As histórias de “Rio 40 Graus” e “Balada do Amor Inabalável”, de Fausto Fawcett

Hoje é aniversário do compositor, cantor, guitarrista, letrista, romancista, contista, dramaturgo, jornalista, ator e roteirista Fausto Fawcett. Como homenagem, conheça a história de duas composições Rio 40 Gaus, famosa na voz de Fernanda Abreu, e Balada do Amor Inabalável, sucesso pela gravação do Skank.

Para seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Além de cantor e compositor, Fausto Fawcett também é jornalista, romancista e escritor | Foto: Reprodução/TV Cultura

Sobre Fausto Fawcett

Nascido no Rio de Janeiro, em 10 de maio de 1957, com o nome de Fausto Borel Cardoso, o aniversariante do dia passou a utilizar o Fawcett quando ingressou no universo artístico, para homenagear uma de suas grandes musas: a atriz norte-americana Farrah Fawcett.

Sua obra, performática e com uma sonoridade experimental, tornou Fausto Fawcett um grande expoente do rap rock e da literatura cyberpunk no Brasil. Ele surgiu na noite carioca com performances que misturavam teatro, música e poesia, chamando a atenção do diretor Cacá Diegues

Em 1987, lançou o seu primeiro disco, Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros, descrito como uma obra conceitual onde os símbolos da brasilidade convivem promiscuamente com a avalanche pop e os avanços da mídia e da tecnologia. Suas oito faixas interligadas narram sobre as vidas dos sórdidos personagens que habitam uma versão futurista e tecnologicamente avançada da cidade do Rio de Janeiro.

A parceria com Fernanda Abreu

Este disco, já conta com um dos maiores sucessos de sua carreira, a canção Kátia Flávia, a Godiva do Irajá, composta com Carlos Laufer, um dos seus maiores parceiros. A canção foi gravada 10 anos depois por Fernanda Abreu e tornou-se um dos grandes hits de sua carreira.

Fernanda, inclusive, participou cantando em outra faixa do primeiro álbum de Fausto, Juliette, e também é sua parceira de composição (junto com Laufer) em outro grande sucesso: Rio 40 Graus, considerado um dos clássicos da música pop brasileira e lançado pela cantora, em 1992, no disco SLA² – Be Sample.

Outro hit composto pelo trio é Brasil é o País do Suingue, do icônico disco Da Lata, de Fernanda Abreu, lançado em 1995. Nesse mesmo disco, a cantora gravou outro clássico em parceria com Fausto Fawcett: o super hit Garota Sangue Bom.

O lado escritor

Em 1990 Fawcett publicou seu primeiro romance, Santa Clara Poltergeist, pela Editora Eco. Foi seguido por Básico Instinto, uma antologia de contos, lançado pela Relume-Dumará em 1992.

Ambos os livros serviram de base para seu terceiro álbum, também chamado Básico Instinto, de 1993. Logo após parou de gravar álbuns para se dedicar à sua carreira literária, apesar de ainda fazer shows ocasionalmente e colaborar com outros músicos.

Fawcett comparou a sua escrita com uma espécie de partitura mental, recheada de falação ritmada e sempre acompanhada de muitos adjetivos. O “rap d’groove” e a linguagem acelerada da música moldam diretamente a sua maneira de escrever.

Saudando Grandes Compositores da MPB

Falando em hit, Fausto Fawcett também é autor de um dos maiores clássicos da banda Skank, ao lado de Samuel Rosa: a canção Balada do Amor Inabalável, lançada no álbum Maquinarama, de 2000. É desse hit e de Rio 40 Graus que vamos contar as histórias hoje!

A história de “Rio 40 Graus”, de Fausto Fawcett, Fernanda Abreu e Carlos Laufer

Composta por Fausto Fawcett em parceria com Fernanda Abreu e Carlos Laufer, para o álbum de Fernanda – SLA 2 Be Sample, de 1992 – Rio 40 Graus sintetiza as várias cidades misturadas que existem no Rio de Janeiro, maravilha mutante, purgatório da beleza e do caos. 

