Após instalação de grades, moradores de rua trocam praça da Sé por outros pontos no centro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Moradores de rua que ocupavam a praça da Sé durante a noite relatam que passaram a dormir em outros lugares do centro da capital paulista após ação da prefeitura -que instalou grades ao redor de canteiros do ponto histórico da cidade há cerca de um mês.

Entre os locais citados estão o Pateo do Collegio e debaixo do viaduto do Glicério e do Minhocão, a poucos quilômetros dali, além do entorno do Chá do Padre, núcleo de convivência para sem-teto localizado a 400 metros de distância da Prefeitura de São Paulo.

Esses endereços são tradicionalmente ocupados por moradores de rua e passaram a receber mais pessoas durante a noite desde a desocupação da praça da Sé.

A instalação dos gradis fez parte de ações de zeladoria, segundo o subprefeito da Sé, coronel Álvaro Camilo, responsável pela região central, após o marco zero da cidade ter se tornado um local de “desordem urbana”, segundo o subprefeito.

A ação da subprefeitura coincidiu com um momento de alta de casos de violência no centro de São Paulo. O 1º distrito policial, que inclui a Sé, registrou no primeiro bimestre do ano a maior quantidade de roubos da série histórica, iniciada em 2002.

Desde então, agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) impedem a montagem de barracas e permanência de sem-teto durante a noite no local. Há relatos de que os agentes também abordam pessoas sentadas na escadaria da Catedral da Sé e pedem para se retirarem.

O secretário municipal de Projetos Especiais, Alexis Vargas, afirmou que há orientação para os agentes coibirem a organização da feira de comércio ilegal que ocorria na praça, conhecida como feira do rolo, e também a montagem de barracas durante o dia, mas negou qualquer determinação em relação à permanência na escadaria e dormir na praça. “As grades foram colocadas para proteger as áreas verdes que estão sendo recuperadas”, disse.

Vargas reconheceu o aumento da população de rua nos locais citados e informou que o serviço de abordagem foi ampliado na região central.

Procurada pela Folha, a secretaria de Segurança Urbana informou que a GCM irá averiguar o caso e, se necessário, reorientará os agentes.

Há dois anos nas ruas, desde que perdeu emprego na construção civil, Luiz Henrique de Souza, 52, escolhia a praça da Sé para passar as noites com o filho de 14 anos quando não conseguia vaga em um dos abrigos municipais. Há duas semanas, a rotina de pai e filho mudou e, agora, eles caminham até uma rua no bairro de Santa Cecília quando escurece. “Lá é mais tranquilo e fico mais seguro por estar perto de um terminal de ônibus”, diz.

Antes de dormir nas calçadas, pai e filho viviam em uma ocupação na Consolação, e tiveram que se mudar porque o desemprego inviabilizou o pagamento da taxa mensal cobrada pela gestão do prédio ocupado. “Queria uma vaga fixa, mas tento há meses e não consigo”, diz Souza.

Outro sem-teto, João Luis Acosta Vieira, 26, conta que dormiu na praça da Sé por três anos até poucas semanas atrás, quando passou a estender seus cobertores no Pateo do Collegio. “Eles expulsam a gente da praça toda noite, mas onde vai ficar essa gente toda?”

É para o Pateo também que ruma todas as noites Givaldo Guimarães Porto, 52, sem-teto que deixou de ocupar a praça da Sé após a intervenção de zeladoria. “Agora, lá fica lotado toda noite. Tem barraca até na calçada no outro lado da rua”, diz.

Em missa na catedral da Sé no último dia 16, o padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto agradeceu ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) pela “eficaz intervenção” que devolveu “a praça da Sé à população de São Paulo”. A mensagem foi feita em nome do arcebispo de São Paulo, o cardeal dom Odilo Scherer, durante reza em memória dos dois anos de morte do prefeito Bruno Covas (PSDB).

Um dia após o agradecimento, a Catedral da Sé esclareceu em comunicado que o gesto foi em relação “ao fim dos assaltos” à população. “A catedral foi e sempre será um lugar de acolhida para todos, especialmente para os que vivem nas ruas. Eles não são criminosos, mas vítimas da situação de descarte social”, afirmou trecho da nota assinada pelo padre Baronto.

MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress

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