Bolsa fecha em queda e dólar sobe antes de decisões sobre juros no Brasil e nos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou em queda nesta terça-feira (2), refletindo os índices americanos e a cautela do mercado antes de decisões sobre juros do Banco Central (BC) e do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

O Ibovespa fechou em queda de 2,40%, a 101.926 pontos. O dólar subiu 1,16%, a R$ 5,046.

Nos mercados futuros, os contratos de juros com vencimentos para janeiro de 2025 caíam de 12,06% para 12,00%. Os para 2027 ficaram estáveis em 11,81% para 11,76%, e os de 2029 saíam de 12,11% para 12,13%.

A queda na Bolsa brasileira acompanha os índices dos Estados Unidos, impactados pela preocupação com o setor bancário do país. Dow Jones e Nasdaq fecharam em queda de 1,08%, enquanto o S&P500 caiu 1,16%.

A queda do Ibovespa também foi puxada pelas ações ligadas às commodities, como Vale e Petrobras, que têm grande peso no índice, destaca o economista da Nomos Alexsandro Nishimura.

As ações da Vale caíram 4,26%, enquanto a Petrobras registrou queda de 4,53% nas ações ordinárias e de 4,09% nas preferenciais, após diminuição nos preços do petróleo e do minério de ferro.

O petróleo tipo Brent caiu cerca de 5%, para US$ 75,32, uma mínima de cinco semanas, devido a preocupações com a economia americana. Já o minério de ferro caiu 0,51%.

Pressiona o mercado, ainda, a cautela dos investidores ante as reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) e do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, do Fed), que divulgam na quarta-feira (3) suas decisões sobre política monetária.

No Brasil, a expectativa é de que a Selic (taxa básica de juros) seja mantida em 13,75% ao ano, mesmo com a ofensiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o atual nível de juros no país. Na segunda-feira (1°), durante ato do Dia do Trabalho das centrais sindicais, Lula afirmou que a taxa de juros do Brasil não controla a inflação, mas sim o desemprego.

Na semana passada, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a taxa básica de juros é um instrumento que precisa ser conduzido com credibilidade para criar condições favoráveis para a economia brasileira crescer.

“O que importa na economia não é a Selic, é o que a gente chama de condições financeiras, que é o total que eu tenho liquidez na economia. A Selic é um instrumento que, para gerar condições de liquidez, tem que ser conduzido com credibilidade”, afirmou Campos Neto.

Além da decisão sobre os juros, o mercado espera principalmente a divulgação da ata da reunião de política monetária desta semana, afirma o economista-chefe da Valor Investimentos, Piter Carvalho.

“O mercado vai analisar o tom do Copom, a percepção em relação ao novo arcabouço fiscal e se o comitê dará sinais de que vai começar a baixar os juros”, diz Carvalho.

“Embora o arcabouço fiscal gere entusiasmo, a viabilidade para um corte de juros só vai acontecer após a tramitação no Congresso, onde o texto pode sofrer alterações relevantes”, afirma Camila Abdelmalack economista-chefe da Veedha Investimentos.

Segundo analistas da Levante Investimentos, apesar de não haver dúvidas no mercado sobre as decisões do Copom e do Fed, a expectativa com as indicações futuras é grande, o que deve deixar os investidores na defensiva.

Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou o ritmo de alta para 0,57% em abril, a menor taxa desde 2020, o que sinaliza um alívio na alta de preços.

A interpretação do BC sobre o dado, porém, ainda pode sustentar a manutenção do atual nível de juros, diz a Levante.

“O Copom pode interpretar essa informação como um ponto isolado, que ainda precisa de confirmação nos levantamentos futuros, ou como o início de uma tendência de desaceleração dos preços”, afirmam os analistas.

As metas de inflação do BC são de 3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025, com margens de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Investidores repercutem, ainda, a MP (medida provisória) publicada pelo governo no domingo (30) com iniciativas para tributar rendimentos no exterior de pessoas físicas residentes no Brasil, com o objetivo de compensar a elevação da isenção do Imposto de Renda.

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourivest, diz que há incômodo do mercado sobre a condução das contas públicas pelo governo.

“A percepção é de que o governo vai fazer ajustes nas contas públicas via aumento na arrecadação, sem corte de gastos. Isso acaba impactando na percepção de risco no Brasil e, consequentemente, na nossa moeda”, diz Quartaroli.

Nos EUA, é esperado um aumento de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros pelo Federal Reserve, especialmente após a divulgação, na semana passada, de que a inflação do país foi de 4,2% em março, mostrando-se persistente e ainda bem acima da meta de 2% do Fed.

A expectativa é que o provável aumento desta semana seja o último do atual aperto monetário dos EUA, mas o Fed ainda deve manter o tom duro de combate à inflação.

“O cenário americano ainda é misto, com economia forte e baixo desemprego, mas inflação em alta. O Fed deve manter o tom mais duro e não dar sinais de que deve baixar os juros ainda esse ano, apesar do que o mercado acredita. O cenário de juros altos ainda faz parte do mundo”, diz Carvalho.

O PCE (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), indicador de inflação acompanhado pelo Fed para tomada de decisões sobre os juros, teve alta de 4,2% em março na comparação anual, uma desaceleração quando comparado à subida de 5,1% registrada em fevereiro. Apesar da diminuição, o indicador ainda mostra uma inflação persistente no país.

O mercado americano também foi impactado pela preocupação com o setor bancário do país, após a falência do First Republic Bank, que foi comprado pelo JPMorgan na segunda-feira (1°), sob os efeitos da crise bancária em curso no país desde março.

Ações de bancos regionais americanos fecharam em queda nesta terça com o temor de investidores sobre a saúde do sistema financeiro dos EUA, o que puxou os indicadores para baixo.

O PacWest Bank, banco americano de médio porte, chegou a ter seus papéis suspensos nas negociações em Nova York e registrou queda de 27,8% em suas ações nesta terça. O Western Alliance, outro banco regional, teve queda de 15%.

Os bancos dos EUA são pressionados, ainda, pelas discussões sobre o teto da dívida pelo governo americano.

Na agenda da semana, há expectativa também para a divulgação sobre juros na zona do euro pelo BCE (Banco Central Europeu). A previsão é de uma nova alta nas taxas, mas de 0,25 ponto percentual, o que representaria uma diminuição em relação ao aperto monetário promovido pelo banco.

Nesta terça (2), foi divulgado que a inflação da zona do euro acelerou no mês passado, mas o crescimento do núcleo dos preços diminuiu inesperadamente, ampliando os argumentos de um aumento menor da taxa de juros.

O BCE elevou as taxas de juros em pelo menos 0,50 ponto percentual em cada uma de suas últimas seis reuniões.

MARCELO AZEVEDO / Folhapress

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