SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – No dia 11 maio de 2007, há exatos 16 anos, o Brasil ganhava seu primeiro santo nascido no país: Frei Galvão. Ele foi canonizado em uma missa presidida pelo papa Bento 16 no Campo de Marte, na zona norte de São Paulo.
QUEM FOI FREI GALVÃO
Antônio de Sant’Anna Galvão nasceu em 1739 no que atualmente é a cidade de Guaratinguetá (SP). Ele vinha de uma família muito nobre e era o quarto de dez filhos. Ele viveu com a família até os 13 anos, quando foi para um seminário na Bahia, onde estudou até os 19 anos.
Desde novo, demonstrava interesse pela construção religiosa e teria visitado diversas igrejas da região nordeste do país para ampliar os estudos na área.
Aos 21 anos foi ordenado sacerdote franciscano, no Rio de Janeiro, mas acabou se estabelecendo em São Paulo, no convento de São Francisco, região central da cidade. Por lá, continuou os estudos em filosofia e teologia. Ele se tornou confessor de religiosas que viviam no chamado Recolhimento de Santa Teresa, em São Paulo, e mais tarde tornou-se diretor e acabou comprando a ideia das irmãs de criação de um novo convento.
Frei Galvão trabalhou para a construção do Mosteiro da Luz, inaugurado em 1802, e atuava como arquiteto, mestre-de-obras, pedreiro, servente e carpinteiro no projeto, segundo o pesquisador Benedito Lima de Toledo (1934-2019). Foi a partir dessa empreitada que o bairro da Luz começou a ganhar forma em São Paulo.
O religioso viveu tensões políticas em São Paulo. Quando estava na direção do Recolhimento de Santa Teresa, houve uma mudança no governo que resultou no fechamento do convento. Sob pressão popular, o local foi reaberto. Depois, houve desavença com capitão-mor, que havia sentenciado um soldado à morte por uma ofensa. O religioso defendeu o soldado e acabou exilado para o Rio. Novamente por pressão popular, a decisão foi revogada.
Frei Galvão ficou conhecido por uma série de atos de caridade e uma fé inabalável que resultou na criação das famosas pílulas, até hoje distribuídas no Mosteiro da Luz.
Ele intercedeu por um doente com pedra no rim. Segundo a crença, o religioso teria ido até Guaratinguetá para angariar recursos para a construção do mosteiro. Na cidade, foi abordado por um grupo que pedia que ele fosse a uma fazenda rezar para ajudar uma pessoa que estava há dias sofrendo com uma pedra no rim. Sem tempo para ir até o local, Frei Galvão pegou um pedaço de papel e escreveu: “Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós”. Entregou o papel e orientou que o enfermo tomasse aquilo como um remédio, além de continuar orando pela cura que se deu mais tarde.
As pílulas começaram a ficar famosas e ele ensinou as irmãs do convento a fabricá-las. Frei Galvão morreu em dezembro de 1822 e foi sepultado no Mosteiro da Luz.
UM SANTO BRASILEIRO
Frei Galvão se tornou o primeiro brasileiro a ser beatificado pelo Vaticano, em 1998. Na época, cerca de 2.000 brasileiros prestigiaram o evento conduzido pelo papa João Paulo 2º.
A justificativa para a beatificação veio após uma menina de 12 anos ter saído de um coma supostamente por um milagre das pílulas de Frei Galvão. Daniela Cristina da Silva estava com hepatite aguda do tipo A. Ela sofreu uma parada cardíaca e ficou em coma aos 4 anos. Os médicos haviam dado o caso como perdido, mas a mãe fez a novena de Frei Galvão e ministrou as famosas pílulas do religioso. Duas semanas depois, a filha estava lúcida.
A beatificação foi um passo anterior à canonização, quando Frei Galvão tornou-se oficialmente o primeiro santo brasileiro, em maio de 2007. Na ocasião, o papa Bento 16 esteve no Campo de Marte, em São Paulo, para a cerimônia. A decisão do Vaticano se deu após a compreensão de que ele havia realizado pelo menos dois milagres.
Frei Galvão também acabou reconhecido postumamente como engenheiro honoris causa, em 2008, em uma homenagem realizada pelo CREA-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo).
A canonização de Frei Galvão abriu precedentes para outros brasileiros também ganharem o título de santos. Em 2017, o Papa Francisco canonizou os Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, um grupo de trinta religiosos que foram vítimas de um massacre na região que hoje é o Rio Grande do Norte. Em 2019, foi a vez de Irmã Dulce, considerada a primeira mulher santa nascida no país.
HELOÍSA BARRENSE / Folhapress