SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Autoridades chinesas multaram nesta quarta-feira (17) a empresa Xiaoguo Culture Media, uma das companhias de humor mais conhecidas do país, em 14,7 milhões de yuans (R$ 10,3 milhões) devido a uma piada feita por um de seus comediantes. A brincadeira era dirigida, indiretamente, aos militares.
Li Haoshi, que se apresenta sob o nome de “House”, fez referência a um slogan do Exército Popular de Libertação (EPL) durante apresentação de stand-up em Pequim, no sábado (13). A punição também prevê o confisco de 1,35 milhão de yuans (R$ 950 mil) do que as autoridades chamaram de “ganhos ilegais”.
Na piada, Li conta ter visto os dois cães de rua que ele adotou perseguindo um esquilo, o que teria feito ele se lembrar da frase “seja comprometido com o seu trabalho e seja capaz de lutar e de vencer batalhas”, slogan usado pelo líder chinês, Xi Jinping, em 2013 para elogiar a ética de trabalho do ELP.
No Weibo, rede social chinesa equivalente ao Twitter, a polícia anunciou a abertura de uma investigação, “de acordo com a lei”, e as autoridades também ameaçaram processar a empresa. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Pequim, a multa é fruto de uma investigação feita após o depoimento de um espectador. Considerou-se que a brincadeira violava a lei e tinha um “impacto social negativo”.
O incidente dividiu o público chinês sobre que piadas são inapropriadas, à medida que apresentações de comédia stand-up se tornam cada vez mais populares, e jogou luz sobre os limites desse tipo de conteúdo na China, onde as autoridades afirmam que devem promover valores socialistas.
A produtora e o comediante já haviam se desculpado antes do anúncio da punição, nesta quarta-feira, chamando a piada de “metáfora inadequada”. “Pedimos a Li que reflita sobre si mesmo e interrompa seus trabalhos de ator até novo aviso”, disse a Xiaoguo Culture Media em nota divulgada na segunda. Depois, em resposta à multa, a produtora atribuiu o incidente a “brechas de gestão” e rescindiu o contrato de Li.
A secretaria municipal considerou que a piada contraria o regulamento segundo o qual espetáculos não devem “ferir os sentimentos nacionais” nem “atentar contra a honra e os interesses nacionais”. “Nunca permitiremos que uma empresa ou indivíduo menospreze gratuitamente a imagem gloriosa do Exército na capital nem fira os sentimentos profundos do povo em relação ao seu Exército”, disseram as autoridades.
No Weibo, plataforma na qual conteúdos problemáticos são, em geral, removidos rapidamente, vários comentários apoiaram a sanção, afirmando que é “justo punir alguém que comete erros”. A agência de notícias Reuters não conseguiu contactar Li, e o Weibo parece ter banido o comediante de postar na rede.
Redação / Folhapress