SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A preocupação crescente em torno da demografia mundial, com alguns países em acelerado processo de envelhecimento e outros em “boom” populacional, é pano de fundo de um estudo divulgado pelo Banco Mundial nesta terça-feira (25) para alertar sobre a importância da migração para o crescimento econômico global.
Na contramão de políticas que, dos EUA à Europa, fecham as portas para imigrantes e refugiados, o relatório da autoridade econômica afirma que, mais cedo ou mais tarde e inevitavelmente, todos os países terão de gerir bem essa área para acolher melhor os migrantes.
“Países ricos precisarão de trabalhadores estrangeiros para sustentar suas economias e honrar seus compromissos sociais com cidadãos mais velhos, e muitos países de renda média, tradicionalmente as principais fontes de migração, logo precisarão competir por trabalhadores estrangeiros”, alerta um trecho do material.
Para alguns países, o sinal enviado pelo Banco Mundial até soa como repetitivo, mas não porque seus governos tenham boas práticas na área migratória. Na Itália, com 59 milhões de habitantes, projeta-se que a população caia pela metade até o final deste século.
E aqueles com idade superior a 65 anos em teoria fora do mercado formal de trabalho serão quase 40% da população italiana, enquanto hoje são 24%. A despeito dos rápidos envelhecimento e encolhimento de seu número de habitantes, o país hoje liderado por Giorgia Meloni sustenta uma política de expulsão da mão de obra migrante.
O desafio da redução da força economicamente ativa não é exclusivo da Itália. Até a metade deste século, cerca de 30 países terão mais de 30% de suas populações formadas por pessoas com mais de 65 anos, segundo a ONU. Entre eles estão Japão, Espanha, Grécia e Portugal.
Neste último, atrair brasileiros, uma tarefa facilitada pela língua, tem sido uma das saídas encontradas para lidar com o desafio demográfico.
Segundo o material, há hoje 184 milhões de migrantes no mundo ou 2,3% da população global de 8 bilhões de habitantes. A cifra engloba tanto os migrantes tidos como econômicos, que emigram de seus países em busca de melhores condições de vida, quanto os refugiados.
Por trás do número, há uma reconhecida notificação. Como muitos imigram de maneira ilegal, sem documentos ou permissões necessárias, a conta fica abaixo do número real de migrantes.
E os destinos são diversos. Ao menos 40% vivem hoje em países de alta renda da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), um dos grupos que o Brasil almeja integrar. Já 43% dos migrantes estão em países de baixa ou média renda.
O volume do movimento migratório se manteve estável desde a segunda metade do século 20, mas o estudo do Banco Mundial lembra que a velocidade da migração no mundo foi três vezes mais rápida do que o crescimento populacional observado nos países de alta renda.
Sobre o desenvolvimento econômico, o órgão afirma que, sejam os migrantes mão de obra qualificada ou não, sempre há contribuição para o mercado de trabalho. No caso daqueles com menor qualificação, o Banco Mundial afirma se tratar de mão de obra importante para tarefas que cidadãos locais muitas vezes não querem desempenhar ainda que aqui resida o perigo da exploração trabalhista.
No caso daqueles com mais habilidades, lembra que eles contribuem para a produtividade, mas também recorda a desigualdade: apenas quatro países Austrália, Canadá, Reino Unido e EUA são origem de metade dos migrantes com ensino superior.
E a tarefa de saber usar a migração à favor do desenvolvimento econômico será compartilhada, diz o Banco Mundial, que fornece uma espécie de cartilha com recomendações aos países.
Àqueles que são origem de mão de obra migrante, recomenda-se que facilitem o recebimento de remessas internacionais para que um trabalhador, por exemplo, possa ser funcionário de uma empresa estrangeira e ainda viver em seu país, invistam em educação e criem mais oportunidades.
O material também salienta a importância de seguir em contato com suas diásporas, criando vagas para que migrantes que aprimoraram suas capacidades no exterior vejam algum incentivo econômico para retornar a seus países de origem.
Já aos países que mais recebem imigrantes, recomendam-se políticas de conscientização social contra estereótipos, xenofobia e preconceito. “Eles podem aprimorar os esforços para tratar os imigrantes com humanidade e também abordar a importância econômica deles para seus próprios cidadãos”, diz o material.
Em comunicado, o presidente do órgão, David Malpass, pede que o material seja usado por formuladores de políticas públicas. “Migrantes trazem habilidades, dinamismo e recursos para fortalecer suas economias de destino”, escreve ele. “Em muitos casos, reforçam ainda a economia de seu país de origem ao proporcionar um mecanismo vital para as comunidades locais quando enviam remessas de dinheiro.”
MAYARA PAIXÃO / Folhapress