Sem Mickey, diversão na Flórida inclui Peppa Pig, Legoland e parque da Nasa

FLÓRIDA, EUA (FOLHAPRESS) – Talvez um visitante incauto pense que ir à Flórida sem passar pela Disney faz tanto sentido quanto pagar um rodízio na churrascaria e ficar só na saladinha. Mal sabe ele que há mais coisas entre o sol esturricante e a casa do Mickey do que possa imaginar nossa vã turismologia.

Coqueluche de viajantes latino-americanos, o estado convoca periodicamente influencers e jornalistas, esta que vos fala inclusa, para mostrar a fartura de opções. Algumas mais, outras menos interessantes para nós, brasileiros, que de belezas naturais estamos muito bem servidos, obrigado.

Algumas áreas verdes, por exemplo, são um desbunde, mas vamos ser honestos: ninguém aqui trocou real por dólar, uma conversão mais salgada do que as batatinhas fritas que americanos devoram sem parar, para ver algo que a terra natal tem aos montes.

A combinação natureza, parques, compras e história, contudo, é um equilíbrio interessante para quem topar um roteiro menos óbvio pela Flórida. Dica que pode servir para calouros na área, mas também para os que já foram tantas vezes à Disney e aos famosos megashoppings que perigam ganhar uma estátua local. Made by Romero Britto, artista queridinho por lá.

E ainda há espaço para uma cena gastronômica mais pulsante do que o festival de hambúrgueres e frituras, campeões regionais que rendem algumas casas a mais no cinto até o fim da viagem.

Primeira parada: espaço sideral. A uma hora de Orlando, em Merritt Island, fica o Kennedy Space Center, parque dentro do complexo da Nasa. Passeio, diga-se, com doses altas de patriotismo caseiro.

Já na abertura, às 9h, o hino nacional recepciona todos, e os americanos da fila respondem cantando com a mão sobre o peito. A trilha sonora colabora para a sensação de se estar num daqueles filmes em que os EUA salvam o mundo, seja de ETs, seja de soviéticos. Um revival de Guerra Fria.

Narrativas à parte, as atrações empolgam crianças e adultos. No departamento histórico, dá para ver foguetes de verdade, como a carcaça de Atlantis, o ônibus espacial que rodou mais de 200 milhões de quilômetros.

Não há simuladores de gravidade zero, para decepção de muita gente. Outros simuladores, no entanto, entregam a experiência imersiva, como um que encena o momento do lançamento. Parece uma cadeira massageadora operando acima da sua capacidade, somada ao telão que recria a jornada às estrelas.

Até Marcos Pontes, o “astronauta brasileiro” que deu uma volta fora da Terra em 2006 e anos depois aterrissou na Esplanada bolsonarista, aparece num vídeo institucional.

O ingresso do parque custa a partir de US$ 80,25 (R$ 394). Pingando mais US$ 50 (R$ 245), dá para bater um papo com um astronauta. Sortudos conseguirão sincronizar a visita com a chance de assistir a um lançamento para valer de foguetes, também com custo extra. Ou dá para torrar essa grana com casquinhas na Milky Way (via láctea) –convenhamos, bom nome para uma sorveteria.

Paga-se caro para levar um souvenir para casa. Um planeta de pelúcia que não faria qualquer inveja às mercadorias da paulistana 25 de Março supera os US$ 20 (R$ 98), e uma gravata com logo da Nasa chega a US$ 30 (R$ 147).

Saindo da costa e entrando no miolo o estado, há dois parques temáticos, os vizinhos Legoland e Peppa Pig Theme Park, em Winter Haven.

O segundo é mais voltado para crianças menores, com brinquedos de voltagem moderada. Quem é pai conhece os superpoderes da porquinha entusiasta de poças de lama, capaz de absorver a atenção do pequeno telespectador. Aí é só ver um funcionário vestido de Peppa e correr para o abraço. A fila é longa, e os ingressos custam a partir de US$ 39 (R$ 191).

