SÃO PAULO, SP, E BARCELONA, ESPANHA (UOL/FOLHAPRESS) – Documentos obtidos pelo UOL indicam que a máfia das apostas cruzou as fronteiras do Brasil. Os suspeitos de operarem o esquema se gabavam de ter acordos com jogadores brasileiros nos Estados Unidos e na Grécia.
Em mensagens obtidas pelo Ministério Público, os suspeitos de comandarem o esquema citam acordo com cinco jogadores que atuam no futebol grego, sendo um do time Paok. Eles não dizem o nome desses atletas. Thiago Chambó e Bruno Lopez, ambos suspeitos de serem aliciadores, foram presos na segunda da fase da operação Penalidade Máxima.
Os apostadores abordaram também dois jogadores brasileiros da MLS, a principal liga dos Estados Unidos. Os atletas citados são Max Alves, do Colorado Rapids, e o lateral Zeca, que na época estava no Houston Dynamo, e hoje joga no Brasil. Ao saber do caso, a MLS informou que afastou Max de suas atividades.
Zeca, hoje no Vitória, confirmou o contato com os aliciadores, mas disse que negou a oferta imediatamente. “Não faço parte de nenhuma manipulação de aposta, não faço parte de nada que vincule meu nome às apostas ou manipulações”, disse o jogador.
As suspeitas chegaram também à Lituânia. O atacante brasileiro Nathan Palafoz, do FK Riteriai, foi citado como um dos envolvidos no esquema, por ter recebido R$ 15 mil pra tomar cartão em um jogo do Avaí no Brasileiro do ano passado. O Riteriai afirmou que a federação da Lituânia investiga o caso.
DIÁLOGOS
Em 31 de janeiro de 2023, Thiago Chambó pergunta a Bruno López, outro cabeça da operação, se ele tem contatos na Grécia.
Chambó: Tem contato na Grécia, 1ª divisão? Se não tiver, acha que consegue?
BL: Opa. Tenho um no Paok. Meu brother. Pra que seria?
Chambó: Amarelo. Tô com 5 na Grécia.
Em 8 de outubro de 2022, Bruno Lopez, o BL, aborda o lateral Zeca, do Houston Dynamo, oferecendo R$ 70 mil pra ele tomar um amarelo. Ele diz que não vai jogar.
BL: O mano tá perguntando se quer fechar com nós, pai. Ele tá oferecendo 70 mil, pai. Último jogo irmão. Só tomar cartão amarelo.
Zeca: Irmão, mas esse jogo não vou jogar.
BL: Ah sim, irmão. Tem como indicar um pra mim, não, pai?
Zeca: Esse jogo tô fora, irmão. Vou ver aqui, irmão. E te falo, beleza?
Em 15 de setembro de 2022, BL diz que em um grupo que fechou com Max Alves, do Colorado Rapids. No dia seguinte ele manda o comprovante de depósito de R$ 15 mil como adiantamento.
BL: Acabei de fechar esse Max, da MLS, rapaziada, ele vem mesclando titular e banco. Mas joga todo jogo. Garantiu 200% que entra e já toma. Resumo [confirmado] Sinal: 15. Amanhã pago ele.
MLS PROMETE PUNIÇÃO
A MLS reagiu rapidamente à notícia do envolvimento de um jogador e um ex-jogador da liga no esquema. Em nota oficial, o departamento de comunicação da entidade afirmou que “a integridade do jogo é fundamental para a liga, e que a MLS leva as alegações de contravenção muito a sério”. A liga não citou o nome de Max, mas disse que “o jogador foi afastado das atividades do clube enquanto durarem as investigações.”
Em outubro de 2021, o meio-campista colombiano Felipe Hernández, do Sporting Kansas City, foi suspenso até o fim da temporada por envolvimento com apostas (mas não com o grupo de apostadores brasileiros). O jogador havia apostado em partidas da liga, o que fere o regulamento interno da competição.
OUTRO LADO
Zeca, hoje no Vitória, lateral que foi campeão olímpico com a seleção brasileira em 2016, disse estar tranquilo. “Não faço parte de nenhuma manipulação de aposta, não faço parte de nada que vincule meu nome às apostas ou manipulações, estou bem tranquilo quanto a isso. Eu vi que vazou um print de uma conversa. Realmente, estou aqui para dizer que teve essa conversa, a pessoa me chamou no WhatsApp, eu até achei que era coisa de empresário, clube ou algo interessado, né? Mas me pegou de surpresa com essa mensagem infeliz. Eu, na mensagem, disse que não ia jogar, justamente para desconversar, para não ter esse tipo de erro, esse tipo de conversa, pra acabar ali o papo.”
A reportagem não encontrou representantes de Max Alves. O meia desativou sua conta no Instagram depois que seu nome veio à tona na operação.
Bruno Lopez e Thiago Chambó se dizem inocentes. Eles questionam as provas obtidas pelo Ministério Público.
ADRIANO WILKSON, EDER TRASKINI E THIAGO ARANTES / Folhapress