Em 28 de abril de 2013, o Brasil perdia, aos 83 anos de idade, um de seus grandes compositores: o paulistano Paulo Vanzolini, responsável por grandes sucessos da nossa MPB como os clássicos Ronda, Volta por Cima e Na Boca da Noite (parceria com Toquinho).
Para homenageá-lo, confira as histórias de uma de suas maiores composições, que inspirou Caetano Veloso a escrever a música Sampa.
A música ‘Ronda’ se tornou uma espécie de hino de São Paulo
Gravada pela primeira vez em 1953, por Inezita Barroso, Ronda tornou-se uma espécie de hino da cidade de São Paulo, por falar sobre a vida boêmia da Terra da Garoa:
De noite eu rondo a cidade
A te procurar sem encontrar.
No meio de olhares espio,
Em todos os bares
Você não está…
Anos depois, o último verso da canção serviu de inspiração para que Caetano Veloso compusesse o primeiro verso de outro hino da cidade: Sampa.
Em entrevistas, Caetano conta que a música de Paulo Vanzolini foi inspiração para criar a composição. A canção de Paulo termina com o verso “Cena de sangue num bar da Avenida São João”, que deu origem também ao primeiro verso da música de Caetano.
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!
Já Volta Por Cima, gravada primeiramente por Noite Ilustrada em 1962, fez muito sucesso na voz de Elza Soares, que a gravou no ano seguinte, e contém um verso que caiu na boca do povo e do qual Vanzolini se orgulhava muito de ter escrito:
“Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!”.
Paulo Vanzolini também era zoólogo e foi um dos idealizadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ativo colaborador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.
A história de ‘Sampa’, de Caetano Veloso
Em ‘Sampa’, Caetano Veloso fala sobre sua primeira impressão de São Paulo
A primeira impressão de Caetano Veloso sobre a cidade não foi das melhores:
“Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto / Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto (…) E foste um difícil começo / Afasto o que não conheço / E quem vende outro sonho feliz de cidade / Aprende depressa a chamar-te de realidade / Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”.
O baiano logo se deparou com a dura realidade política e a imensa desigualdade social da cidade de São Paulo:
“Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas / Da força da grana que ergue e destrói coisas belas / Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas.”
Mas… não demorou muito para Caetano também se apaixonar pela deselegância discreta paulistana: seu coração bateu mais forte quando cruzou o principal encontro entre avenidas da cidade (a famosa esquina das Avenidas Ipiranga e São João), mas também quando mergulhou de cabeça na cultura paulistana, conhecendo grandes artistas e movimentos da capital.
Entre eles:
- A cantora e compositora paulistana Rita Lee (a quem atribui justamente o título de “a mais perfeita tradução” da cidade);
- a poesia concretista de Jorge Mautner (Deus da Chuva e da Morte é o primeiro romance do poeta);
- o escritor José Agrippino de Paula (autor do livro Panamérica);
- os movimentos de vanguarda e os modernistas Oswald e Mário de Andrade;
- e o diretor Zé Celso Martinez Corrêa (do famoso Teatro Oficina, que fica no centro da cidade).
A canção foi composta para um programa de TV no aniversário de São Paulo, em 1978, quando Caetano já morava no Rio, e entrou para o seu o LP Muito – Dentro da Estrela Azulada, do mesmo ano.