Você já ouviu falar em Cristian Budu? Não? Certamente pouquíssima gente conhece ou já teve contato com o nome. Mas saiba que ele é brasileiro, pianista e venceu um concurso internacional de piano disputando contra competidores de países com imensa tradição no instrumento. Venceu o concurso Clara Haskil tocando Schumann, um dos compositores mais famosos do mundo. Por que então um talento jovem deste não é conhecido do seu povo, para ser por ele agraciado e louvado? Eis uma das motivações deste texto. Trazer ao leitor o valor da música clássica para nossa sociedade. Veja abaixo a apresentação vencedora do pianista e aprecie.
A verdade é que se passou ao público mais popular de que para se gostar da música clássica é preciso ser um conhecedor do assunto. Isso foi criado por uma elite que não desejava se ver misturada às camadas populares. Para se ouvir esse gênero é preciso ter sensibilidade para tal e não conhecimento de estudos. É o mesmo que se dizer que para saborear uma refeição é preciso saber cozinhar. Por isso, ofereço uma leitura sobre como a música clássica está presente em nossa realidade local.
Ribeirão Preto é uma cidade felizarda. Tem uma Orquestra Sinfônica (OSRP) que todo mês se apresenta num dos teatros mais lindos do Brasil além de promover concertos em igrejas e outros espaços pela cidade ou região. A música clássica é o motor dessa comunidade que precisa de novos adeptos e, por assim dizer, consumidores. Isso porque música clássica é um estilo musical que se consome, aprecia, vivencia, em suma, deve-se mergulhar no seu universo para apreciá-lo.
Contudo, este é um gênero musical ainda distante da maioria dos brasileiros. A saber, a música clássica é um estilo musical surgido no ocidente e tem como características a presença de orquestras com instrumentos maravilhosos como os violinos, piano e grandes espetáculos. Por ser considerada difícil de entender, os brasileiros afastam-se do gênero. Outros ainda a ouvem, com intuito de relaxamento, efeito calmante. O que precisa ser entendido é que temos aqui no país grandes compositores que fazem composições maravilhosas, dignas de Mozart, Beethoven ou Bach, como, por exemplo, Carlos Gomes, o autor da indefectível abertura da “Voz do Brasil” com sua peça “O Guarani”, Villa-Lobos que tem como obra bem brasileira a conhecida “O trenzinho do Caipira” e Claudio Santoro, que conheci recentemente em vídeo, com a obra “Sinfonia n° 7, Brasília”. Esta última, uma virtuose dos sentidos com sons vibrantes que narram a construção da nossa capital nacional.
Mês passado tivemos na apresentação da OSRP uma belíssima apresentação de peças dedicadas às crianças. “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev e “O carnaval dos animais”, de Camille Saint-Saëns, foram apresentadas em concerto com a participação de bailarinos e pianistas em uma monumental apresentação capitaneada pelo Maestro Reginaldo Nascimento. O dado triste desse concerto foi que menos de mil pessoas estiveram no Teatro Pedro II. Em uma região metropolitana que já supera a milhão e meio de habitantes, é muito pouca gente para apreciar uma orquestra em um concerto de música clássica.
Não faço apologia da comparação com outros países ditos mais desenvolvidos. Acredito na educação como fator de desenvolvimento humano e nisso a música clássica anda fazendo falta. Quem pode dizer, excetuando trilhas sonoras de filmes, que ouviu a uma obra musical deste gênero recentemente? Certamente o número vai equivaler aos números da leitura de livros literários no Brasil. Ou seja, somos carentes de leitura e de ouvir música de uma matriz orquestrada.
Mesmo que não se possa ir até a orquestra, é possível conhecer música clássica pelos inúmeros vídeos de orquestra que estão no Youtube. Nossa orquestra, a OSRP, está bem representada com inúmeras apresentações e concertos. No canal da OSRP há apresentações magníficas, tal como esta que deixo no link abaixo. São concertos primorosos que nos aproximam da melhor música clássica já produzida e por preços acessíveis, como 30 reais por um lugar na plateia. Inscrever-se no canal da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto ajuda bastante e fará com que você possa apreciar inúmeras outras apresentações.
Em suma, para quem tiver a curiosidade de ouvir a peça demonstrada no vídeo, perceberá que pode sentir algo diferente. É uma beleza que se sente por dentro da ala. Assim quando escutei a 9° Sintonia de Beethoven tocada ao vivo por uma orquestra competente. Isso incluindo um coral. É algo que vai transportar o ouvinte a algo sublime e maravilhoso. É tão belo quanto ver um quadro de Van Gogh no MASP. As pinturas que nos fazem repensar o belo. A beleza da música clássica não está apenas nas notas e acordes e sim na sensação que se cria dentro daquele que as ouve. A beleza dela não está no plano do simples ouvir. Está no plano da criação artística humana que pertence apenas a nós. Nosso primor e prodígio.
O povo brasileiro necessita ser mais bem educado para se tornar mais eclético e descobrir o prazer de ouvir uma música atemporal. Professores podem incentivar os alunos. Em Ribeirão Preto, nos domingos, após o concerto mensal que ocorre nos sábados há o “Juventude tem concerto” que apresenta para esse público jovem ( e não só este) a beleza da música clássica gratuitamente. Qualquer pessoa pode apreciar e ainda contemplar o Teatro Pedro II. Recorde então do seu tempo de infância onde os desenhos do Pernalonga, Tom e Jerry ou Pica-pau e aprenda que você já conhece algumas músicas clássicas. Sua alma e estado de espírito vão agradecer.