RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Gloria Perez já entregou todos os capítulos de “Travessia” para a Globo e, ao fazer o balanço de sua 12ª novela na emissora (“Carmem”, a 13ª, ela escreveu para a extinta Manchete), a autora define a vivência como “uma experiência atípica”. Para ela, a antecipação da estreia para outubro de 2022 -em vez do começo deste ano, como previsto inicialmente-, acabou atrapalhando (e muito) durante a criação do roteiro, mas ela não se eximiu de erros.
“Por estarmos ainda naquele período de Covid atuante, não pude fazer a pesquisa da maneira que sempre faço. Também não consegui estar envolvida com os atores e a produção da maneira de sempre”, lamenta a autora em entrevista à reportagem.
Completando 40 anos na Globo, Gloria não quis comentar as críticas que rondaram a novela desde o início da transmissão. Nem se acha que o sucesso da antecessora, “Pantanal”, ocasionou algum tipo de má vontade do público com sua trama.
Ela também “pulou” a pergunta ao ser questionada se os problemas nos bastidores (entre eles, a criticada escalação de Jade Picon para um papel central, as polêmicas envolvendo Cassia Kis e até o suposto apoio da autora a Bolsonaro nas últimas eleições) contribuíram para uma suposta antipatia por parte dos telespectadores. Recentemente, Gloria começou a responder de forma ácida alguns comentários sobre a novela nas redes sociais.
A autora prefere mesmo falar sobre os temas debatidos em “Travessia”, que ela acredita ter “jogado na mesa a maneira como a internet pode afetar a vida cotidiana das pessoas”. Um exemplo disso seria a própria protagonista, Brisa, vivida por Lucy Alves, que até agora continua lidando até agora na trama com as consequências de uma falsa acusação de rapto de bebês.
“Aqui, a fake news é só uma versão moderna das motivações que costumam mudar radicalmente as vidas de personagens de todas as novelas”, comenta. “[Pode ser] uma morte, no caso de um pai, como em ‘Avenida Brasil’; um exame trocado, como em ‘Bom Sucesso’; uma troca de bebês, como em ‘Por Amor’; uma má pontaria, como em ‘Além da Ilusão’ etc.”
“Outros pontos são a discussão sobre a inteligência artificial e seu avanço sobre os empregos humanos, através da relação entre o robô Haroldo e seu Joel [Nando Cunha] e, por último, como o mundo do crime se adaptou aos novos meios tecnologia, com a história da Karina [Danielle Olímpia].”
Gloria celebra o fato da novela, por ser uma obra aberta, permitir que sejam incluídos fatos que ganharam repercussão recentemente no noticiário, como a história do casamento cancelado por causa do “não” de brincadeira da noiva, que acabou com a recusa de um juiz em concluir o casamento. A cena foi reproduzida no enlace de Oto (Romulo Estrela) e Bia (Clara Buarque).
Porém, a autora rechaça as especulações de alguns internautas de que teria usado o caso Klara Castanho como inspiração para a trama de Chiara (Jade Picon). Na novela, a patricinha quer doar o bebê que está esperando de Ari (Chay Suede) após ele ter dado um golpe no pai dela, Guerra (Humberto Martins).
“A trama de Chiara é uma clássica dos folhetins de todos os tempos: mães que rejeitam filhos, nascidos ou não, filhos que rejeitam pais”, explica. “Lembrando que a sinopse de ‘Travessia’ é de 2019, e eu deveria começar a pesquisa exatamente quando veio a pandemia. Há uma inspiração para a introdução dessa trama, sim, mas não é a vida real: é uma novela turca chamada ‘Intersection’.”
ANA CORA LIMA / Folhapress