Compridas também são as muitas partes descobertas do espaço, atingido por um furacão que atormentou a região em 2022. De lascar, o sol pede muito protetor e a adesão incondicional ao uniforme do turista: boné ou chapeuzinho. Sugestão válida para todos os passeios a céu aberto.

A alguns passos dali fica todo um universo do Lego, com montanhas-russas e outros brinquedos divertidos até para adultos. O Ninjago é um exemplo: um trenzinho que conduz por uma experiência sensorial em 3D na qual você precisa manusear uma arminha que dispara laser contra rivais ninjas. De longe parece uma performance coletiva de “Ragatanga”, a dancinha popularizada nos anos 2000 pela banda Rouge.

Para abaixar a fervura, o parque inclui um complexo aquático pago à parte, com piscina de ondas e toboáguas que riem na cara da gravidade.

A temperatura na Flórida, vale dizer, é 8 ou 80: ou se passa calor nível verão carioca ou vira picolé nos espaços internos, com ar-condicionado siberiano. Caso da Terra da Imaginação, um convite para criar mundos inteiros com os bloquinhos coloridos. Uma escultura do rosto de Albert Einstein faz as vezes de anfitriã.

A Miniland impressiona: ali estão, esculpidas a Lego e em escala imponente, réplicas de pontos turísticos que vão desde os cassinos de Las Vegas até a sede da Casa Branca.

A cada passo, uma lojinha que faz jus à máxima do brasileiro dolarizado nos EUA: “Quem converte não se diverte”. O mais mequetrefe dos regalos vai subtrair uns R$ 50 da carteira. O ingresso, aliás, custa a partir de US$ 84 (R$ 413). Quem quiser visitar o parque da Peppa no mesmo dia paga a partir de US$ 99 (R$ 486).

Essa Flórida de dias divididos entre parques e compras soa familiar? Há lugares mais fora da curva turística que valem a consideração. A Bok Tower é um deles, envolta por jardins e história. Idealizada por Edward Bok, editor de prestígio que casou com a filha do chefe e teve acesso a uma polpuda fortuna, a torre de 60 metros foi erguida num refúgio verde de 101 hectares (dois terços do Parque Ibirapuera), em Lake Wales. Sua porta reproduz trechos de Gênesis, o primeiro dos livros bíblicos.

Dentro da construção há um monumental carrilhão que, segundo Erica Smith, a diretora de marketing do espaço, pode ser usado para tocar de Mozart a Lady Gaga. O instrumento é composto por 60 sinos acionados por um teclado.

Smith conta outras curiosidades enquanto guia o passeio –ingressos custam US$ 17 (R$ 83) para adultos e US$ 5 (R$ 24) para crianças de 5 a 12 anos. Você sabia que camélias como as dali eram a flor predileta de Coco Chanel, por não exalarem fragrância? E que as plantas carnívoras ali plantadas não têm dente e lançam mão de uma substância pegajosa para devorar mosquitos?

Há outros programas para explorar a natureza, como o safári Wilderness Ranch, em Lakeland, onde é possível dar ração a búfalos ou uvas a lêmures –aquele primata que, na animação “Madagascar”, “remexe muito, muito”. A entrada custa a partir de US$ 125 (R$ 584) por veículo.

Para espíritos mais aventureiros, uma opção é fazer wakeboarding numa das lagoas. Requer destreza –boa sorte tentando ficar em pé no esqui aquático– e alguma coragem. A região abriga jacarés que costumam ter mais medo de humanos do que o vice-versa, mas vai que se cruza com um num dia empoderado?

Petiscos fritos com carne desse réptil estão no cardápio do Harborside, um dos restaurantes indicados para quem quer conhecer a gastronomia local. Mais perto da costa tem o Dixie Crossroads, inaugurado para servir o pessoal da Nasa, com camarões, caranguejos e lagostas. Já vai afrouxando o cinto.

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER / Folhapress

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