SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de acompanhar a cerimônia de coroação do rei Charles 3º em Londres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar neste sábado (6) a prisão de Julian Assange. O australiano, fundador do WikiLeaks, está em uma penitenciária de segurança máxima na cidade de Belmarsh, na Inglaterra.
“É uma vergonha que um jornalista que denunciou as falcatruas de um Estado contra outro esteja preso, condenado a morrer em uma cadeia”, disse Lula. “O cara [Assange] não denunciou nada vulgar. O cara denunciou que um Estado estava vigiando os outros. E isso virou crime contra o jornalista?”
Assange é responsável por um dos maiores vazamentos de documentos secretos das Forças Armadas americanas. Ele foi preso em 2019, em Londres, depois de passar sete anos abrigado na embaixada do Equador no país europeu.
Em junho passado, a ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, aprovou a extradição do jornalista para os Estados Unidos. Ele é procurado pelas autoridades americanas devido a 18 acusações criminais, incluindo espionagem relacionada ao vazamento, via Wikileaks, de registros militares e telegramas diplomáticos confidenciais que, de acordo com o governo, colocou vidas em perigo.
Segundo Lula, a imprensa precisa ter postura combativa no caso Assange. “A imprensa não se mexe na defesa desse jornalista. Eu sinceramente não consigo entender”, disse ao defender um “movimento da imprensa mundial” em defesa do australiano.
Não foi a primeira vez que Lula defendeu Assange. No ano passado, o presidente questionou as acusações contra ele. “Nós, que estamos aqui falando de democracia, precisaremos perguntar: ‘Que crime o Assange cometeu?’ É o crime de falar a verdade, mostrar que os EUA, por meio de seu departamento de investigação, sei lá se da CIA, estava grampeando muitos países do mundo, inclusive grampeando a presidenta Dilma Rousseff”, disse o petista, à época pré-candidato à Presidência.
O WikiLeaks se destacou ao publicar, em 2010, um vídeo de um ataque americano com helicópteros em Bagdá que deixou uma dúzia de mortos, incluindo dois funcionários da agência de notícias Reuters. Em 2015, o site divulgou informações confidenciais da Agência Nacional de Segurança dos EUA que revelavam que o governo americano espionava a então presidente Dilma, além de assessores e ministros. Ao todo, 29 telefones de membros e ex-integrantes da gestão petista haviam sido grampeados.
Apoiadores de Assange, que o consideram um herói anti-estabilishment, afirmam que ele é perseguido por expor irregularidades nos conflitos americanos no Afeganistão e no Iraque e que as acusações contra ele são ações politicamente motivadas contra o jornalismo e contra a liberdade de expressão.
Lula acompanhou neste sábado a cerimônia de coroação do rei Charles 3º. Na véspera, o presidente se encontrou com o premiê do Reino Unido, Rishi Sunak, e ouviu a promessa da contribuição de R$ 500 milhões ao Fundo Amazônia, um mecanismo de recompensa por preservação ambiental.
A Guerra da Ucrânia também foi pauta do encontro. Londres é uma das principais aliadas de Kiev e, recentemente, o presidente brasileiro recebeu críticas devido a declarações igualando a responsabilidade de invasor e invadido no conflito que se arrasta desde fevereiro de 2022 no Leste Europeu.
Em declaração, Lula e Sunak, afirmaram que a invasão da Rússia na Ucrânia é inaceitável. Também pediram o restabelecimento da paz na região.
Redação / Folhapress