência da música ao vivo. Eu não sou apenas um grande defensor, mas um promotor da música ao vivo”. Assim o maestro suíço Thierry Fischer define, em entrevista à Folha, seu trabalho como regente titular e diretor musical da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, que anuncia nesta semana a temporada 2025.

A temporada de assinaturas –que se mantém em 27 semanas– começará em 13 de março, com Fischer conduzindo o “Crucifixus”, obra coral do compositor barroco Antonio Lotti, as “Quatro Últimas Canções” de Richard Strauss (com a soprano sul-africana Masabane Cecilia Rangwanasha), e a “Sinfonia nº 5” de Gustav Mahler.

Na última década a Osesp realizou dois ciclos mahlerianos completos (um com Marin Alsop e outro distribuído entre regentes convidados). O ciclo de Fischer está sendo gravado: já apresentou as três primeiras sinfonias, e no próximo ano será a vez da “Quinta” e da “Sexta”.

Ele defende fortemente a realização de ciclos dedicados a autores específicos. “Minha convicção é que os ciclos colocam tanto orquestra como público em um caminho de desenvolvimento mútuo”.

Nesse sentido, a temporada 2025 dedicará uma atenção especial a Tchaikóvski, e Fischer mesmo regerá as seis sinfonias e a “Abertura Romeu e Julieta” do mestre russo. “A orquestra desperta curiosidade no público para ouvir as diferenças entre cada uma das sinfonias, e o som da orquestra se desenvolve através do ciclo. Isso é parte de um conceito muito importante para mim, que é o do crescimento permanente”.

Fischer também regerá estreias de obras encomendadas a Andrew Norman e Michaël Jarrell, e ousa com a escolha da ópera “Wozzeck”, de Alban Berg, em formato de concerto. “O fato de tocar com cantores ao redor afeta o modo de reação, a maneira de atacar o som de uma orquestra sinfônica. As grandes orquestras de ópera notabilizam-se por sua flexibilidade e profundidade, e é esta a ideia que buscamos ao trazer óperas em concerto”.

Em sua obsessão pela qualidade sonora, o maestro considera que obras da Segunda Escola de Viena, como a de Berg, são cruciais para “abrir verticalmente” a abordagem sonora do grupo. Ele também elogia o trabalho de Roberto Minczuk no Theatro Municipal de São Paulo. O paulistano regerá um programa que incluirá obras de DesElodie Bouny, Esteban Benzecry, e o “Concerto nº5” para piano de Villa-Lobos com Sonia Rubinsky, que inicia também um projeto de gravação.

Outro importante regente brasileiro convidado é Fabio Mechetti, titular da Filarmônica de Minas Gerais, que apresentará um repertório tendo o “Choro para violino e orquestra” de Guarnieri com solo de Elisa Fukuda.

Entre os maestros convidados – alguns bastante jovens -, destacam-se igualmente regentes mulheres, como a finlandesa Emilia Hoving, a alemã Ruth Reinhardt, a búlgara Delyana Lazarova, a mexicana Alondra De La Parra e a grega Zoe Zeniodi.

Além de “Meia lágrima”, de Bouny, entram na programação obras de diversas compositoras, como Unsuk Chin, Marisa Resende, Dobrinka Tabakova, Juliana Ripke, Beatriz Corona, Grazyna Bacewicz, Emilie Mayer e Louise Farrenc.

Regentes como Joseph Bastian, Vasily Petrenko (em dois programas com sinfonias de Shostakovich, tendo em um deles a estreia de uma encomenda ao compositor brasileiro Felipe Lara), Masaaki Suzuki, Jac van Steen (regendo “Má Vlast”, de Smetana), e Pierre Bleuse, titular do Ensemble Intercontemporain, estarão presentes como convidados.

Podemos notar na programação um leve “decrescendo” do repertório clássico-romântico germânico, com a emergência de um foco maior em compositores franceses como Berlioz, Debussy e Fauré. Como programador, Fischer procura inverter o conceito que parte da escolha do convidado. Sua concepção sai sempre do repertório, e então procura definir “qual o melhor músico para esse fim”.

Entre os solistas, Tom Borrow segue como Artista em Residência (com a missão de completar o ciclo de concertos para piano de Beethoven). Outros pianistas que, além de tocar com a orquestra, também farão recitais solo, são Marc-André Hamelin, Javier Perianes, Sonia Rubinsky, Simon Trpceski e Bertrand Chamayou, e o mesmo ocorrerá com o violinista Augustin Hadelich.

No que tange à música brasileira, teremos uma presença mais contida dos nomes famosos do modernismo nacionalista (como Villa-Lobos, Mignone e Guarnieri), e o próprio Fischer irá explorar obras de Francisco Braga, Carlos Gomes, e do compositor do período colonial Manoel Dias de Oliveira. “Pesquisei bastante para programar essas obras”, afirma com empolgação.

Em 2025, os concertos das quintas e sextas-feiras – que já foram às 21h e hoje são às 20h30 – começarão às 20h (aos sábados permanecerá o horário habitual de 16h30). A bem-sucedida experiência do “Osesp-duas e trinta” (com apresentações às 14h30 em algumas sextas-feiras) permanece, e terá oito concertos em 2025.

Destaque da programação:

13-15 de março

Thierry Fischer rege obras de Lotti, Richard Strauss e Mahler;

Ao longo do ano

O ‘Ciclo Tchaikovsky’ da Osesp terá seis sinfonias e a “Abertura Romeu e Julieta”.

Julho

O maestro Vasily Petrenko rege programas com sinfonias de Shostakovich e estreia da obra de Felipe Lara.

Novembro

Pierre Bleuse rege programas com obras de Scriabin, Stravinsky, Debussy, Ravel e Saint Saëns.

Dezembro

Fischer rege a ópera “Wozzeck”, de Alban Berg.

SIDNEY MOLINA / Folhapress

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