SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O nacionalista de ultradireita Sinan Ogan, terceiro colocado nas eleições da Turquia, declarou apoio ao atual presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, que tenta se manter no poder após governar pelos últimos 20 anos.
As atenções estavam voltadas a Ogan desde 14 de maio, quando eleitores foram às urnas e lhe deram 5,2% dos votos. Seu apoio é considerado decisivo para o resultado do segundo turno, que ocorre no próximo domingo (28) e será entre Erdogan e Kemal Kilicdaroglu, do Partido Republicano Popular (CHP), de centro-esquerda.
Durante anúncio formal sobre o apoio, feito em Ancara nesta segunda (22), Ogan afirmou que sua decisão foi baseada no princípio da “luta ininterrupta contra o terrorismo” e na percepção de que a campanha de Kilicdaroglu “falhou em convencer os turcos sobre o futuro”.
Com discurso xenofóbico, o ex-acadêmico de 55 anos era cobiçado pelos dois candidatos que disputam o segundo turno do pleito. Ele disputou a Presidência por uma aliança de siglas de direita liderada pelo Partido da Vitória, conhecido por sua postura anti-imigração na Turquia o maior anfitrião de refugiados da Europa. O partido deve anunciar quem vai apoiar oficialmente nesta terça-feira (23).
Até então desconhecido fora da Turquia, Ogan surpreendeu e conquistou uma porcentagem maior de votos em relação ao projetado nas pesquisas. Não foi a única surpresa do pleito: os levantamentos apontavam para uma vantagem de Kilicdaroglu, mas quem acabou na frente foi Erdogan. O atual presidente contabilizou 49,6%, enquanto seu principal adversário teve 44,8%.
Mesmo assim, esta foi a eleição mais acirrada da qual Erdogan participou. Entre 2003 e 2014, ele foi premiê, após seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) conquistar a maioria dos votos em 2002, 2007 e 2011. Em 2014, quando a eleição presidencial passou a ser por voto direto, depois de uma reforma eleitoral, Erdogan venceu no primeiro turno com quase 52% dos votos.
Em pesquisa Metropoll realizada entre os dias 9 e 10 de maio, Kilicdaroglu aparecia em vantagem no segundo turno, com 48% das intenções de voto, diante de 45% do atual presidente.
Durante as duas décadas sob o comando de Erdogan, a Turquia oscilou de um processo de abertura democrática e aproximação com o Ocidente, na expectativa de se integrar à União Europeia, para um regime autocrático que persegue opositores e manipula informações.
O líder de 69 anos dispõe de um aparato de imprensa amplamente favorável, o que também deve influenciar os resultados. No país, o mercado de mídia sofre forte influência do Estado por meio de anúncios e tem boa parte das Redações controladas por aliados do presidente, enquanto críticos costumam ser intimidados.
Assim como Erdogan, Ogan acumula declarações que atacam minorias. Em recente entrevista à agência Reuters, ele disse que seu objetivo era fortalecer os nacionalistas e remover dois partidos curdos da política turca descendentes da Pérsia antiga, o grupo étnico é hoje a maior nação apátrida do mundo, com população entre 30 e 40 milhões de pessoas vivendo em países como Irã, Iraque, Síria, Armênia e Turquia.
Assim que os resultados do primeiro turno foram divulgados, o outsider fez um novo discurso anti-imigração. “O que quero é a saída dos sírios. Todos os refugiados devem voltar para casa. Vote no candidato que coloque em prática essa política”, afirmou ele.
O tema se mostra decisivo para o próximo domingo e reforçou o discurso anti-imigração dos candidatos. Antes visto como menos competitivo que os prefeitos de Istambul e Ancara, o economista e funcionário público aposentado Kilicdaroglu não foi a escolha óbvia da aliança de seis partidos da oposição pela qual concorre.
Apelidado de Gandhi pela semelhança física com o pacifista indiano e pela personalidade discreta e conciliatória outrora considerada uma fraqueza, o político endureceu seu tom na última semana e prometeu enviar todos os migrantes de volta a seus países se eleito. No fim de semana, o pequeno Partido da Justiça deixou o bloco de Ogan e apoiou Kilicdaroglu.
O economista também prometeu reverter muitas das mudanças radicais de Erdogan, incluindo um programa econômico pouco ortodoxo para enfrentar a crise do custo de vida a economia, mais do que a resposta ao terremoto que matou mais de 35 mil pessoas em fevereiro, deve pesar na escolha dos eleitores.
Redação / Folhapress