RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Petrobras começou a oferecer ao mercado um novo cardápio de contratos de gás natural, que devem reduzir o preço do produto, usado como combustível e insumo industrial. A empresa não adianta valores, mas diz que o objetivo é tornar o gás mais competitivo para atrair clientes.
O diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da estatal, Maurício Tolmasquim, disse à reportagem que os novos contratos já estão disputando concorrências abertas por distribuidoras de gás canalizado e que pretende oferecer melhores condições também para grandes consumidores livres.
“A ideia é ganhar cliente”, afirmou, lembrando que há hoje grande oferta de gás natural por empresas privadas no país. Em sua chamada pública para novos contratos, a Comgás, por exemplo, recebeu 14 propostas.
Como estão em competição, Tolmasquim não quis informar qual é a redução de preços nos novos contratos. Até agora, a Petrobras tinha dois produtos no mercado, um com prazo de quatro anos e preço equivalente a 13,9% da cotação do petróleo Brent e um de nove anos, a 12,9% do Brent.
O novo cardápio terá cinco prazos diferentes: quatro, cinco, sete, nove e 11 anos. Também abre a possibilidade de uso da cotação do próprio gás natural nos Estados Unidos como indexador e muda pontos relacionados ao volume, com previsão de redução anual ou quando um cliente industrial deixar a rede.
“O cliente vai poder montar a estratégia de acordo com o modelo de negócios”, afirma o diretor da Petrobras. Hoje há queixas de que os contratos atuais da companhia são mais caros do que os concorrentes que chegaram para disputar o mercado, incluindo suas sócias no pré-sal.
Estados e distribuidoras de gás canalizado chegaram a ir à Justiça contra a estatal depois que a empresa lançou, em 2021, novo contrato elevando o preço de 12% para 16,75% do Brent para a renovação de cerca de 70% dos contratos de gás do país. Para renovar, as empresas tiveram que aceitar a alta de 50%.
Nesta semana, a Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia) enviou carta ao governo pedindo que o gás natural fosse incluído na revisão da política de preços dos combustíveis da Petrobras, que deixou de acompanhar a paridade de importação e passou a olhar mais para o mercado interno.
“É preciso destacar que os consumidores buscam a redução do custo do gás natural baseados nas condições do mercado em que atuam e no custo relativo de energéticos substitutos”, afirmou a associação, que representa grandes indústrias brasileiras.
Além das indústrias, o gás natural é usado em veículos e em residências e comércios no país, como combustível para cocção e aquecimento de água. No ano, com a queda da cotação do petróleo, o preço do produto vendido pela Petrobras já caiu 19%.
Egresso do setor de energia, Tolmasquim quer implantar na Petrobras contratos de gás parecidos com os que hoje são assinados entre indústrias e fornecedores de eletricidade, com maior flexibilidade e produtos adequados ao consumo de cada cliente.
O diretor da Petrobras diz que o país está prestes a viver um “novo choque de gás”, com o início da operação de três grandes projetos da estatal. Em 2024, a empresa espera concluir a chamada Rota 3, sistema de dutos e estação de tratamento que vai trazer 21 milhões de metros cúbicos por dia do pré-sal.
Depois, entre 2027 e 2028, começam a produzir os campos gigantes descobertos no litoral de Sergipe e um projeto na Bacia de Campos que a estatal tem em parceria com a norueguesa Equinor. Juntos, os três têm capacidade de cerca de 50 milhões de metros cúbicos por dia.
O volume equivale à metade da demanda brasileira atual, incluindo a geração de energia térmica -em 2022, com as térmicas operando menos, o país consumiu 69 milhões de metros cúbicos por dia.
No esforço para tentar reduzir o preço do combustível, o governo lançou em março um programa que prevê usar a produção do pré-sal que pertence à União para ampliar a oferta e propõe criar uma política de precificação de longo prazo para o gás.
“As perspectivas para o consumidor são muito boas. Com mais oferta, o Brasil passa ter contratos com possibilidades mais interessantes”, diz Tomasquim.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress