Nesta semana, o legislativo de Ribeirão Preto aprovou uma indicação do vereador André Rodini (Novo) a respeito da segurança dos alunos nas escolas do município. O documento foi apresentado em 20 de abril, e atualmente se encontra com a Secretaria Executiva para análise após votação realizada nesta terça-feira (25). Mesmo com boa impressão por parte dos políticos municipais, no entanto, para especialistas, a medida ainda levanta suspeitas sobre a sua real aplicabilidade na rotina estudantil.
Como justificativa para tal pauta, Rodini afirma que a proposta foi enviada após conversa com mães de alunos que denunciaram bullying e violência física contra seus filhos no espaço escolar.
“Encaminhamos ao Executivo Municipal, nos termos permitidos pelo Regimento Interno deste Poder Legislativo Municipal, a presente propositura, em forma de indicação, para que o prefeito municipal avalie a possibilidade de criação de um dispositivo para denúncia anônima sobre ocorrência de bullying nas dependências das escolas no município”, afirma trecho do documento.
Agora, o projeto deve ser discutido com a Secretaria da Educação para real implantação da medida nas dependências municipais.
O jornalismo do Grupo Thathi contactou todos os vereadores de Ribeirão Preto para entender o que cada um pensa a respeito do tema proposto e aprovado. Confira:
Alessandro Maraca (MDB)
“A indicação do nobre Edil vem de acordo com a lei de minha autoria que institui a política municipal de prevenção e combate ao bullying e cyberbullying no município, que a propósito estamos cobrando o Executivo o cumprimento desta lei, sancionada no último ano. O nosso objetivo como legisladores é eliminar todas as formas de discriminação, principalmente nas escolas.”
Brando Veiga (Republicanos)
“A minha opinião é que tudo que não fere a sociedade acrescenta ao desenvolvimento dos trabalhos executados no município, por isso penso que é de grande valia a proposta do vereador André Rodini, para assim diminuir os Bullying nas escolas e consequentemente, as ocorrências e a violência.”
Matheus Moreno (MDB)
“Dar voz às crianças que têm sofrido violência notadamente nas escolas é uma forma de combater essa antiga lamentável prática ainda exercida por alguns nas escolas de ensino básico.”
Renato Zucoloto (Progressista)
“Acho válida qualquer medida que tenha por objetivo denúncia ou apuração de bullying no ambiente escolar. Apenas não sei se tal medida seria efetiva à se evitar a prática de tal conduta.”
** Todos os vereadores da Câmara de Ribeirão Preto foram consultados, e o texto será atualizado conforme a manifestação dos políticos que não responderam o pedido dentro do prazo estabelecido. **
Executivo
Através da Prefeitura, a Secretaria da Educação foi consultada a respeito da proposta, porém a pasta não se manifestou até o fechamento do texto.
Eficiência duvidosa
Ao Grupo Thathi, o psicanalista José Romero Nobre de Carvalho explicou que a proposta, ao invés de contribuir para o fim da violência, pode acabar gerando outros tipos de problemas no ambiente escolar.
De acordo com o professor, a forma de prevenção não traz um resultado positivo, tendo em vista que os alunos podem realizar as denúncias com o único objetivo de criar um clima de revanche ou até por motivo de atrito interpessoal, o que acaba gerando uma situação de desconfiança no ambiente de estudo.
“O mais óbvio seria a escola estabelecer com os alunos um diálogo calcado por um projeto pedagógico que privilegiasse a formação sócio-emocional dos estudantes. Isso seria muito mais pedagogicamente produtivo para a formação dessas crianças e adolescentes do que o clima de denúncia”.
Além disso, o profissional ainda alerta para a possibilidade de denúncias baseadas na brincadeira, perseguição e até a possibilidade de uso do dispositivo para a realização de bullying e exclusão dos alunos. “Podem existir muitas denúncias vazias, sem sentido, feitas por brincadeiras, perseguição ou como uma forma de bullying e agressão, então não acho que seja eficiente. O que eu acho eficiente é um projeto político e pedagógico voltado para a formação sócio-emocional dos alunos”, terminou.
Para Águiner Willian Rodrigues, psicólogo e neuropsicólogo, a plataforma de denúncia pode trazer diversos benefícios aos alunos, desde que o ato seja acompanhado por profissionais especialistas, além do essencial interesse do do poder público em implantar tal mecanismo.
“Ser for um portal seguro, tem tudo para trazer inúmeros benefícios, uma vez que quem tiver acesso seja orientado por especialistas para o manejo da situação. E válido lembrar que logo que se instala algo do tipo a tendência já é a inibição de atos de Bullying uma vez que o poder público mostra interesse nesse sentido”, destaca Rodrigues.
O especialista ainda ressalta que, além do ato de denúncia, é necessário pensar em suporte para as vítimas, além de medidas contra tais agressores. “Outra questão se pensar é: e depois quais serão as medidas e suportes oferecidos as vítimas e a ações aos agressores? Se tiver ações contundentes maravilha, funciona. Mas se não houver ações, a tendência é piorar a situação”, afirma.