SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O membro da Jihad Islâmica Khader Adnan morreu nesta terça-feira (2) aos 45 anos sob a custódia de Israel após uma greve de fome de 87 dias. O Estado hebreu havia detido o palestino no início de fevereiro e o manteve na prisão à espera do julgamento desde então.
Adnan era acusado de envolvimento com o grupo radical, que Tel Aviv considera terrorista, e de incentivo verbal à violência.
A Jihad Islâmica jurou vingança pela morte do militante, provocando temores de uma nova escalada da violência na Faixa de Gaza três foguetes e um projétil foram lançados em direção a Israel na madrugada, de acordo com o seu Exército, atingindo apenas áreas afastadas ou próximas da fronteira. Mais tarde, uma contraofensiva israelense levou as duas forças a trocarem tiros na região.
Em nota, a Jihad Islâmica disse que a morte de Adnan havia sido “poderosa e honrosa” e que Tel Aviv “pagará o preço por este crime”. “Se o povo palestino não tivesse pessoas como Khader, nossa causa não teria repercussão”, disse Ziad al-Nakhale, dirigente da facção. Apesar de ter presença limitada na Cisjordânia, ela é o segundo grupo mais bem equipado de Gaza em termos de armas.
A região amanheceu com centenas de pessoas reunidas em uma marcha em homenagem a Adnan. Já na Cisjordânia ocupada, comerciantes palestinos convocaram uma greve geral e fecharam suas lojas, e um israelense foi ferido após dois veículos serem atingidos por tiros, de acordo com as Forças Armadas de Tel Aviv.
A administração penitenciária de Israel informou que Adnan, que havia iniciado sua greve de fome assim que foi preso, em 5 de fevereiro, foi encontrado inconsciente em sua cela nesta terça-feira e encaminhado então a um hospital, onde foi declarado morto após tentativas de ressuscitá-lo. As autoridades ainda afirmam que o militante havia recusado consultas médicas e ofertas de tratamento.
A versão é contestada pelo advogado de Adnan, Jamil Al-Khatib, e por um médico de uma organização de direitos humanos que se reunira com ele dias antes. Eles afirmam que o governo israelense se negou a oferecer ao palestino o acompanhamento devido.
“Exigimos que ele fosse transferido para um hospital civil, onde poderia ser assistido de maneira apropriada. Infelizmente, nossa demanda foi recebida com rejeição e intransigência”, afirmou Al-Khatib à agência de notícias Reuters.
As alegações foram ecoadas pela esposa do militante, Randa Moussa, entrevistada pela agência AFP em sua casa em Arraba, no norte da Cisjordânia, na sexta. Ela ainda afirmou que as condições da detenção eram muito difíceis e disse estar orgulhosa da morte do marido nas circunstâncias em que se deram.
Adnan havia realizado ao menos três greves de fome em protesto após ser preso por Israel desde 2011. A tática é usada por muitos outros prisioneiros palestinos, mas nenhum deles havia morrido desde 1992.
Autoridades manifestaram preocupação de que o caso agrave a crise na região. As tensões aumentaram em janeiro, com a morte de dez palestinos durante uma ação do Exército israelense na Cisjordânia. Autoridades israelenses disseram ter trocado tiros com militantes da Jihad Islâmica e do Hamas, outro grupo considerado terrorista por diversos países ocidentais.
A Autoridade Palestina concebida como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado disse que inocentes foram mortos na ação e que encerraria sua parceria com Israel na área da segurança. A cooperação, que já foi interrompida em outros momentos de crise, era considerada por muitos como responsável por impedir ataques contra Tel Aviv e por manter certa estabilidade na Cisjordânia.
Desde então, vários ataques foram registrados na Cisjordânia desde o início do ano, mais de 70 palestinos e pelo menos 13 israelenses foram mortos em confrontos e ataques. No mais mortal deles, sete pessoas foram mortas a tiros em frente a uma sinagoga, em Jerusalém Oriental, no mês passado.
Outro episódio que fez aumentar a tensão foi o confronto ocorrido neste mês entre palestinos e policiais israelenses na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, local considerado sagrado para judeus e muçulmanos. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas.
Em nota, a polícia de Israel informou que foi obrigada a entrar no local após supostos desordeiros mascarados bloquearem as entradas e se armarem com paus e pedras horas depois da última oração vespertina. Já os palestinos afirmam que foram agredidos e que estavam rezando à noite, como é comum no Ramadã, quando agentes alertaram os presentes que precisavam deixar a mesquita ou seriam retirados à força.
Redação / Folhapress