Projeto caça talentos em matemática com bolsa de estudo e até vaga em hotel no Rio

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Sair de Belo Horizonte para cursar o ensino superior no Rio de Janeiro não estava inicialmente nos planos de Caio Lins, 21. Uma ligação telefônica, porém, começou a mudar as pretensões do jovem em 2019.

À época, o então aluno do ensino médio recebeu um convite da FGV (Fundação Getulio Vargas) para participar do vestibular da instituição, concorrendo a uma bolsa de estudos no Rio.

Caio topou o desafio. Fez o exame, foi aprovado e teve direito ao benefício a partir de 2020. Hoje, está no quarto ano da graduação em matemática aplicada, um dos ramos dessa ciência que tem seu dia comemorado neste sábado (6).

O convite não foi obra do destino. Caio integra um grupo de jovens contemplados por um projeto da FGV para estudantes que se destacam na Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas).

Trata-se do programa Seleção de Talentos, desenvolvido desde 2017 pelo CDMC (Centro para o Desenvolvimento da Matemática e Ciências), que faz parte da instituição de ensino.

Após mapear esses estudantes no país, o projeto faz os convites para o vestibular no Rio. Se aprovados, os alunos podem escolher um dos cursos disponíveis na capital fluminense –o mais procurado é o de matemática aplicada.

A renovação da isenção de mensalidades está associada ao bom desempenho nos estudos. Além da bolsa, o programa também oferece uma ajuda financeira mensal para os jovens e até moradia subsidiada em hotéis ou alojamentos conveniados.

“No ensino médio, já sabia que queria estudar matemática ou algum curso relacionado”, conta Caio, que se mudou para o Rio há cerca de um ano. O desembarque na cidade foi atrasado porque os dois primeiros anos de aulas ocorreram de maneira remota em razão da pandemia.

O Seleção de Talentos começou com 11 alunos em 2017. O número cresceu ao longo dos anos e alcançou 80 admitidos em 2023.

Atualmente, há um total de cerca de 200 jovens estudando por meio da iniciativa na FGV, de acordo com César Camacho, diretor do CDMC. Ele afirma que o programa é mantido com recursos da própria instituição e doações de pessoas físicas.

A intenção, diz o diretor, é seguir em expansão nos próximos anos. “Esse não é um projeto social. É um projeto que visa o mérito do aluno”, afirma Camacho.

“A meta é o atendimento a estudantes de escolas públicas. O programa de estudos é muito duro”, acrescenta.

Em seu site, a FGV afirma que os alunos aprovados para o projeto se destacam pela “extrema capacidade de aprendizagem” e se mostram como “novos talentos para o futuro do país”. O grupo é composto por jovens de diferentes regiões do Brasil.

Segundo Camacho, a iniciativa busca evitar o desperdício dos talentos. Ao tocar nesse ponto, ele menciona que a distância para grandes centros urbanos muitas vezes impede que jovens do interior do país frequentem universidades.

“O talento para matemática e outras ciências existe nas escolas públicas, mas muitas vezes ele é desperdiçado por não ser identificado”, afirma o diretor.

Nicole dos Santos de Souza, 20, também faz parte do grupo que entrou no programa da FGV após ter sucesso na Obmep. A estudante saiu do interior de Santa Catarina em 2022 para cursar matemática aplicada no Rio.

Ela ingressou na graduação antes, em 2021, mas o primeiro ano de aulas teve atividades remotas devido à crise sanitária da Covid-19. “Sempre tive o sonho de fazer uma faculdade longe de casa”, conta Nicole, que é natural do município de Içara (a 190 km de Florianópolis).

Sem a bolsa, a entrada no ensino superior seria mais difícil, avalia a jovem. “A outra opção seria tentar uma universidade federal, mas não tinha perto de casa. Então, [a bolsa] caiu do céu.”

LEONARDO VIECELI / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS