SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pela janela, o menino Arthur, 5, via passar um sonho. Apaixonado por trens, ele viajava com os pais e a irmã em uma composição com mais de 50 anos de história à vila de Paranapiacaba, em Santo André, na região metropolitana de São Paulo.
Com olhos vidrados na paisagem inclusive nos trechos da ferrovia com mato alto, o garoto era um dos passageiros que lotaram os três vagões restaurados da década de 1960 que fazem parte do Expresso Turístico da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
O passeio parte da estação da Luz, no centro de São Paulo, com três destinos diferentes: para a vila de origem inglesa do ABC paulista, para Mogi das Cruzes (também na Grande São Paulo), e para Jundiaí, no interior do estado.
Para a viagem de ida e volta, a família teve de Arthur teve que comprar passagens um mês antes. Comercializados pela internet, os bilhetes costumam esgotar em 24 horas. “Fiquei entrando no site para ver quando as vendas seriam abertas”, disse Larissy Primo, 26, mãe do menino.
Por causa da alta demanda, a estatal incluiu mais um carro no expresso no mês passado e outro será acoplado a partir de maio. A capacidade, que era de 166 passegeiros no início do ano, vai pular para 352 a ocupação atual, com 260 vagas, é de 97%.
Os dois novos vagões são de aço inox produzidos no Brasil pela Bidd Mafersa na década de 1960. Os carros foram cedidos pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) e faziam parte do patrimônio do Denit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), do governo federal. Eles estavam em Bauru (a 329 km de SP), aos cuidados da prefeitura local. A CPTM não informou o valor da restauração, que demorou nove meses.
O Expresso Turístico fez sua primeira viagem em abril de 2009 e, até agora, transportou aproximadamente 175 mil passageiros em cerca de 1.200 viagens.
A rota é feita numa locomotiva a diesel, modelo Alco, fabricada em 1952, que conduz os carros de passageiros.
Além de apreciar a paisagem por ângulos normalmente não vistos, o turista também conhece no trajeto parte da história da ferrovia e das estações.
Desde o fim do ano passado, o serviço vem passando por mudanças. “Foi criado um núcleo de negócios na CPTM dedicado ao Expresso Turístico”, diz Luiz Otávio Libério, que chefia o departamento na companhia. Atualmente, o custo mensal do expresso é de R$ 200 mil, frente a uma receita de R$ 100 mil.
Entre as implantações estão o início da venda de passagens pela internet, a possibilidade de locação dos trens para terceiros, e a incorporação de mulheres uniformizadas na função de chefes de carro para orientação e ajuda aos passageiros.
Sônia Palazzo, 43, funcionária há 15 anos da CPTM pediu para ser transferida para o Expresso Turístico com a concessão da linha 9-esmeralda à ViaMobilidade, onde trabalhava, no ano passado. “Estudo informações e história dos destinos para saber orientar os passageiros”, afirma.
Ainda em 2023, a estatal paulista planeja acoplar um carro restaurante no trem turístico. O vagão, também de aço inox, está no pátio da concessionária de ferrovias Rumo, em Paulínia (120 km de SP). “As equipes estão definindo os detalhes para concluir a documentação do processo”, diz a empresa de logística.
A CPTM também negocia com a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos o empréstimo de uma litorina do governo para operar como sexto carro, numa versão mais luxuosa, com ar-condicionado, serviço de bordo e passagem mais cara.
Há ainda estudos sobre a criação de três novos destinos, para Aparecida, Campos do Jordão e Santos.
O mais próximo de sair do papel é o Expresso dos Romeiros, já no próximo 12 de outubro, quando a Basílica Nacional, em Aparecida (a 180 km de SP) recebe milhares de devotos de Nossa Senhora.
Segundo a Secretaria Estadual de Turismo, haverá uma viagem experimental na data, estimada em 5h30 para cada trecho de ida e volta, para avaliar impactos e aceitação do público. “Estamos conversando com empresas o outros órgãos que devem ser envolvidos”, diz Libério.
Inicialmente, o trem para Aparecida será o mesmo do expresso atual e que leva famílias inteiras para os passeios de fins de semana e feriados. A de Arthur Trindade Umeda levou 12 pessoas, bexigas e guloseimas para comemorar dentro do trem os 15 anos do adolescente no último dia 16.
Além dos pais, havia o irmão Iago, 12, primos, tios e o avô. “Compramos as passagens há mais de um mês”, afirma a mãe do garoto, a professora Cristiane Trindade.
Os namorados Flávia Mirelly, 20, e Matheus Henrique dos Santos Gonçalves, 19, moram em Carapicuíba, na região metropolitana, e estão acostumados a pegar trem e metrô para trabalhar em São Paulo. Mesmo assim, levantaram quando o sol não havia nascido para estarem antes das 7h na estação da Luz.
“Viemos atrás das lendas de Paranapiacaba”, afirma Mirelly, que diz ter acordado as 4h30 para se produzir para a viagem, que começou as 8h30 e só terminou dez horas depois.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress