BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira (3) que o principal problema do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é a articulação política.
Para ele, os ministros fazem diversas reuniões, mas tomam poucas decisões diante de cenários complexos.
“O governo Lula tem algumas facilidades de articulação, mas ao mesmo tempo esse é o maior problema do governo. Ele reúne, reúne, reúne e não decide”, afirmou.
“No Senado e na Câmara o governo tem suas dificuldades, e o nosso receio é que essa inação, numa conversa clara e tranquila com o presidente Lula, ele entende isso, teve ontem com os seus ministros essa conversa, é para que o governo reaja”, disse em entrevista à GloboNews.
Lira ainda afirmou que o governo Lula precisa entender que a relação do Executivo com os demais Poderes mudou de 2002 para 2023, com leis e estruturas que “modificaram o comando do país”, e que o governo precisa se “moldar” ao novo momento da democracia brasileira.
Ele ainda fez críticas aos ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil).
“Padilha infelizmente é o ministro da articulação política. A cobrança tem que começar por ele, mas se estende à Casa Civil, aos assessores mais próximos do presidente, aos ministros da Esplanada, líderes da Câmara e Senado. É um conjunto que precisa estar andando afinado, senão não toca a letra correta, vai tocar desafinado”, completou.
Como exemplo da falta de articulação política, Lira citou a situação das invasões do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Apesar de o governo posicionar-se contra as ações dos sem-terra, o presidente da Câmara acredita que falta ação efetiva do Executivo para debelar a crise.
“Eu recebi na minha casa membros do MST acompanhados pelo [líder do PT na Câmara] Zeca Dirceu. O agro pode conviver com a agricultura familiar tranquilamente no país […] Mas o movimento saiu da minha casa e invadiu dois Incras, a Embrapa, quatro fazendas na Bahia, um em Alagoas, outro no Mato Grosso do Sul”, disse.
“O governo, os ministros sinalizaram contra [as invasões], mas o governo não age com rigor”, afirmou. “Fiz o convite para sentar à mesa, mas não teve sequer ninguém que deu retorno para que nós sentássemos num governo que é a favor do movimento, que tem o movimento como aliado, um presidente que foi eleito com essa sensibilidade, com um Congresso que não tem nada contra. Jogam fora a oportunidade”, reclamou.
O presidente da Câmara ainda disse que vê um esforço do Congresso para evitar que as crises da articulação política e o embate promovido pela oposição afetem a discussão sobre o novo arcabouço fiscal.
“O arcabouço não está em risco, acredito que não. Eu penso que esse projeto não é de governo, não pode ser poluído como projeto de governo. Vamos trazer a nova regra. Ela foi bem recebida, faltaram alguns detalhes e será corrigida no plenário”, disse.
As dificuldades do governo Lula para ajustar a articulação política, com bancadas cada vez maiores na Câmara e difusas, impediu o governo de consolidar o apoio político no Legislativo. Dessa forma, lideranças aliados ao Planalto não sabem qual o tamanho da base na Câmara.
Diante do cenário, o governo sofreu uma série de derrotas nas últimas semanas. A principal foi o adiamento da votação do PL das Fake News, mas o governo já teve de sinalizar recuos nos decretos que alteraram regras sobre o saneamento e armas para evitar medidas mais drásticas pelo Congresso Nacional.
A equipe econômica também teve de enfrentar derrotas para aprovar um texto menos enxuto que o Ministério da Fazenda gostaria para a MP do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos).
Diante da iminente derrota no plenário, o governo recuou e aceitou um acordo para não antecipar o fim da isenção de impostos federais para empresas do setor, como queria o ministro Fernando Haddad.
A instalação da CPI mista de 8 de janeiro também foi confirmada apesar da articulação em sentido contrário do governo. O Palácio do Planalto só mudou de posição após perceber que seria inevitável alterar a rota.
CÉZAR FEITOZA / Folhapress