Bombardeio a shopping em Kiev deixa ao menos oito mortos

Foto: Ataque a shopping em Kiev/Reprodução redes sociais

Apesar das constantes negativas da Rússia de que esteja mirando em prédios civis, um bombardeio atingiu um shopping center de Kiev na noite de domingo, 20, matando pelo menos oito pessoas e destruindo prédios próximos. Nesta segunda-feira, 21, autoridades de Odessa acusaram as forças russas de realizar um ataque a edifícios residenciais.
O ataque com mísseis russos reduziu o amplo shopping center Retroville em Kiev a uma ruína fumegante, um dos ataques mais poderosos a abalar o centro da capital ucraniana desde o início da guerra no mês passado.

Autoridades da cidade confirmaram ao menos oito pessoas mortas, embora o número provavelmente aumente. A explosão foi tão poderosa que jogou escombros a centenas de metros em todas as direções, sacudiu prédios e derrubou uma parte do shopping transformando o estacionamento em um mar de chamas.

Nesta segunda-feira, 21 cerca de 8h após o ataque, os bombeiros ainda lutavam contra as chamas enquanto soldados e equipes de emergência vasculhavam os escombros em busca de sobreviventes ou vítimas.

Às 8h do horário local (3h de Brasília) os socorristas retiraram seis corpos e os cobriram com plástico – e tinham pouca esperança de encontrar sobreviventes. Um soldado no local disse que partes do corpo estavam espalhadas pelos destroços.

No próprio shopping, canos estourados jogavam água em cascata através de uma confusão de metal e concreto emaranhados. Um prédio de escritórios ao lado ainda estava de pé, mas todas as janelas estavam estouradas e um fogo ardia dentro ao amanhecer.

Embora Kiev esteja sob bombardeio há semanas, o alcance da devastação ao redor do shopping foi maior do que qualquer coisa relatada pela imprensa até agora, segundo o The New York Times.

As forças armadas ucranianas travaram batalhas ferozes nas cidades ao redor de Kiev e conseguiram empurrar as forças russas de volta a alguns lugares. A agência de inteligência de defesa britânica disse que a maior parte dessas forças estava a mais de 24 quilômetros do centro e que tomar Kiev continua sendo “o principal objetivo militar da Rússia”.

Com a cidade aparentemente fora do alcance da artilharia, a Rússia recorreu a foguetes e bombas, muitas vezes visando infraestrutura civil e bairros.
O shopping Retroville abrigava um cinema multiplex, uma academia de ginástica e restaurantes de fast food como McDonald’s e KFC, além de uma galeria inteira dedicada a artigos esportivos, entre outras lojas.

No primeiro dia da guerra na Ucrânia, seus gerentes anunciaram um fechamento temporário no Facebook e ofereceram informações sobre os abrigos mais próximos. “Acreditamos em nosso exército e céu pacífico”, disseram eles no post. Até hoje, foi o último deles.

Odessa acusa Rússia de ataque
Autoridades de Odessa acusaram as forças russas de realizarem um ataque a prédios residenciais nos arredores da cidade ucraniana na manhã desta segunda-feira, o primeiro ataque desse tipo à cidade portuária do Mar Negro.

O conselho da cidade disse que não houve vítimas, embora o ataque tenha causado um incêndio. “São prédios residenciais onde vivem pessoas pacíficas”, disse o prefeito Gennadiy Trukhanov.

Segundo Richard Barrons, ex-comandante do Comando das Forças Conjuntas do Reino Unido, a cidade portuária ucraniana de Odessa será o próximo “objetivo lógico” das tropas russas, depois de Mariupol. Falando à BBC Radio 4, Barrons disse que se o exército russo assumir o controle de Mariupol, no sudeste do país, e alvo de pesados bombardeios russos por semanas, isso será percebido como “um grande sucesso” para a Rússia.

“Quando os russos sentirem que concluíram com sucesso essa batalha, terão concluído a ponte terrestre entre a Rússia e a Crimeia e a verão como um grande sucesso estratégico”, disse ele. Barrons observou ainda que acredita que as tropas russas “agora irão para Odessa porque logicamente esse é o próximo lugar a ir no sul (da Ucrânia) e parece haver mais navios no Mar Negro indo nessa direção”.

Após quase um mês de combates, a guerra chegou a um impasse, com a Rússia recorrendo a métodos mais mortíferos e contundentes, inclusive visando civis.

O presidente Volodmir Zelenski, dirigindo-se à nação durante a noite, disse que um comboio de socorro no nordeste da Ucrânia, perto da cidade de Kharkiv, foi sequestrado pelas forças russas. E os esforços para alcançar centenas de milhares de pessoas presas em Mariupol continuaram cheios de perigo.

A Ucrânia rejeitou a exigência da Rússia de que os soldados que defendem o porto de Mariupol, no sul do país, se rendessem na madrugada desta segunda-feira. Quase 350 mil pessoas estão bloqueadas sem água ou energia elétrica na cidade portuária de Mariupol, bombardeada pelas tropas russas há quase um mês, no que o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou de “enorme crime de guerra”.

O escritório de direitos humanos da ONU disse nesta segunda-feira que já registrou 2.421 vítimas civis desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Foram 925 mortos, incluindo 39 crianças, e 1.496 feridos até a meia-noite de domingo.

“A maioria das vítimas civis registradas foi causada pelo uso de armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, mísseis e ataques aéreos”, disse a organização em comunicado.

O escritório ainda acrescenta que “os números reais são consideravelmente maiores, especialmente em território controlado pelo governo e especialmente nos últimos dias, pois recebemos informações atrasadas de alguns locais onde ocorreram intensas hostilidades e muitos relatórios ainda aguardam confirmação.”

Negociações
O Kremlin disse nesta segunda-feira que as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia ainda não fizeram nenhum progresso significativo. A afirmação vai contra a declaração da Turquia durante o fim de semana de que um acordo estaria próximo.

Moscou acusou Kiev de atrasar as negociações de paz ao fazer propostas inaceitáveis para a Rússia. A Ucrânia disse que está disposta a negociar, mas não vai se render ou aceitar ultimatos russos, em especial relacionados com ao reconhecimento de independência das repúblicas de Donbas.

Falando a repórteres em uma teleconferência, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que um progresso significativo nas negociações ainda precisa ser feito para que haja uma base para um possível encontro entre o presidente Vladimir Putin e seu colega ucraniano.

(Com agências internacionais).
Agência Estado

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