NAPOLES, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Interessados em entender os efeitos das mudanças do IMC (índice de massa corporal) sobre o risco de câncer, pesquisadores dos Estados Unidos analisaram dados de 135 mil pacientes entre 1993 e 2001. Eles descobriram que a obesidade e o sobrepeso no fim da idade adulta estão relacionados com maior probabilidade de desenvolver tumores gastrointestinais. O câncer colorretal é o principal deles.
Os resultados foram publicados na revista científica JAMA Network.
Durante o estudo, um quarto dos participantes foram diagnosticados com câncer, dentre os quais 15% (5 mil pessoas) foram gastrointestinais. Os mais prevalentes entre eles foram o colorretal, com 55,1% dos casos, seguido de pâncreas, gástrico, esôfago e fígado. Os participantes tinham entre 55 e 74 anos.
A doença no cólon e reto é a terceira mais frequente em homens e segundo em mulheres no Brasil, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer). Outro com grande incidência é o estomacal, que ocupa a quarta e sexta posição respectivamente. Juntos, estima-se que eles somem um terço dos óbitos por tumores no mundo.
A obesidade é relacionada com problemas de saúde, como diabetes, hipertensão, risco de infarto e outros tipos de câncer. Segundo os pesquisadores, as células de gordura induzem processos inflamatórios que causam a desregulação do organismo. Por isso, o sobrepeso está mais associado à formação de tumores nas regiões mais próximas das reservas de gordura. Outros fatores de risco para cânceres gastrointestinais incluem tabagismo, consumo de álcool, dieta desequilibrada, inflamações crônicas e infecções.
Paulo Henrique Diniz, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e oncologista da Rede Mater Dei de Saúde, diz que a obesidade não só é um fator de risco da doença, como também altera o desenvolvimento natural do câncer, levando a uma mortalidade maior entre pacientes.
A dieta também tem impactos sobre o desenvolvimento de câncer. Um dos muitos efeitos da má-alimentação é a disbiose, isto é, o desequilíbrio da flora intestinal. Em janeiro deste ano, especialistas de diferentes países publicaram um artigo alertando para os riscos da doença em caso de baixa ingestão de nutrientes. No trabalho, eles estimam que 20% dos casos de tumores no mundo são causados por microrganismos como bactérias e vírus.
A escolha alimentar tem impacto direto sobre os seres que habitam no intestino, na boca e em todo o trato digestivo. Apesar da maioria ser benéfica, alguns podem produzir toxinas capazes de promover inflamações, desordens metabólicas e tumores. O consumo de ultraprocessados e o uso de antibióticos sem indicação médica, destacam os especialistas, estão entre os principais fatores responsáveis pela disbiose. Ainda faltam, entretanto, estudos e dados capazes de identificar os patógenos mais perigosos.
Se por um lado uma alimentação ruim pode trazer consequências negativas, por outro, argumentam os autores do trabalho, intervenções nutricionais podem ajudar na prevenção de doenças por meio de prescrição de dietas, suplementos e probióticos adequados. O acompanhamento de um nutricionista também pode ajudar no controle do peso.
Pesquisador da UFF (Universidade Federal Fluminense) e cirurgião oncológico do Inca, Antônio Accetta destaca a necessidade de fazer exames preventivos. A colonoscopia permite a identificação de pólipos intestinais malignos, que tem a capacidade de evoluir para os tumores, o que pode exigir sua retirada antes mesmo da manifestação do câncer.
O especialista recomenda o exame para todos com mais de 45 anos, e ainda antes para pessoas que possuem fatores de risco ou histórico familiar.
VEJA SINTOMAS DO CÂNCER COLORRETAL
Conheça as manifestações da doença segundo a FDA (agência americana reguladora de medicamentos e alimentos).
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Constipação ou diarreia
Fezes estreitas ou com sangue
Sentir que o intestino não fica completamente vazio
Vômito
Perda de peso
Gases
Cólica abdominal
Cansaço ou fraqueza
ACÁCIO MORAES / Folhapress