SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mais de cem cidadãos do Nepal que trabalhavam na segurança da embaixada britânica no Afeganistão antes de o grupo Talibã retomar o poder foram deportados do Reino Unido em processos secretos e aparentemente inconstitucionais, segundo o jornal britânico The Guardian.
Os nepaleses foram levados à Europa na caótica retirada de militares e diplomatas do Afeganistão em agosto de 2021, quando as forças do Talibã se aproximavam da capital, Cabul. Poucos dias depois de chegarem ao Reino Unido, eles foram deportados mesmo com a posse de um visto que em tese garantia a permanência por seis meses em território britânico.
Alguns dos antigos funcionários da embaixada britânica foram retirados à força de quartos de hotel nas cidades de Northampton, Reading, Oxford e Swindon. As operações aconteceram antes mesmo de serem completados os dez dias de quarentena à época obrigatórios para recém-chegados ao Reino Unido.
No mês passado, outros dez nepaleses que permanecem no Reino Unido foram detidos numa operação conduzida pelo Ministério do Interior. Em nota, a pasta informou que as deportações foram suspensas porque precisavam de um “análise mais aprofundada” e que os ex-funcionários foram levados de Cabul como “um gesto de boa vontade”, com o entendimento de que deveriam retornar aos seus países de origem.
Em carta de protesto enviada a autoridades, os guardas deportados disseram que foram enganados pelas forças de segurança do Reino Unido. “Eles nos deportaram à força para o Nepal e contra a nossa vontade. Não tivemos a opção de permanecer no Reino Unido para maior proteção humanitária”, afirmam.
O Talibã tomou o controle do Afeganistão em agosto de 2021, logo após o presidente Joe Biden anunciar a retirada oficial de suas tropas no país do Oriente Médio. A conquista dos fundamentalistas foi tão rápida que os americanos e seus aliados europeus precisaram adiantar as decolagens dos voos militares.
A entrada dos extremistas em Cabul ocorreu sem resistência, apesar de relatos de tiroteios esporádicos, em 15 de agosto de 2021, numa derrota para os americanos. Em 2001, as forças do Talibã havia se retirado da capital sob as bombas americanas e britânicas.
Embora tenha prometido moderação, o Talibã reintroduziu práticas como o apedrejamento, flagelações e amputações de mãos para crimes menores, entre os quais roubos e adultérios. Em dezembro do ano passado, foi promovida a primeira execução pública de um criminoso.
No início do mês, a Casa Branca divulgou documento que culpa o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump pela saída atabalhoada dos militares americanos do Afeganistão. Segundo o registro, formulado pela administração de Biden, “não havia sinais de que mais tempo, mais fundos ou mais americanos” pudessem ter mudado fundamentalmente o episódio.
Ao Guardian, alguns dos nepaleses deportados afirmaram que corriam riscos durante o trabalho no Afeganistão. “Sempre estivemos sob ameaça”, disse Deepak Punmagar, 42. “Não sabíamos se iríamos sobreviver. Quando cheguei ao Reino Unido me senti seguro, mas fui deportado para o Nepal em 17 de agosto.” Procurada pelo jornal britânico, a embaixada do Nepal não quis se manifestar.
Também nesta terça, o suposto autor de um atentado terrorista no aeroporto de Cabul foi morto, afirmaram autoridades americanas. O ataque do Estado Islâmico, que matou cerca de 170 afegãos e 13 soldados americanos, aconteceu em 2021, quando os EUA tiravam suas tropas do país. Segundo as autoridades, os EUA não estão envolvidos na morte.
Redação / Folhapress