Há 20 anos, sob circunstâncias diferentes, Júnior também deixava Corinthians após dois jogos como técnico

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Poucos dias de trabalho, dois jogos e um técnico de saída, assustado. Em circunstâncias evidentemente bem diferentes, o Corinthians reviveu com Cuca o que experimentara com Júnior, 20 anos antes.

Já na madrugada desta quinta-feira (27), após a suada classificação diante do Remo às oitavas de final da Copa do Brasil, Cuca se despediu. Teve seis dias de trabalho e disse partir a pedido de familiares, em meio à renovada repercussão de um caso de violência sexual de 1987 pelo qual foi condenado na Suíça.

“Vou fazer 59 anos no mês que vem. Você pesa o que vale o que não vale a pena na vida. Quero fazer valer a pena minha família. Não esperava esta avalanche que vivi aqui”, afirmou o paranaense. “Saio neste momento, não é o que eu queria.”

Júnior também não imaginava que daria adeus tão brevemente. Apresentado em 3 de outubro de 2003, pediu as contas dez dias depois, aturdido. “Para a cúpula corintiana, Júnior se assustou com a responsabilidade”, relatou a Folha de S.Paulo, em sua edição do dia 14.

Então com 49 anos, o paraibano foi o nome escolhido após uma desastrosa atuação contra o Juventude, com derrota por 6 a 1 e cargo entregue pelo técnico Geninho ainda no gramado em Caxias do Sul. Rivellino chegou como diretor técnico e indicou o amigo, seu companheiro em transmissões no SporTV, como responsável pelo time.

Ídolo do Flamengo, Júnior tinha trabalhado como treinador apenas no próprio time rubro-negro, entre 1993 e 1994 e em 1997, sem grande sucesso. Também havia comandado a seleção brasileira de futebol de areia, currículo que gerou questionamentos.

No dia do acerto, o ex-jogador se encontrou com o presidente da República, que, como hoje, era o alvinegro Luiz Inácio Lula da Silva. Em evento do Ministério do Esporte em Brasília, o petista advertiu que assumir o Corinthians naquele momento seria “tarefa difícil”, mas ofereceu sua torcida.

“Veja, um flamenguista é mais que um flamenguista, é um Júnior, é daquelas pessoas que todo o mundo gostaria de ter no seu time. Se o Rivellino e o Júnior conseguirem passar para a meninada 10% do que eles jogaram, o Corinthians já vai ter o melhor time do mundo”, disse Lula.

Eles não conseguiram. No treino do dia 7, Júnior chegou a se exasperar com os jogadores que praticavam cobranças de falta. Amarrou as chuteiras e, com precisão, mostrou como se fazia. “A melhor coisa do mundo é dar o exemplo. Mostrar as jogadas na prática vai ser uma rotina nos treinamentos, mas não vou exigir das pessoas nada que elas não possam fazer.”

Jamelli arregalou os olhos. “Com o Júnior e o Rivellino por aqui, treinar falta vai ser complicado. Se a gente mandar a bola na arquibancada, vai ser uma vergonha”, afirmou o meia, que passou pelo constrangimento por pouco tempo.

Contratado com a ideia de “voltar ao romantismo”, como declarou, o paraibano viu uma realidade mais dura de perto. Ele chegou dizendo não conhecer os jogadores, porque, “no Rio, as emissoras privilegiam os times cariocas”. E foi às tribunas do Barradão, em Salvador, observar o triunfo por 2 a 1 sobre o Vitória, sob comando do interino Jairo Leal, gol do atacante Gil no final.

“Vi muitos erros. Precisamos trabalhar”, disse o técnico, que foi à luta.

Sua estreia seria no dia 8, contra o São Caetano, de Tite, no Pacaembu. Aos nove minutos do primeiro tempo, o placar já exibia em vantagem a formação do ABC, que venceria por 3 a 0, gols de Warley, Capixaba e Adhemar.

Segundo relato do jornal Folha de S.Paulo, não demorou para o público presente no estádio municipal de São Paulo se irritar. “‘Júnior, tira a mão do bolso, meu!’, gritou um torcedor, das numeradas. ‘Dá um esporro nesses pernas-de-pau’, exigiu outro.”

“Fiquei decepcionado porque esperava um rendimento melhor. Também não pode faltar a raça corintiana, e vamos conversar sobre isso”, declarou o treinador, que pediu “paciência até o final do ano que vem”, dezembro de 2004, data prevista para o término de seu contrato.

Ele teve atrito com dirigentes, que estabeleceram prêmio para eventual classificação à Copa Libertadores. “Não vamos enganar a torcida”, disse, ciente de que pular da décima colocação para as primeiras da tabela era inviável. “Gostaria de ter o Ronaldinho Gaúcho e o Kaká à disposição, mas, no futebol, você trabalha com o que tem.”

Ele tinha isto: Rubinho; Coelho, Anderson, Marquinhos e Moreno; Pingo, Fabinho, Robert e Renato; Abuda e Gil. Entraram no segundo tempo Vinícius Fininho, Jô e Jamelli. E o Corinthians perdeu de novo por 3 a 0, desta vez para o rival São Paulo, no Morumbi, um jogo de placar fechado com gol de calcanhar de Fábio Simplício.

“Eu tinha noção dos jogadores que tínhamos, mas não sabia que estávamos com essa deficiência ofensiva”, afirmou Júnior, aparentemente satisfeito com o desempenho defensivo naquele 12 de outubro. No dia seguinte, pediu o boné.

*

JÚNIOR NO CORINTHIANS

8.out.03 – Pacaembu

Corinthians 0 x 3 São Caetano

Gols: Warley, Capixaba e Adhemar

12.out.03 – Morumbi

São Paulo 3 x 0 Corinthians

Gols: Diego Tardelli, Carlos Alberto e Fábio Simplício

CUCA NO CORINTHIANS

23.abr.23 – Serrinha

Goiás 3 x 1 Corinthians

Gols: Róger Guedes (COR); Matheus Peixoto, Lucas Halter e Apodi

26.abr.23 – Itaquera

Corinthians (5) 2 x 0 (4) Remo

Gols: Adson e Róger Guedes

MARCOS GUEDES / Folhapress

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