Erdogan faz campanha remota e alimenta boatos sobre doença às vésperas de eleição

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, 69, deixou de comparecer presencialmente a um evento de campanha por problemas de saúde pelo terceiro dia consecutivo nesta sexta-feira (28), a poucos semanas das eleições presidenciais. Segundo o governo, o líder se recupera de uma infecção intestinal.

O pleito na Turquia está marcado para o próximo dia 14 e promete ser acirrado. É apontado como o maior teste para Erdogan desde sua chegada ao poder, há 20 anos. O presidente foi bastante criticado pela resposta aos terremotos que atingiram o país e a Síria em fevereiro, com mais de 50 mil mortes, e perdeu popularidade. Pesquisa divulgada no começo do mês pelo instituto turco Metropoll apontou Kemal Kilicdaroglu, líder do maior partido de oposição, com ligeira vantagem na disputa.

Em campanha, Erdogan deveria ter comparecido nesta sexta à inauguração de uma ponte e a um comício político na cidade de Adana, no sul da Turquia, segundo a rede Al Jazeera. Devido à infecção, a viagem foi cancelada, e o presidente participou via videoconferência do palácio presidencial, em Ancara.

Erdogan manifestou dor de estômago na última terça (25), quando teve de interromper uma entrevista ao vivo na televisão. No dia seguinte, ele não compareceu à inauguração da primeira usina nuclear na Turquia, construída pela empresa russa Rosatom. “Hoje vou descansar em casa seguindo os conselhos médicos”, escreveu nas redes sociais.

Os cancelamentos alimentaram vários boatos na internet sobre o estado de saúde de Erdogan, entre as quais a de que ele teria sido envenenado, e que são desmentidos pelas autoridades. O diretor de comunicação da Presidência turca, Fahrettin Alttin tem reiterado que o presidente está com uma infecção gastrointestinal. Nesta sexta, ele voltou a rejeitar o que chamou de “informações infundadas”.

Segundo a Al Jazeera, Erdogan estava pálido em outro evento do qual participou por videoconferência na quinta (27). O governo turco ainda não informou quando ele deve voltar a comparecer presencialmente aos compromissos de campanha.

Erdogan, que passou por uma cirurgia gastrointestinal em 2011, tornou-se primeiro-ministro da Turquia em 2003, na esteira de crise econômica e grande insatisfação popular com partidos no poder -algo que beneficiou sua legenda-, depois de outro terremoto matar mais de 17 mil pessoas no país, em 1999.

A resposta do governo ao terremoto deste ano só aumentou a insatisfação da população com o governo, que já vinha de um cenário recente de inflação e perda de valor da lira com fortes impactos no custo de vida. Em outubro, a inflação anual atingiu 85,5%, o maior índice em 25 anos.

No último ano, Erdogan teve papel ativo na Guerra da Ucrânia. O turco conversou várias vezes com seu homólogo na Rússia, Vladimir Putin, desde que as forças russas invadiram o país vizinho em fevereiro de 2022. A Turquia também atuou como mediadora ao lado da Organização das Nações Unidas (ONU) para estabelecer um acordo que permitisse a exportação de grãos dos portos ucranianos.

Em relação à inauguração da usina nuclear construída pela Rosatom, Putin afirmou que o projeto é emblemático e contribui para a aliança entre Moscou e Ancara. O russo também elogiou Erdogan dizendo que ele é um líder com objetivos ambiciosos.

Considerado polarizador, Erdogan é apoiado por parcela significativa da população turca, sobretudo a ala muçulmana mais conservadora. Em duas décadas de poder, o atual presidente foi acusado por críticos e opositores de erodir a independência do Judiciário, corroer a liberdade da imprensa e enfraquecer o respeito aos direitos humanos no país.

Redação / Folhapress

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