SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O atraso de quatro anos na entrega do prêmio Camões de Chico Buarque, causado pela relutância do ex-presidente Bolsonaro em assinar seu diploma, não afetou apenas o artista brasileiro.
O acadêmico português Vítor Aguiar e Silva, vencedor do ano seguinte, acabou morrendo sem jamais ter tido a sua cerimônia de entrega. Isso porque a tradição manda que os receptores do prêmio sejam laureados na ordem.
Como o troféu de Chico, ganhador escolhido em 2019, estava em suspenso até esta segunda-feira (24), nenhum dos vencedores subsequentes da fila teve ainda sua cerimônia.
A solenidade na cidade portuguesa de Sintra aconteceu já na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfim assinou o Camões atrasado do compositor.
Segundo a Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura que organiza o Camões pelo lado brasileiro, a assinatura do diploma pelo presidente de República é uma formalidade necessária.
Aguiar e Silva, escolhido pelo júri em 2020, morreu em setembro do ano passado, aos 82 anos, antes que se pudesse marcar a festa em comemoração ao seu troféu.
O professor, que deu aulas nas universidades do Minho e de Coimbra, era uma das maiores referências em teoria literária de seu país, tendo se especializado no estudo do próprio Luís de Camões.
A moçambicana Paulina Chiziane, que se tornou em 2021 a primeira mulher africana a vencer esta que é a maior distinção da língua portuguesa, receberá o prêmio no próximo dia 5 de maio.
Depois, ainda haverá a cerimônia do ganhador mais recente, o ensaísta e crítico literário mineiro Silviano Santiago, também autor de romances premiados como “Machado” e “Em Liberdade”.
Criado há 32 anos pelos governos do Brasil e de Portugal, o prêmio concede ao vencedor 100 mil euros divididos entre os dois países, com o costume de revezar seus ganhadores entre autores brasileiros, portugueses e de países da África lusófona.
WALTER PORTO / Folhapress