Faz referência às altas temperaturas alcançadas no Rio durante o verão e também narra os diferentes cotidianos da cidade, as belezas naturais, o caldeirão cultural, a violência urbana, a desigualdade social e a corrupção.

Uma das sínteses mais perfeitas do que é a cidade, Rio 40 Graus é um marco na história da nossa música, por misturar hip-hop, disco music e funk – gêneros ainda marginalizados na época – e falar sobre o lado caótico do Rio de Janeiro, explorando a imagem suburbana da capital carioca, o que colocou Fernanda no posto de ícone, ao levar a música da periferia às rádios, em uma verdadeira crônica contemporânea sobre o Rio de Janeiro. 

Rio 40 Graus permanece atual, mesmo 30 anos depois de seu lançamento: o Rio continua enfrentando os mesmos problemas como corrupção, milícia, bandidagem e violência. 

Há, no final da canção, um sample da canção Soy Loco Por Ti América, de Caetano Veloso, e do clássico Aquele Abraço, de Gilberto Gil.

A história de “Balada no Amor Inabalável”, de Fausto Fawcett e Samuel Rosa

Parceria de Fausto Fawcett com Samuel Rosa, lançada no disco do Skank, Maquinarama, de 2010, é uma das músicas mais interessantes da história da banda mineira, como diz o próprio Samuel.

Ele analisa que a canção não se parece com nada do que tenha acontecido na discografia do Skank antes dela. Trata-se de uma espécie de bossa nova eletrônica, com uma letra falada, uma das coisas mais criativas e de bom gosto que o Skank fez, e mais inesperada, como diz o vocalista. 

Samuel conta que na época do disco a banda estava inundada por uma vontade muito grande de inovação, de fazer algo que não tinham experimentado antes. É um flerte claro com a música brasileira e com a música eletrônica, o que era um mote no disco Maquinarama, que determina um novo caminho do Skank a partir dali.

Um novo caminho para Skank

Quando Samuel escutou Balada do Amor Inabalável pronta, Samuel falou:

“tem aí um pouco das coisas que eu gosto da bossa nova, mesmo não sendo dessa linhagem de bossanovistas”.

Mas a bossa nova se tornou um gênero universal e inspirou muitos artistas mundo afora e inspirou muitos artistas da geração do Skank. São acordes típicos da bossa nova que Samuel colocou na canção.

Samuel conta que sempre quis fazer uma música que pudesse ter estado na trilha do filme Um Homem e Uma Mulher, de 1966, do francês Claude Lelouch, que conta com trilha brasileira, com nomes como Vinicius de Moraes e Baden Powell.

Quando criou a música, ele pensou imediatamente no super carioca Fausto Fawcett para fazer a letra. Ele não mandou a música para Fausto, apenas pediu uma letra.

Fausto mandou uma letra enorme, porque talvez tenha pensado no Skank de Jackie Tequila! Samuel gostou muito da letra, mas perguntou ao Fausto se poderia editá-la, fazer uma espécie de colagem, para o que tinha pensado ser a canção. E essa tornou-se a letra de Balada do Amor Inabalável.

O famoso refrão cantarolado

Ele não encontrou um refrão na letra, e por isso criou o famoso refrão cantarolado. A música acabou sendo muito elogiada na crítica, virou um hit e entrou para a trilha da novela Laços de Família, de Manoel Carlos, sendo tema do casal de protagonistas, Camila (Carolina Dieckmann) e Edu (Reynaldo Gianecchini), uma novela super carioca também!

Segundo Samuel, Balada do Amor Inabalável é o ponto da discografia mais carioca da banda mineira. Não à toa, o parceiro dele é Fausto Fawcett.

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Fausto Fawcett!

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