ASSUNÇÃO, PARAGUAI (FOLHAPRESS) – Com mais de 40% das urnas apuradas no Paraguai, o candidato colorado Santiago Peña sai na frente do liberal Efraín Alegre em eleição de turno único. Se confirmado, o resultado mantém no poder o partido conservador que domina o país vizinho há praticamente 70 anos.
O economista, que é novo na política, tem como padrinho político o ex-presidente e atual líder da sigla Horacio Cartes, homem mais poderoso do país. Dono de bancos e empresas de cigarros, Cartes foi classificado de “significativamente corrupto” pelos Estados Unidos em janeiro.
Até o momento, Penã tem 45,5% dos votos apurados, contra 28,3% de Alegre. O opositor formou uma grande coalizão de centro-esquerda a centro-direita, mas não consegue até agora superar o favoritismo e a máquina política do rival -a grande maioria dos funcionários públicos no país, por exemplo, é filiada ao Colorado.
O novo presidente terá como principais desafios lidar com uma estagnação econômica que acomete o país desde a pandemia da Covid-19, com índices altíssimos de informalidade no trabalho (no mesmo nível há uma década) e com o crescimento da violência, especialmente na fronteira com o Brasil.
Também terá que renegociar parte do acordo da hidrelétrica de Itaipu com o Brasil, que completou 50 anos na semana passada. Em entrevista à Folha em março, Peña disse estar ansioso para trabalhar com Lula e defendeu o Mercosul como instrumento de integração regional.
As eleições paraguaias foram marcadas por uma grande indefinição, longas filas e clima de tensão. Havia uma grande expectativa da oposição de que finalmente poderia haver uma alternância de poder, já que o Colorado estava enfraquecido pelas denúncias de corrupção e estagnação econômica.
O Colorado domina o país desde a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), a quem Peña já chegou a elogiar. A exceção foi a gestão do ex-bispo de esquerda Fernando Lugo, de 2008 a 2012, que sofreu um impeachment a meses de completar o mandato.
“Meu elogio se restringe ao fato de que, quando estava no poder, tinha um acordo político tão forte e duradouro, sem a preocupação com sucessões presidenciais, que fez com que fosse possível desenhar políticas de longo prazo e mantê-las. […] Mas exagerou, e de nenhuma maneira sou a favor dos abusos de direitos humanos cometidos no período”, afirmou ele à Folha.
As expectativas eram de um resultado mais apertado, ainda que as pesquisas eleitorais do país não sejam tratadas como confiáveis –o principal jornal do país, por exemplo, não publicou nenhuma delas ao longo da corrida eleitoral. Levantamentos da AtlasIntel apontavam empate técnico entre os dois.
JÚLIA BARBON / Folhapress