Empresário investigado por morte de brasileira que caiu de prédio na Argentina é solto

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O empresário investigado pela morte da brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes, 26, que caiu do sexto andar de um prédio de Buenos Aires, na Argentina, foi solto pela Justiça nesta quarta-feira (19), três semanas após o caso.

O juiz Martín Del Viso, do Tribunal Nacional Penal e Correcional nº 31, concluiu que não havia indícios suficientes para a manutenção da prisão. Francisco Sáenz Valiente, 52, estava detido desde a manhã do dia 30, quando a modelo foi encontrada pela polícia nua no vão do edifício.

A Folha de S.Paulo tentou entrar em contato com o advogado do empresário, Rafael Cúneo Libarona, duas vezes pelo telefone de seu escritório, mas ele não retornou as ligações. Ele tem declarado à imprensa que seu cliente é inocente.

O magistrado determinou uma série de restrições ao suspeito. Ele não poderá sair do país e terá que se apresentar à Justiça a cada 15 dias, ainda que virtualmente. Também está proibido de se comunicar com testemunhas ou os pais da jovem, segundo os jornais Clarín e La Nación, que tiveram acesso à decisão de 79 páginas.

O juiz pediu ainda que seja colhida uma série de novas provas –na Argentina, a Justiça tem poderes e atribuições maiores nessa fase da investigação, em comparação ao Brasil. Entre elas está uma nova busca por drogas e material genético no apartamento e também na casa de Emmily.

Ainda há mais dúvidas do que respostas no caso. Sabe-se que, na noite anterior, a baiana foi a um restaurante, a um bar e depois seguiu com duas amigas brasileiras para um “after” no apartamento do empresário, que estava com uma quarta amiga brasileira, no bairro abastado do Retiro.

Valiente diz que, por volta das 9h, após duas delas irem embora, a jovem teve um surto psicótico causado pelo consumo de drogas e se jogou da janela. Ele e vizinhos chegaram a ligar para a emergência antes de ela cair, mas foi tarde. A versão do uso de entorpecentes foi corroborada pelas colegas em depoimentos, segundo a mídia local.

Nos últimos dias, circulou a informação de que um exame toxicológico feito em seu sangue teria confirmado o uso da chamada cocaína rosa. O advogado que representa a família, porém, nega essa informação e diz que o laudo ainda deve demorar semanas para ficar pronto.

“Ainda há muitas testemunhas a depor, pessoas que conhecem o suspeito, que conhecem a vítima”, disse o argentino Ignacio Trimarco à Folha nesta segunda (17). A Justiça e o Ministério Público decretaram sigilo sobre o caso, por isso as informações oficiais são escassas.

Os pais da baiana, que seguem em Buenos Aires, dizem acreditar que houve um homicídio e pretendem recorrer à Justiça para que o empresário volte a ser preso. A família e as amigas da jovem refutam a versão de suicídio.

Eles dizem que ela era muito seletiva com suas companhias, não costumava beber muito ou perder o controle e era muito pequena (media cerca de 1,60 metro), portanto seria facilmente contida em caso de surto. Também criticam uma tentativa de manchar a imagem de Emmily como mulher.

Valiente inicialmente era investigado por homicídio. Após pedido da Promotoria, porém, a Justiça alterou os delitos imputados a ele para feminicídio (crime para o qual a Argentina prevê prisão perpétua), porte ilegal de arma (encontrada no apartamento com registro vencido) e fornecimento de entorpecentes, segundo o La Nación.

Segundo amigas de Emmily, a jovem se mudou de Salvador para Buenos Aires há cerca de quatro anos, depois que conheceu um namorado argentino. Chegou a cursar três semestres de medicina na nova cidade, mas parou.

Em seguida, trabalhou em uma agência de turismo e fez cursos de estética. Recentemente, atuava como modelo fotográfica e em eventos privados e tinha planos de investir um dinheiro guardado em uma clínica de estética para mulheres e homens.

Também namorava um argentino que até agora não veio a público e com quem as brigas eram frequentes, conta uma amiga, que diz não saber se eles terminaram o relacionamento antes do ocorrido. Morava sozinha com sua cachorrinha Chanel num apartamento no bairro de Caballito, a 7 km de onde morreu.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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