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Cotidiano Amarelo, a realidade do suicídio juvenil

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Nós últimos três anos, venho me deparando, em sala de aula, com o aumento no número de jovens que se cortam e com o aumento de casos de depressão, somatizando crises de pânico. No último dia 10, nas escolas estaduais, tivemos o chamado Dia D para justamente discutir essa questão. Em setembro, está havendo a promoção de aula voltadas ao combate e reflexão sobre essa questão, que é séria: o suicídio na juventude.

Apesar do esforço do governo estadual em levantar essa questão como ponto de reflexão, o que é louvável, na prática da construção da aula ainda carecemos de estrutura nas escolas para trabalhar esse assunto. Nesse dia mesmo tive que dividir um retroprojetor com um professor em uma sala com mais de oitenta alunos para tentar fazer essa discussão. Isso sem falar da dificuldade para conseguir material básico na aplicação de dinâmicas sobre essa questão, inclusive simples folhas de papel sulfite.

Nessa mesma semana, dois dias após essa atividade, tive que pessoalmente ir até a casa de um aluno que saiu mais cedo da escola. Descobrimos, em conversa com outros alunos, que o mesmo queria se suicidar. Com a falta de contato com a família, que não atendia o telefone, fui, no meu horário do almoço, na comunidade onde o mesmo reside para verificar essa situação. Chegando lá, deparei-me com o aluno, de apenas 13 anos, com um dos braços riscados à faca. Em diálogo com a tia, que reside na mesma casa, ela contou que foi surpreendida com a cena, pois, até aquele momento a família não tinha notado o comportamento suicida do aluno. Em conversa com o jovem, descobrimos, no local, que outro aluno, mais velho, estava incentivando que ele se suicidasse.

Toda essa situação foi repassada às instâncias de direito, que, infelizmente, não têm a estrutura adequada para atender essa demanda. Vale ressaltar, por sinal, que estamos ás vésperas de uma eleição de Conselho Tutelar em nossa cidade, instituição sucateada, já que, numa cidade onde seriam necessários pelo menos seis conselhos, temos apenas três. São 15 conselheiros atendendo uma cidade que já beira 700 mil habitantes.

Um artigo publicado pela BBC Brasil, em abril de 2017, mostrou números alarmantes sobre os suicídios da população jovem. A taxa de mortes nesses moldes cresceu 10% desde 2002 entre aqueles que têm de 15 a 29 anos. O fenômeno, ao contrário do que parece, não é recente: vem crescendo desde 1980.

Ainda de acordo com a reportagem, que entrevistou especialistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), as principais causas geralmente estão associadas aos seguintes fatores: a) depressão e outras doenças relacionadas, como a ansiedade; b) uso abusivo de álcool e outras drogas; c) bullying; d) violência sexual e e) violência doméstica.

Vale destacar, também, que alguém dificilmente se mata por conta de motivos “banais”, frequentemente apontados pelo senso comum, como fraqueza, covardia e afins. Diante das situações com as quais me deparo nas escolas públicas, posso afirmar que o contexto envolve problemas familiares, pais separados ou mesmo a rejeição ao filho, situação sempre permeada por problemas financeiros e falta de diálogo e afeto familiar.

Para começar a enfrentar esse problema de fato, precisamos de políticas públicas fortalecendo a rede de atendimento a crianças e adolescentes através dos centros de referência de assistência social nos bairros mais carentes, com atendimento nos postos de saúde através de profissionais da psicologia. Isso é fundamental.

Precisamos aproximar o poder público do cidadão, atuando no acolhimento de familiares e jovens com a realização de trabalhos voltados à superação e o desenvolvimento de capacidades dos mesmos. Todos são responsáveis de mudar essa realidade, principalmente aqueles que são eleitos e tem o compromisso de traçar as políticas públicas sobre os temas.