O centro da cidade, em regra, representa o local onde teve início o processo de convivência e urbanização do local. Na maioria dos centros de cidade se concentram as atividades comerciais e financeiras. Por se tratar do marco zero de uma cidade, o centro possui grande valor histórico. Não apenas para a população do lugar, mas para o País, e muitas vezes, para toda a humanidade. Recentemente, uma imensa comoção abateu todo o mundo ocidental, com o incêndio da Notre Dame, em Paris.
Em países onde os centros das cidades foram preservados, esses lugares transpiram história. A área é bastante valorizada e nela é grande a concorrência por um apartamento, uma casa ou um espaço comercial. Quem conhece países da Europa sabe bem do que estou falando. Na América Latina também há países onde os centros históricos são bem cuidados. Santiago, Montevideo, Lima, Bogotá e Buenos Aires, possuem centros bastante prestigiados.
Na maioria das cidades de nosso País os centros da cidade são pouco ou nada valorizados. Em muitas cidades nem podemos mais falar de centro histórico, porque nada mais existe de história.
De alguns anos para cá temos observado a movimentação de prefeitos para revitalizar os centros das cidades que administram. No Rio de Janeiro, uma das cidades mais bonitas do mundo, mas com uma área central degradada, a Copa do Mundo de 2014 trouxe alguma contribuição, apesar das falcatruas identificadas nos gastos com a revitalização. Em São Paulo, Capital, também existem iniciativas interessantes para o resgate do centro e de sua história. Há poucos dias, o prefeito Bruno Covas anunciou o envio à Câmara Municipal de um projeto de lei que prevê a isenção de IPTU por cinco anos para negócios que funcionem no período noturno e aos finais de semana.
Como ribeirão-pretano que sou, nada tenho a festejar quando o assunto é o centro e a história de minha cidade. Ribeirão é uma cidade pobre em termos de preservação de sua história e de conservação da área central, e isso não vem de hoje.
No final do século XIX Ribeirão ganhou o teatro Carlos Gomes, símbolo da pujança do café. Em 1944, iniciou-se a demolição do teatro. Um dos palacetes mais importantes da primeira metade do século XX, o Paschoal Innecchi, primorosa obra arquitetônica edificada no cruzamento das ruas Duque de Caxias e Barão do Amazonas, foi para o chão e virou agência bancária, hoje fechada.
A majestosa arquitetura e a história do Colégio Santa Úrsula, na rua São José, também não sobreviveram ao tempo. Em 1996 foi desativado, demolido, e virou shopping center. Outras preciosidades históricas, como o palacete Camilo de Mattos e o Hotel Brasil estão em ruínas. Pasmem, que até o Theatro Pedro II correu risco de virar pó.
Meu consultor para assuntos relacionados à história de Ribeirão Preto – o culto Déo Sant’Anna, conta que, por pouco, nosso maior tesouro histórico e arquitetônico não virou agência bancária. Um figurão que dirigia a Cervejaria Antártica nos anos 70 teria oferecido o Pedro II para uma das maiores instituições bancárias do país, e não fosse a intervenção de políticos e intelectuais da época, o negócio teria saído.
Nos últimos tempos, aplausos apenas para a iniciativa privada, que resgatou o espaço onde funcionou a Cervejaria Paulista, está restaurando o palacete Jorge Lobato e a Biblioteca Altino Arantes, locais recheados de história.
O Executivo Municipal continua instalado no Palácio Rio Branco, que está caindo aos pedaços e não recebe uma demão de tinta há pelo menos 15 anos, e nenhuma movimentação do governo se observa no sentido de uma efetiva revitalização do centro.
A verdade é que o centro de Ribeirão Preto pede socorro.
A baixada, que também é considerada área central, está agonizando. A administração anterior entregou à cidade um calçadão desumanizado, esteticamente pobre, e daí por diante nada mais se fez para o centro. A iluminação é ruim, o que favorece a criminalidade. A segurança que se oferece aos frequentadores não é a adequada, tanto que no período noturno, com exceção do quarteirão paulista, o local fica totalmente ermo. Muitos prédios comerciais parecem fantasmas. Moradores em situação de rua se multiplicam pelas principais praças da área central e os comerciantes, heróis da resistência, enfrentam a desleal concorrência de vendedores ambulantes.
Todos sabem que a chegada de shoppings centers, que abrigam lojas, restaurantes e cinemas em espaços confortáveis e seguros foi fator decisivo para a situação de abandono do centro, mas não podemos jogar a toalha. A revitalização do centro não é tarefa impossível. Cheguei a compulsar um bom projeto desenvolvido por entidades de classe, que contemplava humanização, com a instalação de plantas e floreiras, bancos charmosos (os atuais parecem tampa de túmulo) e postes de iluminação da época áurea. Não me perguntem por onde anda o tal projeto, mas poderia ser um bom começo, aliando-se seu conteúdo a uma boa iluminação, restauração de prédios antigos, despoluição visual mais acentuada e ocupação de espaços ociosos, por escritórios, comércio, estabelecimentos de ensino, restaurantes, bares e cafés que pudessem funcionar, inclusive, no período noturno.
Dar vida ao centro implica, necessariamente, em levar pessoas até ele, e não apenas no período diurno. E para que as pessoas voltem a frequentar o centro é preciso transformá-lo num lugar acolhedor, interessante e com boas opções de lazer.
Governo, proprietários de imóveis centrais, entidades que congregam comerciantes e representantes da sociedade civil precisam conversar, em busca de uma solução para nosso centro. Um aceno do Poder Executivo para essa conversa seria bem vindo.