Peixe-leão chega ao Atol das Rocas e ameaça ambiente marinho

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Mais um paraíso brasileiro acende um alerta de ameaça natural. Depois de ser avistado no arquipélago de Fernando de Noronha e em Jericoacoara, o peixe-leão, uma espécie venenosa, agressiva e espinhosa sem predadores oficiais na costa brasileira, foi encontrado no Atol das Rocas, reserva biológica ligada ao Rio Grande do Norte.

O flagrante ocorreu no dia 30 de abril deste ano, com um exemplar de 23 cm que foi visto e capturado imediatamente na piscina de Garoupinhas. Primeira aparição no local, a espécie gera riscos à fauna e aos humanos.

A falta de predadores possibilita que a população do animal cresça a ponto de causar um desequilíbrio no meio ambiente marinho. Para os seres humanos, o risco está no contato direto com o veneno do peixe, principalmente para mergulhadores.

“É um bicho que tem veneno, então o animal que tenta predá-lo passa mal e pode até morrer”, explica o diretor do Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Francisco Kelmo. “Além disso, ele tem todos aqueles espinhos que mesmo que o animal que venha se alimentar dele não passe mal pelo veneno vai ser machucado.”

No ano de 2019, o peixe-leão passou a ser encontrado no litoral nordestino. Hoje são registradas ocorrências em Amapá, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e, agora, pela primeira vez, no Rio Grande do Norte.

A captura do animal no Atol das Rocas foi feita por Maurizelia de Brito Silva, gestora da Reserva Biológica do Atol das Rocas do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), e por Zaira Matheus, bióloga, mergulhadora e cinegrafista subaquática que atua no monitoramento subaquático da reserva.

De acordo com o instituto, o animal vem do Indo-Pacífico. Mas a forma como chegou ao Brasil ainda é incerta. Na opinião de Kelmo, da UFBA, a espécie não foi trazida ao país de forma natural.

“Entre a América do Sul, a América Central e a América do Norte a gente tem o efeito do rio Amazonas: quando ele [o peixe] passa por ali, tem muito sedimento em suspensão, então é uma área que os animais todos têm uma dificuldade de cruzar, porque, como tem muito sedimento, e isso entope as vias aéreas”, diz.

A suspeita, por outro lado, é descartada pela gestora da unidade do ICMBio no Atol das Rocas. Silva afirma que só será possível chegar a conclusões concretas a partir do estudo genético dos indivíduos encontrados na costa do Brasil, para saber a origem dos peixes que aqui chegaram.

“Ele [o peixe-leão] conseguiu vencer a barreira da foz do Amazonas, por isso que é importante essa questão do estudo genético, para que a gente possa comparar a linhagem de cada animal que já foi capturado nesses oito estados e nas ilhas oceânicas”, diz Silva.

A melhor forma de proteger o litoral brasileiro do peixe-leão, segundo ela, ainda é o monitoramento feito pelo ICMbio nas partes rasas, como também nas mais fundas.

“A gente tem um trabalho com a Universidade Federal de Pernambuco em que as câmeras vão a até 110 metros. Então a gente tem que fazer um novo monitoramento para essas áreas mais fundas. É monitorar e, se avistar, capturar o animal.”

Segundo a gestora, apesar do caráter perigoso do peixe-leão, sua movimentação lenta facilita a captura pelos especialistas. “Ele não é um peixe que se desloca como os outros”, explica. “Teve um mergulhador, em Noronha, que estava sem o arpão e capturou ele com a caixa da máscara de mergulho”, conta.

Após a captura, o passo a seguir pelo ICMbio é a pesquisa. “Tem que abrir o animal, ver do que ele se alimentou, o tamanho, se ele está ovado ou não, se está em estágio de maturação, se já reproduz, se é macho ou fêmea, tudo o que puder.”

A gestora pontua ainda que a unidade está em diálogo com outras instituições para tratar do assunto, como a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional e com pesquisadores de áreas semelhantes ao atol.

MARIANA BRASIL / Folhapress

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