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Chico Buarque e Sócrates

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ESSA GENTE, HEIN!? – Leio na Veja que Chico Buarque segue “voando baixo” no mercado editorial brasileiro, segundo palavras do autor da reportagem, Robson Bonin. A mais recente obra do Chico, Essa Gente, não sai da lista dos mais vendidos desde que foi lançada. Em quatro semanas, foram 6.600 exemplares vendidos, média de 235 por dia. Pouco para o tamanho do nosso país, mas se continuar neste ritmo tem tudo para ser um best-seller nacional.

CHICO, VAI PRÁ CUBA! – Se você conseguiu chegar até o segundo tópico deste texto sem xingar o Chico por suas posições políticas, parabéns! O assunto aqui é literatura. E nisso, o Chico dá um show. Escrito na forma de anotações que lembram um diário, Essa Gente se passa no Rio de Janeiro dos dias atualíssimos (as anotações vão até setembro de 2019) e narra as desventuras de um escritor em suas crises profissionais e emocionais.

CHICO E SÓCRATES – Mas afinal, o que o Chico tem a ver com o Dr. Sócrates? Arrisco um palpite no sentimento de negação dos brasileiros com seus expoentes. O Chico é a bola da vez.  O mote para odiá-lo é o apoio ao PT, à Dilma e ao Lula. Mas no fundo, há um brasileiríssimo comportamento de fazer pouco caso de quem é melhor do que nós mesmos. Na música, na literatura ou até no sucesso com as mulheres. E por que não no futebol?

DE RIBEIRÃO PARA O MUNDO – A elegância em campo, a inteligência espacial e o toque de calcanhar encantaram o mundo inteiro na Copa de 82. Sócrates saiu do Botafogo para a constelação mítica do futebol internacional. Mas por que os garotos das escolinhas de futebol de Ribeirão Preto não se inspiram no Doutor? Por que as pessoas que o conheceram se referem a ele com uma intimidade niveladora de dotes e talentos? Por que Sócrates não é o nosso grande herói?

NEM PELÉ! –  Hemingway aprendeu e nos ensinou que nada melhor do que começar um texto com uma boa verdade. E a verdade é que o brasileiro mal e mal engole o Pelé. É cool até defender o Maradona como o melhor do mundo, como se fosse possível imaginar o contrário. Ou você concebe um argentino gritando pela superioridade de Pelé frente ao Maradona?

PARATODOS – É assim mesmo, tudo junto, o título do disco de Chico Buarque de 1993, em que os grandes gênios da nossa música são citados um a um na faixa que dá título à obra. Além de um vigoroso exercício para as nossas flácidas referências nacionais, é uma espécie de antídoto contra a soberba brasileira a que me refiro.  Um bom conselho para Essa Gente: “Para um coração mesquinho/Contra a solidão agreste/Luiz Gonzaga é tiro certo/Pixinguinha é inconteste/ Tome Noel, Cartola, Orestes/ Caetano e João Gilberto”.