Lideranças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) avaliam que a mobilização nacional da entidade realizada neste mês de abril gerou resultados positivos com a abertura do diálogo com o governo na retomada do debate sobre a reforma agrária.
A chamada Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária teve a invasão de ao menos nove fazendas, incluindo uma área que pertence à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além de sedes do Incra em ao menos sete unidades da federação.
Segundo o MST, a mobilização aconteceu em 18 estados, sem qualquer incidente. “Em toda nossa história, só conseguimos conquistas com muita luta e este ano não foi diferente”, diz Ceres Hadich, da direção nacional do movimento.
“Nossa impressão geral é de abertura do governo para atender nossa pauta, com o governo abrindo negociação e criando grupos de trabalho para atendê-la”, completa.
Dirigentes do MST se reuniram com diversos órgãos como Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
Um dos resultados práticos é que foram trocados os comandos do Incra em 19 estados, além do Distrito Federal. A entidade cobrava a exoneração de quadros ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Permanecem sem mudanças as chefias de Minas Gerais, Amazonas, Alagoas, Tocantins, Rondônia, Roraima e Amapá.
Segundo Hadich, a Secretaria-Geral da Presidência e o MDA assumiram também o compromisso de lançar em maio um plano de reforma agrária, com “medidas, metas e um cronograma”.
A dirigente afirma ainda que o MST segue apoiando o presidente Lula (PT), o atual governo, “à democracia e às lutas pelo programa de mudanças sociais que venceu as eleições”.
OUTRAS AÇÕES
Para a entidade, o governo também deu uma sinalização positiva com relação à regularização de famílias ocupantes de lotes de reforma agrárias, como filhos de assentados que os pais morreram e outras situações.
O movimento também se reuniu com o ministro da Educação, Camilo Santana, para debater temas como, a ampliação do orçamento para a educação do campo, a retomada de obras de construção de escolas paralisadas nos últimos anos e o desenvolvimento de uma política de alfabetização de jovens e adultos em áreas rurais. De acordo com a entidade, Camilo propõs a criação de grupos de trabalho para a execução das propostas.
As invasões do MST no mês de abril marcam os 27 anos do massacre de Eldorado do Carajás, quando 19 trabalhadores sem-terra foram mortos por tropas da Polícia Militar do Pará em 1996. A entidade defende a reforma agrária, o investimento para agricultura familiar e acesso a crédito para a produção de mais alimentos.
Na última semana, o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, descartou promover uma onda de invasões de propriedades no Abril Vermelho. Ele disse que disse que devem ocorrer ocupações pontualmente, mas não dezenas ou mesmo centenas, o que caracterizava a jornada anual do movimento.
Diante das invasões, a bancada do agronegócio tem pressionado o presidente da Câmara a abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o MST.
MÔNICA BERGAMO / Folhapress