A educação é um bem primordial. É uma noção básica. “Educação é bom e eu gosto”. Todos conhecem esse ditado ou como dizem meus alunos jovens “ Ninguém gosta de ser esculachado”. Contudo, a inversão de valores na sociedade anda se instalando em nível mais acelerado. Primeiro porque atualmente muitos pais creditam à escola e aos professores a função de educar seus filhos. E quando certas lições duras acontecem no ambiente escolar, vindas dos mestres, arvoram-se a críticas, ofensas e até mesmo ameaças. O que aconteceu com a educação neste país? Quando questiono isso não falo da governamental escolar e sim da que vem de casa, da família, produto do respeito para com o próximo.
Princípios morais e de boas maneiras hodiernamente estão esquecidos na educação familiar de muitas crianças. Para silenciar a força infantil ou juvenil, aparelhos eletrônicos e presentes são dados aos montes, na tentativa de se ter paz. Mas corrupções como estas pouco educam. Dizer não para os filhos tornou-se dificultoso dentro de casa. Isso vai criar um ambiente familiar de pouco diálogo e um escolar com professores frustrados e exauridos pela falta de apoio de pais e mães e de respeito dos seus filhos.
Pouco tempo atrás, em uma atitude inédita, após um vídeo ter viralizado com alunos em uma escola da grande São Paulo estarem destruindo a sala de aula e atacando uma professora, o governo do estado fez o inimaginável. Mandou os jovens infratores para a Fundação Casa. Nesse momento, todos os que silenciaram durante anos foram para a frente das câmeras. Conselheiros tutelares afirmaram ser uma atitude rígida demais e que o Estado deveria ter alternativas. Contudo, como qualquer professor, diretor, dirigente de ensino sabe, esse é um mal crescente e que deriva das noções básicas de educação que deveria vir do lar. A cena pode ser vista no vídeo abaixo.
Professor não é pago e nem estudou para lidar com mau comportamento em sala de aula. A família deve ter essa noção desde que começa a gerar uma criança. E se os professores e profissionais da educação fossem os únicos a sofrer com o problema da falta de educação, seria algo fácil de sanar como problema. Mas não. Essa falta de base familiar nas noções éticas e morais que estão sendo negligenciadas pela família atacam algo muito mais profundo: a sociedade como um todo.
Sabe-se bem que há centenas de anos no Brasil impera a Lei de Gérson. O famoso jogador tricampeão mundial ficou marcado por essa expressão por protagonizar uma propaganda de cigarros em que ele perguntava se o telespectador gostaria de levar uma vantagem. Pronto! Virou símbolo nacional do jeitinho, do querer sempre levar vantagem em tudo. A falta de base ética e moral dentro de muitas famílias cria crianças e adolescentes que pensam que o que é público é de ninguém e o que é seu deve ser respeitado ao extremo, mas que não precisam respeitar nada nem ninguém. Ou seja, a vantagem sempre tem que ser para mim, mas nunca devo ser contrariado. Assim, quando se vê por aí escolas depredadas ou kits escolares que acabam de ser entregues virarem munição em guerras de bolinhas de papel ou de materiais escolares, percebe-se que o dinheiro do povo é alvo de uma falha familiar grotesca.
Não se generaliza em culpar a família em tudo, mas quem tinha base em sua casa não falhava como cidadão. Antes havia os jovens que mesmo com boas famílias se degeneravam. Eram exceções e muito bem conhecidos por todos. Hoje, século XXI, era da informação e da tecnologia, quando os valores éticos e morais deveriam se difundir com muito mais celeridade, o que se percebe é que se negligencia e se detrata os valores humanos básicos como urbanidade e respeito. Até entre si tratam-se aos palavrões e falta de decoro. Certamente, com a mãe talvez não se fale como na frente de um docente, mas que deve faltar pouco, falta.
A falta de limites por parte de muitas famílias desenvolve uma juventude que acredita poder tudo, sem deveres, sem pagar pelas consequências dos seus atos. É exponencial o aumento de jovens agressivos e violentos, autoritários, que agem somente pelos seus desejos. Há um termo para esse tipo de jovem: síndrome do imperador. É uma forma de relação entre as crianças e adolescentes e os adultos que as educam. Isso ocorre porque há famílias que por um sentimento de culpa pela ausência em demasia, fazem todas ou a maioria das vontades dos filhos como forma de suprir essa carência. Assim, não percebem que mais fazem mal aos filhos que verdadeiramente o bem.
Em suma, a educação é boa e todo mundo gosta e deve vir obrigatoriamente da família e esta deve ser cobrada a oferecer à juventude, sem escusas ou justificativas. As instâncias superiores devem deixar de crer que tudo é dever do estado e começar a responsabilizar quem coloca uma criança no mundo e negligencia suas atribuições. Não é exagero punir um jovem que age com delinquência. Exagero é não creditar a responsabilidade a quem realmente é responsável por ela em primeira instância. Assim, com educação e respeito vindo de casa como noções básicas, a disciplina melhoraria exponencialmente nas escolas e quem sabe a educação escolar, essa sim de responsabilidade de professores e profissionais da educação, possa melhorar como se deve e necessita nessa hoje nave desgovernada chamada Brasil.