PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O Festival do Livro de Paris foi inaugurado com 300 escritores de diferentes nacionalidades e a Itália como país homenageado. Como diria Umberto Eco, “quem não lê dispõe de única vida: a própria”.
O autor de “O Nome da Rosa” esteve no centro do evento porque o romance foi adaptado para os quadrinhos por Milo Manara, outro italiano.
Eco é conhecido como semiólogo, romancista prolífico e respeitável professor da Universidade de Bolonha. Mas levava a sério as histórias em quadrinhos. “O Mito do Super-Homem”, artigo publicado em 1976, é prova disso.
“Quando procuro relaxar, leio ensaio de Engels, e quando quero algo mais sério leio Corto Maltese”, ele dizia, por não ter preconceitos literários.
O festival celebrou os quadrinhos, dando a Milo Manara um lugar especial.
Em uma entrevista para a revista Le Point, ele conta que entrou em pânico quando aceitou fazer a adaptação de “O Nome da Rosa”.
Como adaptar um romance que é um ensaio teológico, uma reflexão erudita do poder da língua, um retrato da Idade Média, um elogio do riso transgressor e um policial digno de Arthur Conan Doyle?
Milo Manara, mestre do erotismo, aceitou o desafio e fez uma versão em quadrinhos.
Dado o sucesso mundial, o romance foi adaptado para o cinema por Jean-Jacques Annaud com Sean Connery no papel do detetive e Christian Slater como jovem Adso, secretário do detective.
Annaud deu ênfase aos diálogos no filme. Manara se concentrou na dimensão visual.
Segundo o autor, o romance apresenta imagem surpreendente da Idade Média, a de fantasia sem limites, febril, simbolizada por desenhos fantásticos ou obscenos que existiam nas margens dos manuscritos da época, descritos por Eco como de Fellini.
Eco celebra o conhecimento e a imaginação, por meio da biblioteca, que se encontra no centro da abadia. Seus heróis são os monges iluminadores.
Para criar o imaginário figurativo, Manara se inspirou nos afrescos de Giotto di Bondone e, para não deixar de ser fiel a si mesmo, exaltou a sensualidade, valendo-se da cena na qual Adso encontra a mulher que o inicia no amor.
Manara diz que, ao fazer a adaptação, refletiu sobre o significado do livro. Pensou na pobreza do Cristo, que contrasta com a desigualdade cada vez maior. Pensou também “no direito de rir de tudo” diante do obscurantismo atual.
“O Nome da Rosa” de Manara foi pré-publicado na revista italiana Linus. Na Itália, sairá este mês pela La Nave di Teseo, editora fundada também por Eco. Na França, em setembro, pela Glénat. Deverá sair também no Brasil, na contramão do preconceito vigente no país contra a história em quadrinhos.
BETTY MILAN / Folhapress