BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O PT decidiu deixar de fora da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de 8 de janeiro o deputado federal Lindbergh Farias (RJ) e anunciou que será representado pelos parlamentares Rogério Correia (MG), Rubens Pereira Jr. (MA) e Jandira Feghali (PC do B-RJ).
Para reforçar o discurso de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o maior interessado nas investigações sobre o ataque aos três Poderes, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Zeca Dirceu (PR), divulgou os nomes dos deputados do bloco nesta quinta (11).
“Vamos demonstrar que o 8 de janeiro foi um processo de golpe e que o principal mandante foi Bolsonaro. Contem com o meu comprometimento, atuação firme e intransigente em defesa da nossa democracia. Vamos investigar”, declarou Correia, que foi relator da CPI de Brumadinho, em 2019.
Lindbergh Farias era dado como certo na comissão e chegou a organizar entrevista coletiva, no último dia 20, para tratar do tema. Mas, segundo relatos, acabou cortado por decisão do líder da bancada pelas críticas que fez à proposta de novo arcabouço fiscal.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, em abril, o deputado chegou a comparar a proposta apresentada pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) à tentativa de pacto demoníaco descrita no romance de Guimarães Rosa “Grande Sertão: Veredas”.
Já o maranhense Rubens Pereira Jr. é aliado do ministro Flávio Dino (Justiça), um dos principais alvos de ataques da oposição –no governo é dada como certa a convocação de Dino na CPI. Rubens Jr. também atuará como coordenador da bancada dos deputados na comissão.
“Teremos investigações amplas para apurar a responsabilidade de quem participou, promoveu e idealizou a tentativa de golpe contra o Estado democrático de Direito. A Constituição será respeitada. Não haverá anistia para golpistas”, disse Pereira Jr.
O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), afirmou à reportagem que ele e o senador Rogério Carvalho –um dos integrantes do chamado G7 na CPI da Covid, em 2021– serão titulares. O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e a senadora Augusta Brito (CE) serão suplentes.
Apesar dos novos nomes, a CPI perdeu força nos últimos dias, como mostrou a Folha de S.Paulo, e ainda não tem data para ser iniciada. No Senado, integrantes da base do governo afirmam que não há pressa para indicar membros se nem a oposição fez isso na Câmara dos Deputados –em referência a partidos como PP e Republicanos.
O senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado e considerado um dos parlamentares mais influentes da Casa, manifestou interesse em participar da CPI mista e deve ser indicado pelo partido como titular.
Já o nome da senadora Soraya Thronicke (MS), que havia proposto uma CPI só do Senado, é dado como certo para a segunda vaga. O líder da sigla no Senado, Efraim Filho (PB), e o senador Sergio Moro (PR) são apontados para as duas suplências da comissão.
No MDB, os mais cotados são o líder do partido no Senado, Eduardo Braga (AM), e o ex-presidente da Casa Renan Calheiros (AL). Na Câmara, o partido definiu que o deputado federal Arthur Maia (BA) será titular e Kim Kataguiri (SP) suplente. Maia é inclusive apontado por líderes da Casa para presidir a comissão.
No Senado, a tropa da oposição será comandada pelos senadores Magno Malta (PL-ES), Eduardo Girão (Novo-CE), Damares Alves (Republicanos-DF) e Esperidião Amin (PP-SC). Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Pesca de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Cleitinho (Republicanos-MG) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS) serão suplentes.
Na semana passada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), negou os pedidos da oposição contra a manobra de Randolfe Rodrigues que fortaleceu o bloco do PT na CPI. Com isso, o PL acabou com duas vagas no Senado em vez de três.
Sob reserva, parlamentares avaliam que, com uma oposição sem força e um governo preocupado com outras batalhas no Congresso, a CPI perde importância e pode demorar para ser aberta oficialmente, além de ter chance de se tornar inócua.
Além disso, ponderam nos bastidores que o governo agiu mal diante da articulação pela CPI. No começo, o governo era contra a instalação da comissão e atuou para adiá-la.
No entanto, após crise desencadeada no Executivo após divulgação de imagens do circuito interno do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro –que levou à demissão do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) general Gonçalves Dias–, o governo passou a defender a instalação do colegiado.
A comissão também foi tema de debate em reunião na quarta (10) do Fórum dos Partidos Progressistas, que reúne os presidentes de PT, PSB, PC do B, PV, Rede, PSOL e PDT. Eles defenderam a instalação imediata da CPI mista.
THAÍSA OLIVEIRA, VICTORIA AZEVEDO E JOÃO GABRIEL / Folhapress