Anunciado como viagem experimental para o próximo dia 12 de outubro, o Expresso dos Romeiros, projeto do governo estadual e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) com trem turístico para Aparecida (181 km de SP), deverá ficar, literalmente, parado na estação.
Isso porque a MRS Logística, concessionária de carga responsável pelo trecho ferroviário entre São Paulo e Rio de Janeiro, barrou, ao menos por enquanto, a extensão para Aparecida do Expresso Turístico, que já realiza viagens aos fins de semana para Jundiaí (58 km de SP), Paranapiacaba, em Santo André (ABC), e Mogi das Cruzes, também na região metropolitana de São Paulo.
Em nota, a MRS disse que a informação sobre a circulação de trem de passageiros entre São Paulo e o Vale do Paraíba, onde fica Aparecida, “não procede”.
“Projetos como este são complexos e exigem análise técnica profunda e criteriosa, conforme regulamentação específica”, afirmou a concessionária. No texto enviado à reportagem, a MRS disse ser uma operadora ferroviária de carga e que não está habilitada para prestar serviço de transporte de passageiros.
Na semana passada, em nota, a Secretaria de Turismo do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou à Folha de S.Paulo que haveria uma viagem experimental a Aparecida na data em que se celebra o Dia da Padroeira, com duração estimada de 5h30 para cada trecho de ida e volta.
“Foi acordado com a CPTM que haverá uma viagem experimental realizada como teste no mês de outubro, aproveitando as festividades de Aparecida, saindo da estação da Luz, com destino à cidade de Aparecida”, afirmou a secretaria na nota da semana passada. “Haverá uma assinatura de um termo de cooperação junto à CPTM para as ações conjuntas em prol da promoção dos trens turísticos.”
“Após a viagem experimental, serão avaliados os impactos e a aceitação do público quanto à viagem, para a tomada de decisões quanto ao futuro deste importante atrativo turístico ferroviário”, acrescentava.
Na ocasião, Luiz Otávio Libério, que comanda o setor de novos negócios da CPTM, disse à Folha de S.Paulo que a companhia de trens estava conversando com empresas e outros órgãos que poderiam ser envolvidos na implantação de um projeto-piloto para Aparecida.
Questionada nesta quarta-feira (26) se iria recuar da criação do Expresso dos Romeiros e se havia negociado com a MRS, a Secretaria de Turismo e Viagem não respondeu à pergunta da reportagem. Disse apenas que mantém contato com a CPTM e a com Secretaria dos Transportes Metropolitanos e com concessionárias de trechos compartilhados com a companhia para estudos de novos roteiros para o serviço Expresso Turístico, “com ações conjuntas para verificação de formatos de propostas em prol da promoção dos trens turísticos”.
Além de Aparecida, há planos para expandir o trem turístico para Campos do Jordão (SP), na região da serra da Mantiqueira, e para Santos (SP), na Baixada Santista. A ideia de fazer os três roteiros é discutida há mais de dez anos na CPTM.
A MRS afirmou ter sido procurada recentemente “por algumas entidades”, sem mencionar quais, mas disse diz que, por ora, não há nem sequer um projeto estruturado. “Portanto, no momento, não é possível cogitar a possibilidade aventada.”
Segundo a CPTM, o trecho entre a estação da Luz, no centro de São Paulo, e Aparecida, é de 197 km, sendo 33 km pertencentes à companhia estatal -os outros 164 km são administrados pela MRS.
Por causa da alta procura do Expresso Turístico -os bilhetes vendidos pela internet costumam se esgotar em 24 horas-, a CPTM ampliou a capacidade de passageiros com a incorporação de dois vagões, um em operação desde março e outro que começa a rodar em maio. Com isso, a capacidade passará de 166 para 352 pessoas.
Os dois novos vagões são de aço inox produzidos no Brasil pela Budd Mafersa na década de 1960, assim como os que já circulavam. A rota é feita numa locomotiva a diesel, modelo Alco, fabricada em 1952, que conduz os carros de passageiros.
Ainda em 2023, a estatal paulista planeja acoplar um carro restaurante no trem turístico. O vagão está no pátio da concessionária de ferrovias Rumo, em Paulínia (120 km de SP). “As equipes estão definindo os detalhes para concluir a documentação do processo”, afirmou a empresa de logística.
A CPTM também negocia com a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos o empréstimo de uma litorina do governo para operar como sexto carro, numa versão mais luxuosa, com ar-condicionado, serviço de bordo e passagem mais cara.
Criado em 2009, o Expresso Turístico já fez mais de 1.200 viagens para os três destinos disponíveis atualmente e transportou cerca de 1.700 passageiros.
Na nota enviada nesta semana, a concessionária MRS disse que trens de carga e de passageiros que compartilham os mesmos trechos representam uma série de riscos que devem ser tratados com rigor.
“Não é à toa que no plano de investimentos da MRS para a renovação de sua concessão consta a execução de obras para separar trens de carga e de passageiros na região metropolitana de São Paulo”, afirmou.
No trajeto entre a estação da Luz e a vila de Paranapiacaba, porém, o trecho final, a partir de Rio Grande da Serra, é feito em área sob concessão da própria MRS, responsável pela malha ferroviária entre Santos e Jundiaí e que passa pelo ABC. Do total, 34,5 km são da linha 10-turquesa da CPTM e os 14,5 km restantes estão sob concessão.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress